Ibovespa registra pior índice entre as bolsas mundiais e vê vizinhos sul-americanos crescerem
Bolsa brasileira sofre com questões domesticas enquanto países andinos surfam no rali econômico do cobre
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileiros, registrou seu pior desempenho em comparação com as principais bolsas de valores globais. Enquanto estas vivem um rali em 2024, o “risco Brasil” levou o Ibovespa a mais um desempenho negativo em maio. Já os países vizinhos conseguiram surfar em um cenário político mais tranquilo e três índices de Bolsa com maior rentabilidade nos cinco primeiros meses do ano pertencem à América do Sul.
Em matéria, o Estadão apura que o resultado das bolsas sul-americanas vem muito a frente do maré de pessimismo dos investidores que levaram o Ibovespa ao acumulo de uma desvalorização em dólares de 15,96% no período. A alta do Merval, na Argentina, não é uma novidade. Apesar da crise econômica e da hiperinflação que assola o país há anos, a bolsa argentina foi a que mais subiu no mundo no ano passado. Especialistas apontam que as a série de estímulos concedidos pelo governo às empresas argentinas em 2023 e as medidas econômicas adotadas pelo governo de Javier Milei, impulsionaram o bom resultado.
Isso também explica parte da valorização de 2024, diz Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice e colunista do E-Investidor. “Quando você tem zero e passa a ter um, você cresceu 100%”, ilustra. As ações de Milei até então agradam investidores – ao menos, mais do que as tomadas pelo governo anterior –, o que também pode estar por trás do movimento de recuperação do Merval. “O mercado financeiro é carente de boas notícias e às vezes interpreta de forma exagerada à determinados eventos. Sempre houve uma expectativa histórica negativa em relação à Argentina e o fato de agora ter algo que é moderadamente funcional dá um pico de euforia, que se reflete no crescimento da Bolsa”, afirma Aragão.
O mesmo vale para a Colômbia. A leitura inicial do mercado em relação ao atual presidente Gustavo Petro, em 2022, foi de irracionalidade. Isso ajudou a derrubar a bolsa colombiana que, agora, consegue se recuperar. “Quando o Petro ganhou a eleição, dizia-se que ele transformaria a Colômbia na Venezuela. Quando isso não acontece, há uma euforia em cima da ausência daquele pior cenário possível”, diz o diretor da Arko. Há ainda outros fatores impulsionando as bolsas da América do Sul: O rali global por cobre e ouro, forte dos países do continente, principalmente os andinos. O metal dourado é um dos investimentos que mais sobe em 2024 e é negociado pela primeira vez acima dos US$ 2,3 mil a onça-troy.
“Os três mercados andinos apresentaram retornos positivos em maio, com mais sinais de recuperação da economia no Chile e no Peru em meio a taxas de juros e inflação mais baixas, juntamente com ventos favoráveis dos preços das commodities”, avaliou o BTG em relatório publicado na primeira semana de junho.
Thiago de Aragão, que assessora diretamente dezenas de fundos estrangeiros sobre investimentos no Brasil e Argentina, aponta porém que o sucesso nas bolsas vizinhas não apresenta concorrencia para o país.
“O Brasil tem um mercado financeiro e uma Bolsa muito mais desenvolvida do que esses outros países da região. Não se trata de tirar o dinheiro daqui para colocar na Argentina, por exemplo”.“O que eu vejo são clientes que durante os últimos 10 anos deixaram de fazer investimento nas fábricas deles na Argentina e agora estão pensando em retomar.” diz Aragão.
Existe a possibilidade, entretanto, do Brasil voltar a atrair fluxos dos estrangeiros. O time de research da XP, liderado pelo estrategista-chefe Fernando Ferreira, esteve no exterior na última semana para debater o cenário dos ativos brasileiros. Em relatório, ele explicou que o nível depreciado das ações do País começam a chamar atenção, apesar das turbulências.
“Esperava que os estrangeiros estivessem bastante preocupados com o cenário no Brasil, como temos visto um pessimismo generalizado entre os investidores locais. Mas não foi o que vi”, diz Ferreira no documento. “Os problemas recentes nos outros grandes emergentes após as eleições (Índia, México e África do Sul), trazem esta possibilidade”.
O que precisa acontecer para isso? Os Estados Unidos iniciarem o ciclo de corte de juros. Como as previsões do mercado indicam que isso só deve começar a acontecer nos meses finais de 2024, o outro possível gatilho poderia ser a melhora do cenário fiscal e monetário no Brasil – o que parece ser o desafio do momento.
O problema do Ibovespa em 2024
As questões domésticas impulsionaram a disparidade entre o desempenho da Bolsa brasileira e seus pares. O sentimento, que já não era dos melhores, se deteriorou de forma acentuada depois de dois eventos principais. Em meados de abril, o governo revisou a meta fiscal para 2025, que antes previa um superávit de 0,5% do PIB, para déficit zero. O movimento foi entendido por agentes do mercado como uma sinalização de abandono ao compromisso estabelecido pelo arcabouço fiscal em 2023 e repercutiu negativamente.
O racha na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de maio, também chamou a atenção. Membros indicados pelo governo votaram pela manutenção do ritmo de cortes na Selic em 0,5 ponto percentual, enquanto os outros diretores defenderam maior cautela com o afrouxamento monetário; decisão que prevaleceu, mas criou um novo mal estar no mercado. As falas mais recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma “fritura” do ministro da Fazenda Fernando Haddad, que não está conseguindo avançar com as propostas para compensar a arrecadação federal, jogaram ainda mais volatilidade no mercado. O Ibovespa acentuou as perdas, renovando a mínima do ano na faixa dos 119 mil pontos, e o dólar bateu o maior patamar desde janeiro de 2023.
Thomas Haugaard, gerente de portfólio do time de mercados emergentes da gestora global Janus Henderson, aponta que a questão política é um dos principais gatilhos negativos por trás do momento ruim do mercado. Ele explica que Lula e governos anteriores do PT têm como característica a intenção de aumentar o Estado em termos de atividade econômica e influência sobre o setor privado. Algo que geralmente pesa sobre os mercados financeiros.
“A influência política em instituições anteriormente independentes é uma das principais preocupações, especialmente o ruído em torno do Banco Central. A divisão do Copom com clara influência dovish [conduta de reduzir a taxa de juros para aquecer a economia] do governo está pressionando os mercados financeiros em geral e, particularmente, o Brasil”, diz Haugaard. Segundo ele, a vulnerabilidade do mercado também está relacionada ao alto déficit geral das finanças públicas e ao provável aumento da dívida/PIB nos próximos anos. “Essas preocupações dependerão da percepção da popularidade de Lula; se os índices de aprovação caírem, os ativos brasileiros passarão por momentos difíceis.”
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