Do tabuleiro ao e-commerce: maternidade que impulsiona o empreendedorismo baiano”
Razão social: mães empreendedoras buscam autonomia nas finanças e para os filhos
Por Gabriela de Paula
Esta é a segunda reportagem da série especial que o Bahia.BA traz para mostrar como a maternidade é a força por trás de histórias de sucesso no empreendedorismo em nosso estado. Os desafios de criar filhos e de construir o próprio negócio é a realidade de muitas daquelas que serão homenageadas este domingo.
Até Isis nascer, a vida de Bárbara era centrada em organização. Seu trabalho como visual merchandising de duas marcas tinha como principal objetivo deixar vitrines e espaços das lojas convidativos para que clientes tivessem sensações positivas e, claro, mais vontade de comprar. Se toda maternidade já tira tudo de lugar, ter uma filha com paralisia cerebral tornou a rotina dela uma loucura. Com uma nova prioridade, a resposta para atender às demandas que começavam a surgir veio no lançamento de um novo negócio.
A segunda edição da pesquisa “Maternidade e Negócios: a força das mães empreendedoras baianas”, lançada há poucos dias pelo Sebrae, destrincha em números o que as mães donas de negócios conhecem na prática. Mesmo com 65% das entrevistadas declarando ser casada ou viver em união estável, apenas 39% afirmam contar com o marido para manter os cuidados com a casa e os filhos. São 32% que fazem tudo sozinha e outros 23% que têm ajuda de familiares. Escola ou creche em período integral são a alternativa para 5%.
“A decisão de ser empreendedora foi justamente por causa da maternidade. Minha filha é totalmente dependente, não anda, não senta, não come sozinha e tenho que me dedicar a ela”, conta Bárbara Pedroso. A ideia de lançar uma marca de cosméticos veganos veio da sua mãe, preocupada com o futuro da filha e da neta após o diagnóstico.
Sair da posição de colaboradora e encarar a transformação para empresária não foi uma exclusividade de Bárbara. Assim como ela, que formou-se em Gestão Ambiental após o nascimento da filha, mas nunca colocou o diploma em um currículo para seleção, muitas outras mães desistem da carteira assinada. Especialmente aquelas que têm filhos com deficiência e precisam de flexibilidade acima de qualquer outro benefício.
Advogada especialista em Direito Processual do Trabalho, pós-graduanda em Direito das Famílias e Mestra em Família e Sociedade Contemporânea, Carla Borba bem que gostaria de só ter visto casos de desrespeito às mães nos muitos livros que a formaram. Mas é a sua maior fonte de conhecimento é a atuação sob a ótica de gênero na advocacia. “Infelizmente, observo diariamente o impacto desproporcional que recai sobre as mulheres, especialmente mães solo, após o divórcio ou a separação”, avalia
Carla analisa ainda os obstáculos ao sucesso profissional de quem se dedica ao cuidado. “Essa realidade, com certeza, se agrava quando essas mães são responsáveis por crianças com deficiência ou com alguma demanda de saúde específica, por conta da própria rotina de cuidados médicos, ausência de renda para contratar babás ou ajuda nos afazeres domésticos, além da ausência de rede de apoio, seja de familiares e até de espaços públicos adequados que permitissem à mulher buscar oportunidades de carreira”.
Um estudo de 2024 do Instituto de Psiquiatria da USP – Universidade de São Paulo mostrou que 85% dos cuidadores principais de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento são mulheres, sendo 80% delas mães. “É doloroso ver nas audiências e nas consultas jurídicas a dor emocional e a sobrecarga dessas mães. Essas mulheres frequentemente enfrentam jornadas exaustivas, conciliando cuidados intensivos com a tentativa de manter uma fonte de renda, o que muitas vezes as leva a abandonar suas carreiras profissionais”, completa a advogada.
Bárbara conta com a mãe, que ajuda na rotina com Ísis, e uma amiga, que vai a eventos vender os mais de 90 produtos da Bosque dos Aromas em eventos quando ela não pode comparecer. A empresária ainda cria e fabrica os cosméticos e uma linha de queijos e doces veganos e sem glúten, a Sublime Vegano. Sempre com outras mulheres dando o suporte para que ela possa manter os cuidados que a maternidade atípica exige.
Tratamento digno e equilíbrio entre filhos e negócios
São muitos pratos para manter girando ao mesmo tempo. A pesquisa do Sebrae mostra que seis em cada dez mães empreendedoras baianas dedicam mais de 36 horas para seu negócio a cada semana. Dentro destas, a jornada de trabalho de 34% do total excede o padrão CLT, com mais de 45 horas semanais. E para quem tem filhos, aquela máxima da internet de que todo mundo tem as mesmas 24 horas por dia soa como uma piada de mau gosto.
“A sobrecarga compromete a saúde mental e o desempenho do negócio. Além disso, as mulheres recebem menos apoio que os homens ao anunciar que vão empreender: logo surge a pergunta: e a casa, e a família? Soma-se o peso da culpa materna. Falta também aceitação social: quando um homem se ausenta para tocar a empresa, raramente se questiona quem cuidará da casa; com a mulher, isso ocorre o tempo todo”, avalia a gestora do programa Sebrae Delas, Rosângela Gonçalves. Ela lembra ainda que 79% do total de mulheres que empreendem na Bahia são mães.
