O golpe vai além do impeachment
A grande preocupação no momento é com a estabilidade institucional, com a preservação da democracia

A questão que mais inquieta, atualmente, as forças progressistas é o projeto a ser adotado, de imediato, para encarar a ofensiva do grande capital, que não vai desistir enquanto não retomar o poder central. A disputa pelo impeachment é apenas uma etapa, assim como as tentativas desesperadas da direita de encontrar um caminho legal para deletar o ex-presidente Lula da eleição presidencial de 2018.
Hoje, as possibilidades de o impeachment ser derrotado são animadoras. O governo e muitas outras forças da sociedade que defendem a democracia têm se movimentado e mobilizado para conter o golpe. Além do mais, a própria classe dominante não está unificada em torno da viabilidade de uma ruptura institucional. Há um certo temor sobre os desdobramentos, dos riscos inerentes a um regime de exceção.
No caso do ex-presidente Lula, a decisão do Supremo Tribunal Federal de tirar as investigações das mãos do juiz Sérgio Moro evita um linchamento, mas não o livra de um julgamento político, marcado pela pressão das elites que, inconformadas com a quarta derrota consecutiva nas urnas, usam o argumento do combate à corrupção para atacar o governo e estabelecer uma cruzada moralista. Ou melhor, falso moralista. Exatamente como ocorreu em 1954 com Getúlio Vargas; em 1960, na eleição de Jânio Quadros; em 1961, na posse de João Goulart; em 1964, com a ditadura civil militar, e agora. São as mesmas forças golpistas.
É fundamental uma guinada à esquerda,
acima de tudo, nos fundamentos econômicos
A grande preocupação no momento é com a estabilidade institucional, com a preservação da democracia, com as liberdades políticas, com o respeito ao estado de direito, o cumprimento das leis, com a manutenção das regras do jogo. Como esses preceitos são indispensáveis à segurança da própria economia de mercado, as chances do impeachment são reduzidas.
Mas, isso não quer dizer que as elites vão desistir. Essa briga é encabeçada pelo grande capital financeiro internacional, que precisa deslocar as forças progressistas do poder para incrementar o neoliberalismo, aprofundar as privatizações, meter mão no pré-sal, usar o Brasil para sabotar o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), maximizar os lucros de forma brutal, enfim celebrar o mercado como o deus absoluto. A ofensiva mira toda a América Latina. Há, inegavelmente, um recrudescimento da direita em escala mundial. Os ataques vão prosseguir até a eleição presidencial de 2018.
Por isso mesmo, é fundamental que o governo dê uma guinada à esquerda, acima de tudo nos fundamentos econômicos. Faça também mudanças na condução política. Só resta reforçar a organização popular, a mobilização dos trabalhadores, o amparo na força do povo, para não apenas manter os setores progressistas na condução das transformações que têm ocorrido no Brasil nos últimos 13 anos, mas, principalmente, ampliá-las. Esse é ainda o caminho para conter o preocupante crescimento da direita de inspiração fascista, que tem espalhado tanto ódio e medo. O Brasil precisa de tolerância, de ética, de humanidade, de uma comunicação democratizada, de mais cidadania, mais democracia, de respeito à diversidade e às leis.
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