Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
Evoé, Polícia Militar – a expertise de policiar o carnaval
É preciso muito planejamento e cuidado na implementação e execução visando garantir a segurança em uma festa que congrega cerca de dois milhões de foliões por dia

Acabou o carnaval e, mais uma vez, segundo o balanço divulgado pelo governo do Estado, a folia momesca na nossa capital apresentou índices satisfatórios em relação ao quesito de segurança, com as forças policiais dando a prova de que talvez seja a única polícia no mundo com a expertise necessária para policiar um megaevento que, para aqueles que acreditam na famosa “lei de Murphy”, não poderia ser realizado, posto que congrega todas as variáveis possíveis para dar errado.
De fato, é preciso muito planejamento e cuidado na sua implementação e execução visando garantir a segurança em uma festa que congrega cerca de dois milhões de foliões por dia, durante oito dias e sete noites, nos três circuitos do Carnaval de Salvador – Dodô, Osmar e Batatinha -, além de outros eventos em bairros e em cidades de grande porte do interior da Bahia. Nesse sentido, podemos afirmar que nem sempre foi assim, pois, a evolução da forma de atuação da Polícia Militar, no que se refere aos modos e modelos de policiar, se confunde com a própria história da festa que percorreu uma enorme trilha evolutiva até vir a se tornar a maior manifestação artístico-cultural de nossa terra.
Nessa lógica, basta ser um bom folião, daqueles acostumados, ano a ano, a tomar os seus pileques de ilusão no Carnaval de Salvador, como diria Carlos Drummond de Andrade, para poder constatar como os padrões de policiamento ostensivo, coerentemente com a lógica de que “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, passaram por constantes modificações até o desenvolvimento de um modelo perfeitamente adequado e dimensionado para o Reino de Momo, ainda que prioritariamente voltado para o atendimento dos interesses midiáticos e mercadológicos, sem o compromisso de se buscar sempre melhor atender aos anseios dos cidadãos denominados foliões pipoca.
Quando chega a quarta-feira, tudo volta ao normal…
Não se pode, todavia, culpar a Polícia Militar pela ocupação do espaço público – espaço que é de todos em sua diversidade – pelo crescimento dos ambientes privados, pois, em que pesem todas as insistências e discursos sobre a necessidade de resgatá-lo para os foliões pipoca, o que parece evidente é que um novo conceito de público já está em vigor, na medida em que novos espaços privados, semiprivados ou semipúblicos parecem haver assumido a antiga função dos blocos de corda no carnaval. Ocupando parte das ruas, praças e avenidas, mas abertos, em tese, de maneira irrestrita a quem possa pagar pelo acesso, esses espaços, são atualmente o palco de grandes eventos paralelos nos circuitos da folia.
É natural que o Rei Momo, ao receber as chaves da cidade das mãos hospitaleiras e diplomáticas do prefeito da capital e do governador do Estado, monarca cioso que é, requisite para o seu reino territórios seguros, garantidos pela quantidade e qualidade dos policiais em serviço, já que a segurança é um dos principais fatores que influenciam as decisões dos cidadãos nacionais e estrangeiros que desejam se tornar seus súditos, optando por investir tempo e capital para passar o carnaval aqui em Soterópolis, pois, como nos informa Claudio Carvalho, ao longo do tempo, a senha de acesso à festa passou a ser a capacidade de pagar do cidadão, maneira civilizada de definir diferenças e os lugares de acordo com a “importância” das pessoas.
Nos circuitos do carnaval, cenário típico de uma visão baumaniana, posto que integrados por “guetos voluntários”, frequentados por aqueles que, podendo pagar, optam por pular, dançar, beber, fumar e cheirar (lança-perfume, no melhor estilo nostálgico, é claro) ao som dos seus artistas preferidos e com coreografias e vestimentas padronizadas para melhor garantir o espetáculo, e por “guetos reais”, reservados àqueles que, insistentemente, teimam em se divertir, espremidos entre os açoites projetantes das cordas dos blocos e trios e as decoradas e coloridas muralhas dos camarotes, com certeza, não é fácil garantir a segurança necessária para que a festa ocorra de maneira tranquila.
Não é difícil entender-se o porquê de antes, durante e depois do carnaval a estrutura de segurança pública, como um todo, e em especial a Polícia Militar, preocupe-se em avaliar cuidadosamente a dinâmica da festa e, mais ainda, em atender às demandas do ambiente, criando níveis de diferenciação e integração adequados a essas demandas, inclusive redes com atores do setor produtivo, em prol da produção do bem segurança.
Não é à toa que, ao refletirmos sobre o papel da polícia no Carnaval de Salvador, inevitável sejamos levados a recordar de Dominique Monjardet quando, em sua obra “O que faz a polícia”, nos ensina que a esta incumbe tratar de problemas humanos, quando sua solução necessita ou possa necessitar do emprego da força e, na medida em que isso ocorra, no lugar e no momento em que tais problemas surgem, pois é exatamente isto que se observa no contexto da festa.
Nem toda unanimidade é burra. Não é burrice que até os críticos mais ácidos da corporação policial militar concordem que os profissionais de segurança pública baianos aprenderam a interagir e a intervir, atuando de forma firme e resoluta nos mais distintos espaços e territórios do reino de Momo, onde, como diz Roberto DaMatta, todos estão separados, mas juntos, exercendo sua autoridade dentro das prerrogativas que lhes confere o poder de polícia, ao ponto da expertise desenvolvida ao longo de mais de 68 anos de atuação no carnaval trieletrizado resultar em soluções, em termos de policiamento de eventos de massa, que se tornaram referência para outras instituições policiais no Brasil e no mundo.
Evoé, Momo! Acabou o carnaval, deixando mais uma vez, registrado que, em busca do caminho mais curto para garantir a sensação de “bem-estar” aos súditos do Rei Momo na cidade do carnaval, o governo do Estado da Bahia não poupa esforços nem sacrifícios para fazer o melhor policiamento possível, no reino da folia.
Evoé, Polícia Militar! Acabou o carnaval! “Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade”. E, assim, nas palavras proféticas de Cecilia Meireles, fica a fantasia de sonhar com o dia em que toda essa expertise de policiar a cidade do carnaval possa se estender à cidade real, pois quando chega a quarta-feira, tudo volta ao normal…
Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
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