Segurança pública, fuzuês e furdunços – já é carnaval na cidade
A pretensão da prefeitura em ampliar a oferta de carnavais nos bairros, para além dos objetivos políticos e eleitorais, pode contribuir para a redução da violência nos circuitos tradicionais
Quem mora ou vive em Salvador, sabe que, em ano de eleições, a política nesta terra tem agenda definida. Assim, com o governador Rui Costa buscando viabilizar uma candidatura da sua base que possa enfrentar o prefeito ACM Neto na disputa pela prefeitura da nossa capital, é natural que temáticas relacionadas à vida soteropolitana tenham gerado contendas políticas.
Nessa lógica, um evento que foi eleito pelo Guinness Book como o maior carnaval de rua do mundo não poderia ficar de fora das respectivas estratégias eleitorais, com os recursos a serem aplicados na festa também se tornando alvos de disputa, levando governador e prefeito a trocarem farpas e acusações, sempre secundados pelos respectivos aliados que, através das redes sociais, intervieram em defesa de um e outro.
Foram várias as polêmicas, mas, inegavelmente a de maior repercussão foi a negativa de Rui Costa em garantir os recursos necessários, em termos de segurança pública, para dar suporte a um carnaval ampliado para 13 dias e que se estenderia para mais três bairros, além dos já contemplados com a folia: São Caetano, Pau da Lima e Nordeste de Amaralina.
Queiramos ou não, contrariando os aliados e simpatizantes mais radicais de ambos, nenhuma simplificação para qualquer um dos lados pode esclarecer a questão. Afinal, o carnaval de Salvador se constitui em um autêntico desafio ao policiamento que não se traduz apenas na ideia de controlar a multidão nas ruas e avenidas que formam o território do Reino de Momo.
Nesse sentido, mesmo abstraídas as questões de bastidores das disputas para as eleições municipais de Salvador, no policiamento do carnaval há muitos aspectos a serem examinados. Se o governo do estado não deixa de ter razão, ao alegar a inexistência de efetivo policial suficiente para cobertura do evento ampliado, é necessário não estreitar os limites da discussão e incluir entre as variáveis que geraram a polêmica, efetivamente, a produção do bem segurança na festa tratada nas suas vertentes “safety” e “security”.

Security x safety – Historicamente, no carnaval de Salvador, a vertente “security”, proteção à integridade física e ao patrimônio contra atos deliberados de agressão, tem prioridade sobre a “safety”, que leva em consideração tópicos como a densidade máxima no movimento da massa dentro do circuito da festa, chamando a atenção para a necessidade de se pensar seriamente na implementação de estratégias destinadas a minimizar o crescente incremento à presença de foliões, nos circuitos tradicionais da folia momesca, ante o risco de saturação demográfica.
Nessa ótica, analisando a festa sob uma perspectiva físico-ambiental, é forçoso reconhecer que o duelo entre a prefeitura de Salvador e o governo do estado ganha novos contornos, pois a pretensão da prefeitura municipal em ampliar gradativamente a oferta de carnavais nos bairros, para além dos objetivos políticos e eleitorais, pode ter impacto positivo na redução da violência e da criminalidade nos circuitos tradicionais.
Interesses políticos à parte, levando-se em consideração a dinâmica da massa de foliões nos circuitos tradicionais, seja no aspecto da sua movimentação ou do fluxo de entrada e saída, seja em relação a sua densidade, número de pessoas por metro quadrado, no decorrer da festa, a proposta de utilização de um modelo de crescente descentralização, já em uso noutras capitais, para que o folião possa brincar nos bairros populares, ganha novos contornos em termos de perspectivas de futuro para o carnaval soteropolitano.
A história de uma divergência política pode ser contada de várias maneiras diferentes. Na verdade, quanto mais diversificada for a maneira de contar a história, mais completa será a sua versão final. Difícil, pois, tirar uma conclusão, mas o certo é que, pelo sim e pelo não, a maior festa popular do país está prestes a começar e o governador e o prefeito, através de suas equipes técnicas, trataram de se acertar para garantir a segurança dos súditos de Momo, fazendo os cortes necessários para ajustar o tamanho da festa ao orçamento.
Na Bahia, não há carnaval sem fuzuês e furdunços e, de olho no bônus político na folia momesca, nenhum dos lados quer assumir o ônus dos reflexos que uma festa mal organizada poderá ter nas eleições, pois, como alerta o professor Paulo Miguez, pesquisador em Cultura, doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea (UFBA): “A relação entre política e carnaval é tanta que, em uma cidade como Salvador, um governador ou um prefeito que não saibam fazer a festa podem pagar um preço elevado.
Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
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