Publicado em 28/04/2025 às 11h31.

Presidente do BC defende cautela diante de guerra comercial entre EUA e China

Galípolo afirma que volatilidade internacional exige flexibilidade nas decisões monetárias

Redação
Foto: Roque de Sá/Agência Senado

 

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (28) que a autoridade monetária precisa adotar um componente adicional de “flexibilidade e cautela” frente às incertezas econômicas provocadas pela guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Galípolo participou, em São Paulo, de um seminário promovido por um banco, evento que também contou com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

“Temos de ter flexibilidade e cautela em um mundo no qual a incerteza aumentou tanto”, declarou Galípolo. “Em um ambiente de tamanha volatilidade e incerteza, devemos consumir os dados com parcimônia”, acrescentou.

Durante o evento, o presidente do BC traçou um breve panorama sobre o impacto dos primeiros meses do governo de Donald Trump nos Estados Unidos sobre os mercados globais — e também sobre o Brasil.

“No final de 2024, a leitura inicial era de um governo mais pró-mercado, que deveria reduzir a tributação sobre empresas e impulsionar a exuberância observada no mercado norte-americano, com bolsas em alta e dólar forte”, comentou.

No entanto, ao longo do primeiro trimestre, as tarifas adotadas começaram a desenhar um cenário de desaceleração econômica e risco de desinflação. “Esse quadro ganhou força ao longo do trimestre”, explicou Galípolo.

Em abril, com o agravamento das tarifas, instalou-se um ambiente de aversão ao risco, gerando dúvidas sobre quais ativos poderiam oferecer maior proteção. “Nesse cenário, vimos a queda abrupta das ações no mercado norte-americano”, relatou.

Segundo Galípolo, a escalada da guerra comercial levou a percepção de que as tarifas poderiam ser impraticáveis. “Todos passaram a observar quem cederia primeiro: Trump, a China ou Jerome Powell [presidente do Federal Reserve]”, afirmou.

O presidente do BC avaliou que a principal herança dessa crise é o aumento da incerteza e a quebra de confiança global, fatores que impulsionam a busca por alternativas de proteção antes consideradas desnecessárias.

Galípolo também apontou que, mesmo em meio a essa turbulência, o Brasil pode se beneficiar do cenário internacional. Reforçando o discurso de Fernando Haddad, ele destacou que o país possui vantagens competitivas, como contas externas sólidas, diversificação de parceiros comerciais e segurança alimentar e energética.

Sobre o cenário doméstico, Galípolo enfatizou que o Banco Central segue atento à inflação, que ainda preocupa. “A principal preocupação é com a dinâmica atual da inflação, que permanece acima da meta e com expectativas desancoradas”, destacou.

Ele ressaltou que, embora haja sinais iniciais de arrefecimento da atividade econômica, é necessário dar tempo para que as medidas de política monetária tenham efeito.

Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, fixando-a em 14,25% ao ano — o maior nível em uma década. O Copom volta a se reunir nos dias 6 e 7 de maio.

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