Publicado em 03/10/2024 às 14h22.

Enxugando gastos, Abin reduz internet e fecha uma das portarias de sua sede

Empresa reduziu ainda seu contrato com seguradora e cortou os banhos quentes em parte dos chuveiros à disposição no complexo

Redação
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

 

A direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fechou nesta quinta-feira (3) uma das portarias de sua sede, em Brasília, e reduziu a internet dos celulares funcionais após realizar um pente-fino em parte dos contratos em um processo para enxugar gastos.

Segundo matéria da Folha de São Paulo, as medidas fazem parte de uma série de cortes realizados pela empresa para driblar a falta de recursos, que incluem ainda uma redução no contrato com a empresa de segurança do órgão. Com o fechamento de uma das portarias, pedestres e usuários de metrô são forçados agora a buscarem a portaria principal e caminhar cerca de 800 metros até o prédio onde trabalha a maior parte da equipe.

Também tem causado polêmica na agência o corte dos banhos quentes em parte dos chuveiros à disposição dos servidores no complexo. A direção-geral nega mudança nesse sentido, mas agentes reclamam que os fios do vestiário foram cortados para, supostamente, diminuir os gastos com energia elétrica.

Para 2024, o governo federal propôs inicialmente cerca de R$ 112 milhões em despesas discricionárias da Abin, cifra usada para investimentos e gastos com contratos, sem compromisso com o pagamento de salários. O valor, porém, acabou reduzido pelo Congresso durante a votação do Orçamento para R$ 93,8 milhões.

Durante o ano, o governo ainda realizou outros cortes, cerca de R$ 16,7 milhões da agência, e a verba disponível ficou em R$ 77,1 milhões. O órgão de inteligência teve outros R$ 7,1 milhões bloqueados para cumprir regras do arcabouço fiscal. Somados cortes e bloqueio, a Abin tem hoje cerca de R$ 70 milhões para bancar contratos e gastos operacionais, sendo que R$ 53,3 milhões já estão empenhados.

Para 2025, a proposta do governo Lula para o Orçamento discricionário da Abin é de R$ 93,9 milhões, verba menor do que a sugerida no ano anterior. O valor é próximo aos R$ 91,5 milhões propostos para o órgão por Jair Bolsonaro (PL) em 2022, em valor sem correção monetária.

Reação Interna

Procurados reservadamente pela matéria, três oficiais ouvidos veem descaso do governo Lula (PT) com a agência e dizem que a falta de recursos também afeta operações de inteligência. O corte de metade da internet móvel dos aparelhos, sem previsão de volta, é uma das decisões mais criticadas internamente. Agentes afirmam reservadamente que a redução prejudica os servidores em trabalho operacional, sobretudo, e vai na contramão das diretrizes de segurança da própria Abin, que desincentivam o uso de equipamentos pessoais e redes Wi-Fi.

Os agentes temem ainda que a estrutura proposta pelo governo para o próximo ano seja enxugada, cada vez mais, como forma de retaliação às suspeitas de espionagem durante a gestão do hoje deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro Alexandre Ramagem (PL-RJ), no governo Bolsonaro —embora parte das denúncias pese contra policiais federais.

Já a agência preferiu não se manifestar. Interlocutores do diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, se limitaram a afirmar que a agência tem revisto os contratos diante de sucessivos cortes no orçamento desde o começo do ano.

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