Artistas comemoram a reabertura da Concha Acústica do TCA
Cenário de grandes shows, espaço permaneceu mais de dois anos em reforma e foi reinaugurado nesta sexta-feira com apresentação para convidados
Com a direção artística de Elísio Lopes Jr., o festival “Eu sou a Concha”, que acontece até domingo (15), marca a entrega da nova Concha Acústica do Teatro Castro Alves, totalmente requalificada pelo governo da Bahia e com novas estruturas. A reabertura aconteceu na noite de sexta-feira (13), com um encontro das baianas Maria Bethânia e Margareth Menezes, às 19h. O show contou com a presença do governador Rui Costa, que antes, às 17h30, descerrou a placa de reinauguração.
A programação contempla diversas linguagens artísticas, com apresentações de artistas consagrados da música brasileira. Além de Bethânia e Margareth, vão se apresentar no palco da Concha os Novos Baianos, Ney Matogrosso, Carlinhos Brown, e as mais de 25 atrações que desfilarão nos três dias de comemoração pela reabertura do espaço, fechado desde 2013, quando foram iniciadas as obras de requalificação que absorveram recursos da ordem de R$ 80 milhões do governo baiano e mais um aporte de R$ 10 milhões do Ministério da Cultura (Minc).
Idealizado para ser um dos palcos mais importantes do Brasil, o Teatro Castro Alves foi projetado pelos arquitetos Alcides da Rocha Miranda e José de Souza Reis em 1948 e construído em 1958. Após um incêndio que destruiu suas instalações cinco dias antes da inauguração, foi reprojetado por José Fonyat Filho e Humberto Lopes, cujo projeto foi alvo de menção honrosa na Primeira Bienal de Artes Plásticas de Teatro em São Paulo, devido à sua sua arquitetura moderna e arrojada para a época.
Embora o teatro tenha sido inaugurado em 1967, a história da Concha Acústica começou em julho de 1958, quando esse grande “anfiteatro a céu aberto” em forma de meia arena, começou a realizar os seus primeiros eventos. Enquanto os tambores ecoavam no palco da Concha, a Sala Principal, totalmente destruída pelo fogo, passou cerca de dez anos para voltar à ativa, numa reconstrução iniciada em 1958 e somente concluída em 1967, quando foi inaugurado todo o Complexo Teatro Castro Alves pelo então governador Lomanto Júnior, em solenidade que contou com a presença presidente da República Castelo Branco.
Em 2004, o Complexo TCA foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN). Ao longo da sua história o espaço registrou espetáculos memoráveis, como o show de Caetano Veloso e Chico Buarque que resultou na gravação ao vivo de um disco, e a apresentação de despedida de Caetano e Gilberto Gil antes de partirem para a Inglaterra, num longo exílio durante o período da ditadura militar, nos anos 1970.
Em julho de 1989, o TCA sofreu sua primeira reforma, sendo reinaugurado em julho de 1993, com show dos baianos João Gilberto, Maria Bethânia e Gal Costa, e concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia. Além de abrigar espetáculos dos principais produtores locais e nacionais, o complexo intensificou sua programação própria, realizando espetáculos, projetos e oficinas que fortaleceram a aproximação entre a classe artística e o público em geral.
No total, entre 2007 e 2011, o Teatro Castro Alves recebeu, em seus três palcos principais – Sala Principal, Sala do Coro e Concha Acústica – 1.357 eventos, contabilizando 2.369 apresentações e um público de 1.448.032 pessoas.
Artistas consagrados como João Gilberto, uma das atrações na reinauguração, em 1988, Novos Baianos, Luís Gonzaga, Wanderléa, Ney Matogrosso, Dominguinhos, Ivan Lins, Guilherme Arantes, Lulu Santos, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Alceu Valença, Djavan, Fábio Júnior, Elba Ramalho, Osvaldo Montenegro, Zizi Possi, Leila Pinheiro, Cássia Eller, Luís Melodia, Adriana Calcanhoto, Emílio Santiago, Martinho da Vila, Nana Caymmi, Lenine, Sandra de Sá, Beth Carvalho, Marisa Monte, Ana Carolina, Arnaldo Antunes, Rita Lee, Toquinho, Jaques Morelenbaum, Ângela Maria e Cauby Peixoto, Vanessa da Mata, Seu Jorge, Marcelo Camelo, Maria Rita, Roberto Carlos, Criolo deixaram sua marca no palco da Concha Acústica.
Com 40 apresentações, Margareth Menezes é a recordista de shows na Concha. Das atrações internacionais, destacam-se o cantor Manu Chao, o Circo Nacional da China e o grupo japonês Kodo, com seus tambores gigantes.
Interação mágica – Para o cantor alagoano Djavan, a reinauguração do espaço vai lhe permitir matar a saudade da Concha, onde já realizou shows memoráveis. Ele destaca a receptividade do público baiano e diz que na Concha isso se multiplica, porque o espaço tem uma conformação que deixa show e plateia integrados de forma indissolúvel. “Tenho recebido reclamações nas redes sociais porque ainda não marquei a apresentação em Salvador, mas foi exatamente por isso. Estou esperando pela Concha. Eu quero fazer lá, estou com saudade de cantar na Concha Acústica”, afirmou Djavan.
Com 40 apresentações, a cantora Margareth Menezes é a recordista de shows na Concha. Para ela, que volta ao local num encontro com Maria Bethânia, o espaço “abraça todo mundo que está ali dentro, parece uma cestinha de alegria, eu sempre curti. É um lugar perfeito, maravilhoso para interagir com a plateia. Eu gosto de fazer shows de palco e a Concha é diferenciada”, diz.
A cantora também relembra grandes apresentações que assistiu no local, com João Gilberto, Titãs, Luís Melodia, entre outros. “No início era tudo muito novo e foram shows que me marcaram. O espírito de ir para a Concha já é animador, é mais relaxado, o público vai com a emoção de estar em um espaço ao ar livre, que é um templo da música”.
Gerônimo demonstra satisfação em ver a Concha reintegrada ao cenário cultural baiano. Para ele, o espaço sempre foi a grande opção do ‘povão’ . O cantor e compositor lembra que a Concha abrigava os programas ao vivo e era o espaço onde se realizavam os grandes festivais. “Eu vejo a Concha Acústica como um grande patrimônio ao qual todas as pessoas podem ter acesso e espero que continue sendo, como sempre foi, uma oportunidade para novos artistas”, lembrando os grandes acontecimentos culturais, sociais, estudantis, populares e políticos que aconteceram ali, onde se dava o discurso e a manutenção da música.
Mestre em capoeira, o cantor Tonho Matéria integrou o Olodum e hoje é uma das vozes do Araketu. Ele se diz feliz com a reabertura da Concha, espaço que considera mágico na medida em que aproxima o público do artista. Afirmando que frequentou a Concha como espectador antes de começar a cantar e tocar e depois que tornou-se músico. “Fui a vários shows na Concha. É um lugar muito mágico, que aproxima o público do artista, proporcionando uma interação muito estreita e próxima. Era muito bacana o que acontecia lá”, diz o cantor considerando que “se construiu músico na Concha”.
A reabertura da Concha vai reunir o grupo Novos Baianos, cujos integrantes não se apresentam juntos há, pelo menos, uns 20 anos. Paulinho Boca de Cantor lembra que no auge do sucesso dos Novos Baianos, nos anos 70, a banda chegou a levar oito mil pessoas à Concha Acústica, espaço cuja capacidade de lotação não chega a seis mil.
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