Publicado em 18/09/2019 às 19h20.

Baiana é primeira jovem brasileira a receber prêmio de empreendedorismo da ONU

Estudante Anna Luisa Beserra, de 21 anos, desenvolveu um projeto sustentável para ajudar pessoas do semiárido que não têm acesso à água potável

Bianca Rocha
Foto: Divulgação/ONU
Foto: Divulgação/ONU

 

Um sonho de criança que agora ganha o mundo. A baiana Anna Luisa Beserra desde pequena brincava de fazer experimentos com materiais de fácil acesso que encontrava pela rua. A criança sonhadora, nascida em Salvador e moradora da Cidade Baixa, no bairro da Ribeira, não desperdiçou as oportunidades que surgiram em sua vida. Hoje, aos 21 anos, a garota que sonhava em ser uma grande cientista receberá, no próximo dia 26 de setembro, o prêmio de Jovens Campeões da Terra, oferecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O bahia.ba conversou com Anna para saber mais sobre a trajetória da jovem cientista. A ideia do Aqualuz, segundo ela, surgiu ainda no Ensino Médio. “Estávamos em 2013. Vi um cartaz sobre o Prêmio Jovem Cientista e como era o Ano Internacional de Cooperação pela Água, pensei em concorrer.”, conta a jovem. Naquele ano não teve premiação, mas a jovem não desistiu fácil. “Mesmo não ganhando o prêmio, percebi o quanto o Aqualuz era importante para mim. Na escola discutíamos muito sobre as condições do semiárido do Nordeste e o pouco acesso que o povo tinha a água potável me sensibilizava e foi o que me motivou a continuar pesquisando. Eu precisava fazer algo para mudar.”, relata a estudante.

Em 2015, Anna passou no vestibular da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ingressou no curso de Biotecnologia e seguiu com o sonho. “Eu estava tão apaixonada pelo projeto que decidi aprimorá-lo. Sabia o quanto seria importante na minha vida um dia”. Na faculdade, a jovem começou a entender que o Aqualuz poderia tomar proporções maiores e passou a enxergá-lo como uma startup. A partir disso, ela mesma criou o Safe Drinking Water For All (SDW), uma startup socioambiental, que nasceu em 2015, e hoje possui o reconhecimento da ONU.

 

A biotecnologista Anna Luisa Beserra é a primeira baiana a receber o prêmio pela ONU como jovem empreendedor sustentável. | Foto: Divulgação/ONU
A biotecnologista Anna Luisa Beserra é a primeira baiana a receber o prêmio pela ONU como jovem empreendedor sustentável. | Foto: Divulgação/ONU

 

O sistema de filtragem, Aqualuz, utiliza a radiação do sol para transformar água da chuva contaminada em água potável e pronta para consumo. “Ela é a única tecnologia voltada para cisternas. A água que vem da chuva cai potável, mas quando entra em contato com a telha ou qualquer outro material fica contaminada. O Aqualuz é um equipamento que fica na saída da bomba da cisterna e funciona como um filtro para reter as partículas sólidas da água suja.”, explica Anna. O reservatório do Aqualuz tem capacidade de até 10 litros de água. Ele pode ser usado até três vezes ao dia. Após cada filtragem é esperada um tempo de até três horas para a água ficar pronta para consumo. Um adesivo indica quando a água está pronta e o usuário pode ingerir e utilizar sem medo. “O equipamento é um empreendimento totalmente sustentável. Além disso ele pode durar até 20 anos e a sua manutenção é lavagem com água e sabão, sem o uso de materiais químicos que possam agredir o meio ambiente.” garante a biotecnologista.

O Aqualuz está atende hoje mais de 265 pessoas em cinco estados do Nordeste: Bahia, Alagoas, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O objetivo da estudante é de que o sistema seja ampliado a outros países da América Latina, além de países dos continentes da África e Ásia. “Queremos levar o Aqualuz para ser implantado em outros países, lugares que enxergamos que precisa de tecnologias desse tipo. Vamos tentar parcerias, fazer um piloto e implantar em algum lugar que potencialize o nosso projeto e possa atingir o máximo de pessoas possíveis.”, contou.

A cientista ingressou em abril de 2019 no programa Academic Working Capital, do Instituto TIM, e aprimorou o projeto junto com alunos da Ufba e da Universidade Federal do Ceará. O grupo conquistou o segundo lugar no Hack Brasil, realizada em Boston, nos Estados Unidos, durante a Brazil Conference at Harvard & MIT e levou o prêmio de R$ 25 mil para investimentos na sua solução, além de treinamento da Universidade de Harvard e do MIT.

Anna está com viagem marcada para Nova York na próxima quinta-feira (19). Ela vai viajar junto com a equipe de cientistas que a ajudaram no desenvolvimento do Aqualuz nos últimos anos. O grupo ficou entre os 35 finalistas do mundo todo e concorreram na categoria América Latina e Caribe com outros quatro jovens. O prêmio será entregue em cerimônia durante a 74ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

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