Publicado em 25/10/2025 às 19h32.

Salvador ‘em efervescência’ é destaque no guia do New York Times

Jornalista esteve na capital baiana em junho e produziu um roteiro detalhado, com indicações de chef, artistas e músico 

Raquel Franco
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

 

A capital baiana está novamente no radar internacional. O renomado jornal americano The New York Times publicou, nesta sexta-feira (24), uma reportagem de destaque descrevendo Salvador como “a cidade brasileira onde as festas se estendem do penhasco até o mar”. O jornalista Michael Snyder, editor colaborador da T Magazine, esteve na cidade em junho e produziu um guia detalhado exaltando a vitalidade cultural, a profunda herança afro-brasileira e a forma única de celebrar a vida na capital.

Snyder descreve Salvador como um destino que vive um momento de “efervescência”, impulsionado pela abertura de novas galerias, hotéis de luxo – um atrativo crescente para viajantes do Sudeste do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro – e experiências culturais. No entanto, o artista e designer Daniel Jorge, um dos entrevistados, fez a ressalva de que a cidade “nunca deixou de pulsar”, classificando a ideia de “emergente” como um “reconhecimento tardio” das contribuições de Salvador para a cultura brasileira.

O coração afro-brasileiro do Brasil

O guia do New York Times reforça o peso histórico da primeira capital do Brasil, fundada em 1549, e sua identidade forjada pela fé, música e culinária afrodescendente. O texto sublinha que Salvador, que foi o principal centro do tráfico negreiro no país, é hoje a metrópole mais negra fora da África, com mais de 80% de seus 2,42 milhões de habitantes com ascendência africana.

O jornalista destaca a importância cultural de Salvador e da Bahia para a história do Brasil, citando luminares como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Amado e Glauber Rocha. Para a artista Nádia Taquary, outro nome que indicou pontos da cidade, a marca de Salvador é “indelével” naqueles que lá formaram sua identidade criativa: “Salvador está tão viva em mim que, mesmo quando eu estava longe, eu ainda estava aqui. Este lugar me acompanha em todos os lugares”.

Roteiro de quem vive a cidade

O guia de Snyder foi construído com base nas indicações de quatro personalidades locais:

– A chef e fotógrafa Angeluci Figueiredo, que comanda quatro restaurantes na capital e na Ilha dos Frades;

– O artista e designer Daniel Jorge;

– O músico, linguista e professor Tiganá Santana;

– A pintora e escultora Nádia Taquary.

Entre as recomendações de hospedagem, o roteiro sugere a Pousada do Boqueirão, no Santo Antônio Além do Carmo, elogiada por seu ambiente e vista, e o luxuoso Hotel Fasano Salvador, no coração da cidade. Daniel Jorge ainda indica a Casa Recôncavo, que ele ajudou a projetar, concebida para ser uma residência artística.

Na gastronomia, o jornal aponta locais que vão do popular ao sofisticado, valorizando a culinária baiana:

Recanto da Tia Maria, na Pedra Furada, um local “humilde” com comida “exquisita”, gerenciado por mulheres da família da “anciã comunitária” e chef;

Dona Mariquita Casa de Veraneio, que serve pratos tradicionais de toda a Bahia, incluindo pratos como a maniçoba;

– O bar Purgatório e o A Borracharia, um antigo local de reparo de carros que virou café e casa de shows;

Axego, no Pelourinho, famoso pela moqueca de ostra;

Casa de Tereza, com atmosfera mais elegante, também pela moqueca;

Point da Codorna, no mercado do Dois de Julho, pelo tradicional malassado e cerveja gelada;

Restaurante Beira Mar, no Mercado de São Joaquim, conhecido por Dona Regina e suas 180 variedades de cachaças medicinais;

Café & Câmera, dentro da Igreja da Ordem Terceira do Carmo.

Para as compras, os destaques são a Tempo Arte Popular, que reúne obras de pequenos artistas de todo o Nordeste, a boutique Katuka Africanidades, com vestimentas, máscaras e joias africanas e afro-diaspóricas produzidas na Bahia, e os ferreiros da Ladeira da Conceição, que produzem os símbolos sagrados do Candomblé, mantendo uma tradição ancestral. O guia sugere ainda itens como o boi bilha (jarra de água em formato de boi) e o dendê de cor escura e cheiro floral, que podem ser encontrados no Mercado de São Joaquim ou no Mercado do Rio Vermelho (Ceasinha).

Na agenda cultural, a reportagem cita a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, pelas missas afro-brasileiras com tambores e cânticos, e eventos como o Samba da Feira, aos domingos, no Mercado de São Joaquim, e a JAM no MAM (sessão de jazz no Museu de Arte Moderna). Para o lazer, a dica é alugar um barco e visitar a Baía de Todos os Santos, explorando as ilhas e praias como a Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, na Ilha dos Frades.

Para o New York Times, Salvador é, em última análise, mais do que um destino turístico: é um símbolo vivo da diversidade, criatividade e espiritualidade brasileiras, onde as tradições ancestrais seguem moldando o presente.

Raquel Franco
Natural de Brasília, formou-se em produção em comunicação e cultura e em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Também é fotógrafa formada pelo Labfoto. Foi trainee de jornalismo ambiental na Folha de S.Paulo.

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