Publicado em 18/04/2022 às 12h23.

Mulher relata agressões no Barradão e aponta omissão da polícia: ‘Nada foi feito’

‘Eu implorava socorro e os PMs não fizeram nada, eles só falaram ‘saia da frente’’, contou Mariana Cardoso

Jamile Amine
Foto: Maurícia da Matta/EC Vitória
Foto: Maurícia da Matta/EC Vitória

 

Uma mulher sergipana relatou no Twitter um episódio de agressão sofrido no estádio Manoel Barradas, o Barradão, em Salvador, no último sábado (16), durante a partida entre Vitória e Floresta (CE), pelo Campeonato Brasileiro Série C. Ela também apontou a omissão da polícia diante de pedidos de socorro.

“Eu, uma mulher, fui brutalmente agredida, humilhada e acuada por 5 homens uniformizados da torcida dos Imbatíveis”, denunciou Mariana Cardoso, contando que foi convidada por amigos a ver o jogo, mas que, por não ser torcedora e nem nascida na Bahia, não vestia uniforme de nenhum clube, mas sim uma totalmente preta.

“Cheguei lá e respeitei toda a torcida! Me sentei na parte superior do estádio e fiquei com meus amigos assistindo o jogo. Quando acabou o jogo (o Vitória tinha perdido) eu fiquei com meu amigos esperando a levada maior de torcedores saírem para não pegar multidão. Nesse momento eu tava rindo com amigos de uma mensagem que havíamos recebido! Pronto, esse foi meu erro, rir com meus amigos. Quando eu menos esperei, 5 homens me encurralaram e começaram a me fazer um monte de perguntas, começaram a deduzir que por eu estar rindo eu era torcedora do Bahia, nesse momento eles me empurraram e me afastaram dos meus amigos e começaram as ofensas e agressões. Colocaram o dedo na minha cara e me deram tapas no rosto”, lembrou Mariana.

Ela conta que ficou desesperada e que seus amigos não conseguiram lhe defender, pois estava encurralada pelos integrantes da torcida organizada. “Foi nesse momento que para sobreviver eu gritei para chamarem a polícia e simplesmente ninguém além dos meus amigos fizeram nada. Todos estavam vendo uma mulher ser agredida e nem fez nada”, relatou a mulher, indignada.

Segundo ela, no meio da confusão acabou conseguindo pegar seu telefone celular e discar 190. “A bombeira no telefone tentava entender e me acalmar e eu só gritava que precisava de uma viatura. Nesse momento os meus agressores ficaram com medo da polícia e saíram correndo. Eu ainda no telefone fui correndo até os policiais, pois pensei que estaria segura”, contou Marina, segundo a qual, no trajeto até os policiais foi alvo dos torcedores, que jogaram líquidos e copos contra ela.

Ao se aproximar da polícia, Mariana disse que foi ignorada pelos agentes. “Eu implorava socorro e os PMs não fizeram nada, eles só falaram ‘saia da frente’”, relatou a vítima. “Nesse momento eu achei uma PM mulher no meio e me agarrei a ela e disse ‘me ajude, eles vão me quebrar na porrada’. Sim eu tinha sido ameaçada pelos meus agressores que no momento que eu saísse do estádio eu ia apanhar. Ela viu meu desespero e me abraçou e levou até a base da polícia”, contou a sergipana.

A mulher disse ainda ter deixado o local de maneira vexatória. “Eu saí da arquibancada vaiada e humilhada, como se eu fosse um bicho, uma criminosa. Enquanto isso meus agressores estavam me olhando e rindo. Eu pedia para os policiais irem atrás deles e nada foi feito! Cheguei na base da polícia tendo uma crise de ansiedade crônica, sem conseguir respirar. Depois de tomar um pouco de água e mesmo em crise, nenhum policial fez nada, só falaram que eu tinha que ir para casa pois não tinha como saber quem fez aquilo. Como não? Sendo que eu tinha apontado os meus agressores e ninguém fez nada”, relatou.

Sem conseguir ajuda da PM, Mariana Cardoso contou que decidiu se dirigir à unidade da Polícia Civil, localizada no Barradão. “Eu sabia que se eu saísse de lá sem ter escolta eu iria apanhar mais. Mas lá eu tive mais uma decepção. Os delegados riram de mim e me mandaram ir pra casa porque tinha coisa mais importante para fazer”, contou a mulher, que acabou indo para casa apenas com a ajuda dos amigos.

“O que eu consegui retirar de disso tudo foi que uma mulher sendo agredida nesse país ainda continua sendo algo “comum”! Se nem a polícia se importa, quem dirá os outros. Quero saber se o Vitória compactua com agressão contra mulher no estádio deles”, questionou Mariana, que disse que não ficará calada e vai buscar justiça.

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