Processo Civil muda no país com novo código
A nova lei entra em vigor nesta sexta-feira, com o desafio de combater a lentidão no Judiciário e diminuir o número de processos em tramitação
Sancionado há um ano pela presidente Dilma Rousseff, o novo Código de Processo Civil (CPC) entra em vigor nesta sexta-feira, 18, com o desafio de combater a lentidão no Judiciário e diminuir o número de processos em tramitação. Para especialistas, a nova lei traz mudanças que tentam dar uniformidade às decisões, valorizando a precedência, e estimula o consenso entre as partes – mas também é alvo de dúvidas e críticas sobre sua real eficácia.
De acordo com o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o País tinha cerca de 71 milhões de processos em estoque no início de 2015, quantidade composta principalmente por ações cíveis e trabalhistas. Para zerá-lo, o CNJ estima que seriam necessários dois anos e meio de trabalho se não houvesse entrada de novas ações.
Para o advogado e professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Heitor Sica, o novo código se esforça para valorizar meios consensuais. “Todo processo se iniciará com uma audiência para conciliação das partes, antes mesmo de o réu apresentar a defesa”, afirma. O CPC também prevê multa caso a parte não compareça à audiência. Apenas em situações excepcionais, quando as duas partes informarem não ser possível o acordo, por exemplo, o juiz poderá dispensar a etapa
O estímulo para que haja acordo serviria para evitar o litígio. No entanto, especialistas alertam que tornar a audiência obrigatória pode retardar ainda mais os processos. “A maior dificuldade é reconhecer que o Poder Judiciário não vai estar preparado para fazer audiência em todos os casos. Talvez não tenham conciliadores suficientes ou a única data disponível seja seis meses depois, por exemplo. Isso pode atrasar muito a primeira etapa”, afirma Sica.
O professor de Direito Vladimir Cardoso, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, destaca que o CPC também reformula o julgamento de demandas que tratem do mesmo tema. “O código novo tenta racionalizar, ampliando as possibilidades de uma apreciação que valha para todas as ações”, afirma. “Pretende uniformizar as decisões e acelerar o julgamento de todos os processos.”
Na prática, a valorização da precedência deve fazer com que, depois que uma decisão seja proferida, os juízes vinculados ao tribunal sejam obrigados a segui-la para casos semelhantes. Além de “represar” as ações em instâncias mais baixas e apresentar resultados mais rápidos, a alteração é vista por especialistas como uma forma de evitar que a parte recorra nos casos em que o Judiciário já se posicionou de forma contrária, uma vez que a ação teria menos chance de sucesso.
Para Cardoso, um dos riscos dessa mudança é que as individualidades de cada ação podem acabar não sendo levadas em conta. “Mas há mecanismos que ajudam, se não a evitar, pelo menos a reduzir os riscos que isso aconteça. Agora, se prever explicitamente a necessidade de o juiz aplicar o precedente e indicar os motivos pelos quais os casos seriam equivalentes, considerando as particularidades de cada um”, afirma.
Aplicação
Segundo o advogado Gustavo Fernandes, sócio do Tauil & Chequer Advogados, o novo CPC é “muito positivo”, mas “exige aplicação correta”. “Vamos imaginar que o tribunal tenha criado um precedente ruim: cabe recurso para essa decisão. Eventual erro ou má aplicação da lei estão sujeitos a correções”, afirma o advogado, que também destaca a previsão de órgãos de classe participarem do processo. “De fato, pode contribuir para um resultado mais adequado.”
A nova legislação altera ainda os prazos processuais, que passam a ser contados apenas em dias úteis e ficarão suspensos um mês por ano, entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro. Para advogados, essas mudanças vão possibilitar descanso nos fins de semana e férias anuais.
Outra mudança é a forma com que o juiz fixa honorários. Na legislação antiga, o valor era fixado após a primeira decisão. Agora, ele pode sofrer aumento caso a parte contrária decida recorrer e volte a ser derrotada. “É uma fórmula para tentar desestimular que as partes interponham os recursos. Se ela não consegue vislumbrar uma chance razoável de vitória, como o débito vai ficar mais alto, ela tende a não recorrer”, diz Heitor Sica.
Para a professora Maria Cecília Asperti Araújo, da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o novo CPC, por si só, não deve resolver os problemas da morosidade. “A gente está tratando só de processo, mas sem entender a conjuntura”, diz. “A mudança pode trazer alguns benefícios, mas não vai resolver, porque a causa não está bem detectada.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Mais notícias
-
Brasil
15h46 de 26 de dezembro de 2024
Viajar está entre principais prioridades dos brasileiros para o verão, diz pesquisa
Para 26% dos entrevistados, viajar perde apenas para o desejo de investir (39%), comprar ou trocar a casa própria (38%)
-
Brasil
15h39 de 26 de dezembro de 2024
Trabalho em feriados: portaria entrará em vigor em julho de 2025
O trabalho em feriados deve ser negociado entre trabalhadores e empregadores por meio de convenção coletiva
-
Brasil
14h27 de 26 de dezembro de 2024
AGU pede informações a BC sobre cotação do dólar no Google
Moeda norte-americana estava cotada a R$ 6,38 no feriado de Natal
-
Brasil
14h07 de 26 de dezembro de 2024
Animais de estimação terão carteira de identidade nacional a partir de 2025
O cadastro poderá ser realizado pelo portal gov.br, exigindo informações do tutor e dados do animal, como idade, raça, histórico de doenças e vacinas
-
Brasil
13h02 de 26 de dezembro de 2024
Brasil chega a 31 territórios quilombolas regularizados em 2024
Governo federal assinou decreto que garante titularidade no território quilombola Minador, localizado em Novo Oriente, no Ceará
-
Brasil
12h12 de 26 de dezembro de 2024
Jovem baleada na cabeça por agentes da PRF segue em estado grave no hospital
Jovem foi atingida por um tiro de fuzil
-
Brasil
07h24 de 26 de dezembro de 2024
MPF vai apurar conduta de agentes da PRF em caso de jovem baleada no RJ
Juliana Rangel, de 26 anos, foi alvejada na cabeça e está internada em estado gravíssimo; policiais foram afastados preventivamente
-
Brasil
19h40 de 25 de dezembro de 2024
PF vai investigar queda de ponte na divisa do MA e TO
Parte da ponte desabou no domingo; são quatro mortes confirmadas até agora
-
Brasil
17h40 de 25 de dezembro de 2024
Governador do Maranhão diz que ‘não há risco de contaminação nas águas do Rio Tocantins’
Informação foi confirmada em suas redes sociais
-
Brasil
16h40 de 25 de dezembro de 2024
Condenado a 29 anos de prisão celebra ‘saidinha’ de Natal
Cristian Cravinhos foi o responsável pelo assassinato da mãe de Suzane von Richthofen