A advogada Carla Borba vê o mesmo fenômeno nos tribunais, especialmente em casos que envolvem filhos com alguma deficiência. “A sobrecarga emocional e física, aliada à falta de apoio institucional e à negligência paterna, contribui para o esgotamento dessas mães. Muitas vezes, os pais, mesmo quando presentes durante a conjugalidade, não suportam a rotina exigente e se afastam após a separação, deixando de arcar com as despesas básicas dos filhos. Isso sobrecarrega ainda mais as mães que já enfrentam desafios significativos ao cuidar de crianças com necessidades especiais de desenvolvimento ou de saúde”, reitera.
Apoio que alavanca desenvolvimento da empresa e família
A rede de apoio fez toda a diferença na história de Renata Gunes, mas não foi assim desde o começo. Morando em Vitória da Conquista, longe da família, ela escolheu o Direito como profissão. A jornada até o diploma não teve paixão ou propósito, mas como já tinha deixado de lado outras três faculdades, decidiu que teria sua OAB. Entre a formatura e a chegada da carteirinha de advogada, achou vídeos na internet sobre bolos. E surgiu um encantamento pela confeitaria.
O escritório de advocacia finalmente abriu as portas. Ela e uma amiga estavam há um mês nesta empreitada quando veio o teste de gravidez positivo. “Naquele momento, eu soube que não ficaria no escritório. Esperaria a minha filha nascer e depois mudaria de vida. Eu queria fazer o que eu amava”, conta. Além disso, os bolos davam retorno imediato. Enquanto no Direito ela só recebia com o processo concluso, já que na região onde atuava não era praxe cobrar pelos atendimentos iniciais, os doces tinham pagamento imediato.
Do marido, Renata teve apoio. Mas já a família, não foi convencida com facilidade. “Virou advogada, estou tanto para vender bolo? Especialmente minha mãe que tinha, na sala de casa, um quadro enorme na parece com minha foto de beca e tudo o mais”, lembra. Com o nascimento de Maria Flor, havia outro desafio. Seu marido viajava muito a trabalho e ela ficava sozinha com a bebê.
O negócio dos bolos, ainda construído de forma intuitiva, cresceu rapidamente. A empresária construía seu nome, mas havia uma surpresa preparada para aquela mãe que observava atenta o desenvolvimento de sua pequena: Maria Flor estava no espectro autista. “A maternidade, com a questão do autismo, trouxe muitas incertezas, muitas dúvidas. No começo eu não tinha condições de pagar as terapias da Maria. Eu não tinha rede de apoio. Em algumas fases, trouxe uma sobrinha para morar comigo e me ajudar. Mas era desafiador dar conta de encomenda, da casa, de filho e tudo o mais”, recorda.
Com muito suor e dedicação, Renata deu uma grande virada nestes dias turbulentos. A rotina de Maria Flor conta com a presença constante da avó paterna, que se mudou para Conquista. A garotinha faz suas terapias pelo plano de saúde e vem ganhando novas habilidades todos os dias. E os negócios não poderiam estar melhores. Além de sua própria confeitaria, construída anexa à sua casa nova de onde com mais duas colaboradoras entrega mais de 100 bolos para ocasiões especiais todos os meses, Renata multiplica conhecimento.
Multiplicação dos bolos e dos sorrisos
Este ano, acontecerá a terceira edição do VCA Cakes, evento que ano passado levou mais de mil pessoas à Conquista e espera mais de 1.200 agora em agosto. “É um evento que é feito com todo amor, pensando principalmente nas mulheres, em capacitá-las, em fazer com que elas gerem renda.” O congresso terá até uma Arena Kids, onde as mães que não têm rede de apoio podem deixar seus filhos em segurança enquanto absorvem conhecimento. Quem sentiu a dor, aprimora o olhar empático.
“Hoje eu faço um evento que já é considerado o maior do meu segmento na Bahia. Minha maior conquista é poder proporcionar capacitação para outras mulheres e, principalmente, encorajar as que me veem como inspiração”, reflete Renata que revela um desejo. “Quero que a confeitaria pare de ser vista como a opção de quem não deu certo na vida. Eu escolhi a confeitaria, tenho orgulho da minha profissão, sou empresária”, conta. E a mãe dela, com a foto da formatura? “Ela também tem muito orgulho da trajetória que eu tenho traçado na confeitaria”.
A próxima reportagem da série vai mostrar a importância das redes de mães empreendedoras e também a atuação materna em ambientes onde os homens dominam o jogo.
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Gabriela de Paula é jornalista com duas décadas entre redação e comunicação estratégica. Hoje editora-chefe da Ayoo e criadora do “Bom Dia, Futuro” é especialista em tecnologia, inovação e empreendedorismo. Esteve à frente dos microfones na Band News FM, Band TV e Metrópole FM, além de palestrar em TEDx e grandes conferências internacionais. Nerd e bailarina de coração, a mãe de Francisco equilibra pauta e afeto todos os dias.
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