Publicado em 05/11/2015 às 15h20.

Acervo de 30 mil fotos conta história das lutas negras na Bahia

Fotógrafo baiano luta há mais de 40 anos pela preservação do arquivo fotográfico Zumvi

Juliana Dias

A fotografia talvez seja a forma que mais se associa à memória humana na sua capacidade de relembrar um acontecimento do passado. Além de provocar recordações, ela preserva memórias e histórias de um tempo que passou. Para Lázaro Roberto Ferreira dos Santos, passaram-se quase quatro décadas para que uma parte de seus registros fotográficos não fizesse parte de um tempo perdido. Ele é uma das lentes negras por trás do conjunto de 30 mil fotografias que compõe o Zumvi Acervo Fotográfico.

A falta de visibilidade do conjunto fotográfico certamente suscita no leitor a curiosidade sobre o mesmo: trata-se de uma associação sem fins lucrativos, institucionalizada na década de 1990, que reúne milhares de fotografias, majoritariamente em preto e branco, de diversas manifestações populares, comunidades quilombolas, blocos afros e afoxés, festas populares e protestos reivindicatórios de Movimentos Negros na Bahia.

Acumulado pelo fotógrafo Lázaro Roberto, o acervo foi exposto em dezenas de atividades e eventos sociais nos últimos trinta anos, porém, somente agora uma parte dele foi impresso e publicado em um catálogo de fotografias intitulado Memórias de Resistências Negras. “O livro é resultado de um grande esforço pela história e preservação de nossa luta diária e negra na Bahia” revela o fotógrafo.

Na seleção de 100 imagens que compõe a publicação, lançada no dia 28 de outubro, se vê negras e negros em momentos emblemáticos para a história do movimento racial baiano. Entre eles, o protesto de jovens na primeira Marcha da Consciência Negra em 1980, a sala cheia de rostos negros interessados e atentos à Aula Inaugural do Instituto Cultural Steve Biko, assim como se vê as palavras duras das faixas e muros que denunciam o genocídio da juventude negra no Brasil que ecoam nas ruas de Salvador desde 2004.

Doação – Além das fotografias que contam a história contemporânea da luta contra o racismo no Brasil e na Bahia pelo olhar de Lázaro, o arquivo fotográfico recebeu a significativa contribuição do educador e militante, Jônatas Conceição da Silva, que em 2006 doou 1.618 negativos de episódios ocorridos no âmbito cultural e político referentes à população negra, entre os anos de 1980 a 1993.

“Jônatas tinha essa preocupação em fotografar as ações do Movimento Negro Unificado e registrar a memória de nossas lutas. Ele deu para Lázaro esse acervo três anos antes de seu falecimento justamente para preservar a nossa história. Espero que esse catálogo seja uma série de ações para resguardar o que vivemos”, salienta Ana Célia Silva, pesquisadora e militante do movimento negro, e irmã de Jônatas.

Os interessados em percorrer visualmente a história do Movimento Negro contemporâneo na Bahia através do acervo Zumvi devem entrar em contato através do e-mail lazumvi@hotmail.com ou pelo telefone (71) 99137-7814. Já a publicação “Memórias de Resistências Negras” pode ser adquirida nos próximos lançamentos do catálogo (ainda sem datas definidas) na programação da consciência negra do Shopping da Liberdade, no Museu de Arte da Bahia e na Feira de Cultura Afro-brasileira do Iguape.

 

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