Publicado em 11/11/2024 às 13h40.

Violência na capital afetou circulação de ônibus ao menos 85 vezes em 1 ano, aponta estudo

Levantamento mostra que 30 bairros foram diretamente impactados, a maioria deles com predominância de população negra

Alexandre Santos
Foto: Reprodução/Redes sociais

 

Conflitos entre facções e operações policiais resultaram em 85 episódios de interrupção total ou parcial da circulação de ônibus em Salvador, entre os dias 4 de agosto de 2023 e 15 de agosto de 2024. O número equivale a 316 horas sem serviço de transporte público —uma média de 13 dias sem mobilidade urbana.

No período, 30 bairros foram diretamente impactados, a maioria deles com predominância de população negra. Em Mussurunga, moradores enfrentaram 14 dias sem ônibus, 7 destes seguido — a interrupção mais longa verificada.

Os dados constam do estudo “Catraca Racial: o impacto da segurança pública na mobilidade urbana da capital da Bahia”, levantamento inédito que evidencia desigualdades e os efeitos das interrupções no direito à mobilidade da população mais vulnerabilizada da capital. A pesquisa inclui informações compiladas pelo Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador e pelo Instituto Fogo Cruzado e as comparou com os registros disponibilizados pela Prefeitura de Salvador, por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) e pelo Sindicato dos Rodoviários da Bahia.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e aguarda um posicionamento.

No período analisado, ao menos 19 das interrupções estavam associadas a ações policiais, 57 não tiveram suas circunstâncias esclarecidas e 9 sem relação a presença das forças de segurança.

Se consideradas apenas as datas de interrupção, o levantamento aponta 69 dias com interrupções do transporte público em horários alternados devido casos de ocorrência de segurança pública.

Os bairros mais impactados

Mussurunga 14 vezes
Fazenda Coutos e Valéria 8 vezes cada
Pernambués 6 vezes
Águas Claras 5 vezes
Nordeste de Amaralina e
Engenho Velho da Federação 4 vezes cada
Beiru/Tancredo Neves e Mirantes de Periperi
3 vezes cada
Boa Vista de São Caetano,
Santa Cruz, Santa Mônica,
Narandiba, Pirajá, Engomadeira e IAPI 2 vezes cada
Alto das Pombas, Fazenda Grande do
Retiro, São Caetano, Conjunto Pirajá,
Paripe, Periperi, Capelinha, Castelo
Branco, São João do Cabrito/Plataforma, Barragem de
Ipitanga, San Martin, Ilha Amarela,
Jardim Nova Esperança, Barreiras,
Cajazeiras e Arenoso 1 vez cada

“A população negra e periférica de Salvador hoje sofre até para permanecer em suas comunidades, devido aos conflitos recorrentes produzidos por um modelo violento de segurança pública. Mas também sofre se precisa deixar a sua moradia para acessar direitos em outras áreas da cidade. Se não há mobilidade urbana, compromete-se o direito à saúde, educação, renda, lazer. É como se o Estado construísse uma catraca racial não visível a todos os olhos, mas que define quem, quando e pra onde pode se mover na cidade de Salvador”, diz Dudu Ribeiro, historiador e diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas e um dos responsáveis pelo levantamento

Questionada pelos autores do estudo sobre qual é o protocolo adotado para decidir em meio a situações de violência, a gestão Bruno Reis (União Brasil) respondeu: “Quando há ameaça iminente de vandalismo, queimas de ônibus que comprometam a segurança de passageiros e de operadores do
sistema por parte das facções criminosas ou qualquer tipo de manifestação nas localidades da cidade de Salvador, a Cofat (Coordenadoria de Fiscalização e Administração de Transporte), acompanha e autoriza a suspensão do atendimento do transporte público via solicitação por parte das empresas empresas de ônibus e e do Sindicato dos Rodoviários, do sistema Integra, nas localidades afetadas,retomando logo que exista por meio dos entes da segurança pública validação e certeza de retorno da normalidade da operação.”

A prefeitura diz ter um plano com a ideia de tentar garantir a prestação do serviço nas áreas afetadas pela violência urbana. “Existe uma minuta de criação do comitê de crise, sugerida pela Cofat, já encaminhada para DITe Gabinete (GAB) desta Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), sugerindo a participação de
representantes de Semob, Integra, Sindicatodos Rodoviários e Secretaria de Segurança Pública (Polícia Militar e Polícia Civil), “explicou em nota.

 

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