Aposta do verão, com Cracudo, Tierry faz revelação sobre novo CD: Me custou R$ 1.500
"Acho que fui "burro" por muito tempo por achar que eu poderia impor para as pessoas o que elas deveriam ouvir", contou o artista em entrevista ao bahia.ba
Sofrência. so-frên-cia. sf. 1. estado melancólico da alma, que traz muita tristeza e que faz homem chorar, geralmente depois de escutar Pablo, Tayrone, Marília Mendonça ou Tierry.
O diagnóstico da sofrência é feito de forma rápida: procure um cabra sentado sozinho em uma mesa de bar, com uma mão segurando um copo de cerveja e a outra na cabeça.
Se em algum momento o dito cujo deixar as lágrimas rolar, colocar a mão no peito e cantar de olho fechado a canção que estiver tocando na rádio, pode ter certeza, aquele homem foi diagnosticado com sofrência.
Se a música em questão for a música ‘Cracudo’, do cantor Tierry, é caso de sofrência crônica, e a cura pode ser feita com o remédio ‘SUPERA’, de Marília Mendonça.
“Cracudo é uma nomenclatura que eu criei, eu falo para todo mundo que usuário de crack é craqueiro, vocês podem por no Google. Cracudo é outra coisa, são pessoas que são viciadas em quem não lhes dão atenção”, brinca o cantor Tierry.
Nascido em Salvador e criado no interior da Bahia, Tierry é um dos grandes nomes da composição na atualidade, e em 2020 sai dos “bastidores da canção” para tomar os holofotes, com o lançamento do disco ‘Acertou na Mosca’, que traz 15 canções autorais.
Compositor de alguns dos principais hinos da sofrência, gênero que ganhou o Brasil nos últimos 4 anos, como ‘Não Vou Mais Atrás de Você’ (Simone e Simara e Wesley Safadão), ‘Duvido Você Não Tomar Uma (Simone e Simaria) e ‘O Choro É Livre’ (Tayrone), o baiano tem nas mãos e na ponta da língua daqueles que amam sofrer no canto, vide sua participação no Festival Virada Salvador, a música que promete ser um dos hits do verão de 2020.
Em entrevista ao bahia.ba, o artista falou um pouco do sucesso do novo projeto e dos planos para o futuro. Confira:
bahia.ba: A canção ‘Cracudo’ é sua aposta para o verão 2020. Como surgiu a ideia da música e por que ela foi a escolhida para representar esse novo ciclo?
Tierry: Quem escolheu a música foi o povo. Eu lancei o disco chamado ‘Acertou na Mosca’, que é o nome da música que tem a participação do Gusttavo Lima. E num disco que tem a participação de um artista que é o maior do país em números a tendência é que a música seja trabalhada. Mas foi uma grata surpresa. Não só a ‘Cracurdo’, como o disco inteiro veio a ser um grande sucesso. Tanto que nos meus shows agora eu canto o disco inteiro, são 15 faixas autorais. E eu estou ouvindo o pessoal dizer que pode ser música do Carnaval, é como diz Ronaldinho: ‘Estão deixando a gente sonhar'” (risos).
bahia.ba: Em uma semana de lançado o clipe já está quase com 1 milhão de visualizações e o CD é um dos mais baixados nas plataformas digitais. Como você se sente com essa repercussão?
Tierry: Toda a história desse CD é muito surreal. Eu gravei o disco na minha área gourmet e coloquei a voz no quarto do meu produtor musical. Ele me custou R$ 1.500, e ver o sucesso é uma coisa mágica. Eu lembro que já cheguei a investir muito em músicas sem saber o que eu povo achava, o que eles queriam. Acho que fui “burro” por muito tempo, por achar que eu poderia impor para as pessoas o que elas deveriam ouvir.
Eu mergulhei muito nesse mercado sertanejo, que é um mercado muito grande e muito rico, no qual eles realmente impõem, radiofonicamente falando. Hoje o sertanejo é a música número 1 no país. Só que no meu caso, eu, como vim do Nordeste, tive que pedir essa benção às pessoas, e tudo foi muito orgânico. Com dois dias a música já estava tocando na esquina da rua, nos bares. Minha vida de repente mudou, de uma hora para outra, a ficha ainda não caiu.
bahia.ba: Para você, o que justifica o sucesso do estilo “sofrência”?
Tierry: Acredito que é a comunicação direta com o povo. O modo de falar, as pessoas se identificam com o que tá sendo cantado e se veem nas músicas. Mete o dedo na ferida, a partir do momento que eu falo que uma profissional do amor se apaixonou pelo cliente e não quis cobrar o cachê (Música Tiffany). Isso é muito uma verdade das pessoas, acontece muito.
bahia.ba: Você acabou de lançar o ‘Acertou na Musca’, e pouco tempo depois, subiu no palco do Festival Virada para cantar algumas das suas composições ao lado de Luan Santana. Como você descreve esse momento?
