Publicado em 16/02/2024 às 16h45.

Catadores de materiais recicláveis chegam a quadruplicar renda mensal durante Carnaval

Trabalhadores faturam até 66% da renda mensal em um dia

Vitor Silva
Foto: Assessoria

 

Para quem levanta a renda mensal coletando materiais recicláveis, a labuta do ano inteiro não ameniza durante o Carnaval, mas garante um fôlego maior pós folia. Isso porque, durante os seis dias de festa, os trabalhadores e trabalhadoras chegam a quadruplicar o valor arrecadado com a venda dos materiais.

Catadora desde criança, Adeni dos Santos Santana, 43 anos, comemora a parceria entre a Ambev e a startup Solos, que dá uma bonificação de R$ 100 a cada 30 kg de material reciclável coletado durante o Carnaval, e vendido nos postos de coleta situados nos circuitos, além do valor do material (R$5 kg da latinha e R$1 kg do plástico).

É com esse incentivo que Adeni consegue faturar diariamente em média R$200 reais durante o Carnaval. O valor corresponde a pelo menos 66% do que ela arrecada mensalmente nos outros meses do ano, que varia entre R$300 e R$350. Com o acréscimo, ela afirma arrecadar em média R$1200 em seis dias, quadruplicando o valor que arrecada em um mês.

“Sou catadora desde menina e só no Carnaval dá para fazer isso. Com os R$300 eu pago meu aluguel de R$150 e o resto compro comida para o meu filho. Quando chega essa época do ano eu consigo fazer uma compra maior, para não depender de cesta básica, e guardar algum dinheiro para comprar alguns brinquedos que ele me pede”, conta Adeni.

A rotina para aumentar o faturamento é árdua, mas Adeni considera valer a pena. Moradora da Fazenda Grande do Retiro e mãe de um menino de 7 anos, ela chega no circuito Barra-Ondina às 13h e só sai quando o último trio começa a desfilar. “Eu vivo da latinha a vida toda e garantir alguns meses de aluguel é pura felicidade”, afirma Adeni.

Trabalhando na Central de Reciclagem montada pela Ambev, junto com a Prefeitura de Salvador e a Solos, na Avenida Princesa Leopoldina, na Barra, Ana Paula Alves de Sousa, 43 anos, é testemunha da importância da iniciativa para os catadores.

“Ouço muitas histórias difíceis durante o Carnaval, mas quando eles contam sobre uma boa arrecadação dá para ver a felicidade nos olhos. Aqueles que se dedicam contam que conseguem faturar entre R$2 mil e R$3 mil [durante os seis dias] e conseguem fazer muita coisa. Aqui tem pessoas que gastam o dinheiro para sustentar vícios, mas também há muitos pais e mães de família”, afirma Ana Paula.

A Ambev, junto com a Solos e a Prefeitura, espalhou oito pontos de coleta em Salvador, sendo cinco no Circuito Barra-Ondina e três no Campo Grande, que contam com 2 mil catadores e 14 cooperativas para todo o processo de coleta e reciclagem. A expectativa é recolher 130 toneladas de materiais, através dos catadores cadastrados e promover uma geração de renda de cerca de R$800 mil.

A possibilidade de gerar renda extra no Carnaval atrai inclusive os catadores de fora de Salvador, como Alberto de Jesus, 56 anos, do município de Castro Alves, a cerca de 200 km da capital baiana. O objetivo dele é juntar dinheiro durante os dias da folia para se manter com a esposa na cidade natal dele.

“Deixei minha esposa em casa para tentar garantir algum tempo de tranquilidade para a gente em questão de dinheiro. Os R$100 de bônus foi uma das coisas que mais me atraiu e fará toda diferença até quarta-feira quando eu voltar pra casa”, diz Alberto, que também ajuda um filho de 20 anos.

Vitor Silva

Repórter de entretenimento, mas escrevendo sobre política, cidade, economia e outras editorias sempre que necessário; tem experiência em assessoria, revista, produção de rádio e social media

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