Crianças e adolescentes pobres estão obesos e desnutridos, aponta estudo
Baixa estatura dos indivíduos foi o principal indício de desnutrição crônica investigado na pesquisa

Ao contrário do que muitos pensam, a desnutrição e a obesidade não são problemas antagônicos. Elas estão relacionadas e afetam, simultaneamente, a saúde de crianças e adolescentes em condições socioeconômicas menos favorecidas. Um estudo, recém-publicado na última edição da revista PLOS One, encontrou a presença das duas condições especialmente em estudantes de escola pública.
A investigação, realizada por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), é a primeira no Brasil que observa fatores socioeconômicos associados à desnutrição e obesidade.
De acordo com a pesquisa, a dupla carga de má nutrição, quando a desnutrição e a obesidade se apresentam ao mesmo tempo, afeta uma parcela pequena dos estudantes – menos de 1%. Entretanto, a condição demonstra que nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas de vida vem acompanhada de maior qualidade nutricional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a desnutrição é a maior ameaça ao sistema de saúde público mundial, com 178 milhões de crianças desnutridas no mundo.
Baixa estatura
De acordo com o estudo das instituições baianas, houve aumento de sobrepeso entre crianças e adolescentes de todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a desnutrição, revelada pela baixa estatura. O tamanho dos indivíduos foi o principal indício de desnutrição crônica investigado na pesquisa.
A nutricionista Júlia Uzêda, especialista em Epidemiologia Nutricional e Políticas Públicas e pesquisadora do estudo, explica que para definir a baixa estatura foi utilizado o indicador Altura para Idade (A/I) em escore-z. Os escolares que tiveram escore z <-2 foram considerados com baixa estatura para idade. Por exemplo, um adolescente de 13 anos com altura menor a 1,40 m pode apresentar déficit estatural.
No entanto, a nutricionista alerta que isso não é um valor exato e, sim, uma média. “Não necessariamente adolescentes com estatura inferior a esse valor tem déficit de altura”, pondera.
Conforme informações do Médicos Sem Fronteiras, se as deficiências nutricionais persistirem, as crianças param de crescer e tornam-se atrofiadas, o que faz com que tenham baixa estatura para sua idade. Esse quadro é diagnosticado como desnutrição crônica. De acordo com o MSF, estima-se que apenas 3% das 20 milhões de crianças com desnutrição aguda grave recebam o tratamento necessário para salvar suas vidas.
Fatores
Perguntada sobre os fatores que provocam a dupla carga – baixa estatura e obesidade -, Júlia Uzêda explicou ao bahia.ba que a desnutrição ainda no período da gravidez pode provocar problemas que aparecem futuramente na vida da criança ou adolescente.
“A criança passa por uma privação alimentar que acarreta no déficit de nutrientes. Posteriormente, isso pode causar uma deficiência de absorção de gordura, e, consequentemente, no excesso de peso”, detalha.
De acordo com a pesquisadora, a criança pode desenvolver o fenótipo econômico. Uma vez que o corpo do recém-nascido “percebe” que não tem nutrição suficiente, ele absorve mais nutrientes, causando um desequilíbrio no metabolismo que, eventualmente, leva ao sobrepeso.
Foi observada também uma associação entre a má nutrição e a escolaridade da mãe dos estudantes. Os filhos de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.
A nutricionista ressalta que “existem fatores que não foram analisados nesse estudo, como o consumo alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos”. No entanto, de acordo com ela, as informações encontradas já podem servir para que políticas públicas sejam destinadas à qualidade da nutrição de crianças e adolescentes.

Perfil dos indivíduos
Para fazer o trabalho, os pesquisadores utilizaram dados da primeira (2009) e da mais recente (2015) edições da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), inquérito que investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. O grupo comparou os índices nutricionais de estudantes de 11 a 19 anos, em 2009, e de 13 a 17 anos, em 2015, separando entre aqueles que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as duas condições.
Em 2009, responderam ao Pense 31.823 meninas e 27.814 meninos. Já em 2015, o Pense trouxe 5.317 meninas e 5.453 meninos. No primeiro momento, 140 garotas (0,5%), apresentavam tanto sobrepeso quanto desnutrição, entre os meninos essa taxa foi de 0,3% (74 indivíduos). Ainda em 2009, essa simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%) contra 185 do público (0,4%), de forma indistinta do sexo. Isto é, a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública.
Em 2015, a taxa de dupla carga aumentou entre os estudantes de escola privada enquanto a de escola pública continuou estável – foram encontrados 7 alunos da rede privada (0,3%) e 30 da rede pública (0,4%) com essa condição. Em relação ao sexo, as meninas ainda são maioria: 0,4% (20) apresentaram a condição contra 0,3% (17) do sexo masculino.
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