Tierry: Foi a primeira vez que eu cantei no palco com Luan. Ele é um queridíssimo, um grande amigo, mas a gente nunca tinha cantado junto. E me chamar para cantar para o público da cidade que eu nasci, para aquela multidão, foi maravilhoso. Ele cantou ‘Hackearam-me’ comigo, e eu tive a oportunidade de saber como estava sendo a recepção das pessoas. Foi a primeira vez que eu cantei a Cracudo no palco, e aquela resposta instantânea foi incrível. No dia seguinte, o Gusttavo ainda cantou ‘Cracudo’ e ‘Acertou na Mosca’. Isso que aconteceu comigo é muito difícil. Eu trabalho todos os dias com artistas novos e artistas de sucesso, que tentam de novo acertar. Mas eu sou muito grato a Deus, que nos abençoou, botou a mão, e eu tô muito feliz.
bahia.ba: Como em Salvador a cena musical respira Carnaval, principalmente no início do ano, o que você acha essencial em uma canção para transforma-lá em ‘Música do Carnaval’?
Tierry: A Bahia é muito forte. Com sua musicalidade, sempre ditou hits. Acho que nós dividimos muito o espaço com Goiânia, pelo sertanejo, e com o Rio, pelo Funk. Agora tem Recife também com o Bregafunk, então é uma combinação de fatores. Eu não conheço nenhum hit que seja unânime. Os últimos grandes sucessos do país tiveram essa discussão, como ‘Metralhadora da Vingadora’; o próprio ‘Lepo Lepo’; ‘Abaixa Que É Tiro’, do Parangolé. Todo grande hit tem essa divisão de opiniões. E Cracudo não é diferente. Mas ganhar o Carnaval da Bahia é saber que a música vai para outros lugares do país. Eu mesmo fico muito feliz de saber que a minha música está sendo cotada para ser uma das canções do Carnaval. E saber também que eu fiz uma música para uma artista, que na minha concepção é uma das mais importantes do país, a minha amiga Ivete Sangalo (a música O Mundo Vai)… Tem música com Claudia Leitte e Zaac. É uma alegria muito grande.
bahia.ba: Muito se fala sobre a poluição musical, no sentido de músicas que reproduzem machismo e violência contra a mulher. Essa é uma preocupação sua na hora de compor?
Tierry: É uma preocupação minha muito grande. A gente não pode difamar a imagem da mulher. Tem uma frase que Dorgival Dantas fala, tá até estampado no ônibus dele, que é “Se para fazer sucesso eu tiver que falar palavrões ou mal de alguma mulher em minhas canções, prefiro pendurar minha sanfona, deixar de tocar e cantar”. Eu penso da mesma forma. Eu aprendi com Gigi, baixista da Ivete, que existem várias formas de dizer eu te amo. Um exemplo no meu CD é Tiffany. Eu faço muitas homenagens a esse público, que é sofrido, e as pessoas costumam criticar muito, que são as garotas de programa, justamente por elas viverem a margem da sociedade. Então eu me preocupo muito em não passar para as pessoas uma imagem da mulher desvalorizada. Minhas músicas também não têm baixaria, não falam mal de mulher. Um dos motivos de eu ter que sair da swingueira, do pagodão, foi isso. É claro que tem muitas músicas legais de dança e divertimento, mas a maioria das músicas começam a falar mal da mulher. Então eu achei que não seria mais para mim.
bahia.ba: Já teve alguma canção que você pensou: ‘essa daqui vai estourar’, e acabou não fazendo tanto sucesso assim?
Tierry: Um exemplo para mim é o disco do Luan, o novo. Eu fiz ‘Choque Térmico’, aos 45 do segundo tempo, na área gourmet da casa dele. Área gourmet me da inspiração (risos). Eu tinha feito uma música que era a ‘Princesa Não Levanta’, era um single meu, e o Luan me pediu a música, assim como aconteceu com a Cem Mil (de Gusttavo Lima). Ele ofereceu gravar outra música comigo em troca dessa música, e todo mundo dizia que seria a música do DVD. E a que estourou, das duas minhas, foi ‘Choque Térmico’.
bahia.ba: Você já chegou a sentir ciúme de alguma composição?
Tierry: Eu não tenho ciúmes das minhas composições. Eu tenho muito orgulho. Sempre que eu vejo algum artista grande cantar, eu falo: voa, filha, porque é importante para mim. Com os direitos autorais, eu consegui realizar todos os meus sonhos, e eu não posso virar as costas para isso. Sou muito grato por esse dom que Deus me deu. Não é todo artista que canta e compõe, e a gente sabe o valor de cada música. A composição é uma coisa que pesa no orçamento de um artista, porque realmente é muito valorizado. Música muda a vida do artista.
bahia.ba: Em qual posição você se sente mais confortável, a de intérprete ou a de compositor?
Tierry: Eu gosto de cantar e amo compor. Eu acho que divido muito isso. Sempre tive o sonho de ser reconhecido como cantor. Eu acho que esse momento chegou. E eu tô muito feliz.
bahia.ba: Qual você considera a sua composição mais marcante?
Tierry: Todas as músicas me marcaram de alguma forma. São várias músicas, mas acho que ‘Os Anjos Cantam’, uma música que eu fiz para o meu filho, (interpretada por Jorge & Mateus) junto com Magno Santana, foi um grande sucesso, e me deu um know-how muito grande.
bahia.ba: O que os fãs podem esperar de Tierry no Carnaval?
Tierry: Vem muita coisa boa por aí, muitas novidades. Mas vou fazer suspense. Fica no ar… Mas o próximo CD já está pronto, e vai vir com a participação de Luan, Dilsinho, Unha Pintada, então tem mais outros 15 sucessos por aí. Mas só lanço no São João.
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