Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA
Born to Run: há 50 anos Bruce Springsteen correu para conquistar o mundo
Nesta segunda-feira (25), é celebrada a quinta década do álbum que transformou uma promessa do rock em lenda viva

“Eu vi o futuro do Rock and Roll e o seu nome é Bruce Springsteen”. Poucas frases podem soar tão proféticas quanto esta, dita pelo então crítico musical Jon Landau (1947 – 2024), em 1974, para o jornal norte-americano The Real Paper. Hoje, o astro da música mundial tem 75 anos. À época, era um jovem iniciante e ambicioso de 24 anos, com dois discos fracassados ao lado da sua banda, a E Street Band. Difícil imaginar uma afirmação tão poderosa em um momento em que o gênero musical já reinava nas mãos de gigantes pós-Beatles, Led Zeppelin, Rolling Stones e tantos outros.
Mas este texto sequer estaria sendo produzido se Landau não estivesse absolutamente correto. Há exatos 50 anos, Springsteen lançou o seu terceiro disco e transformou para sempre o rock e os sonhos da juventude americana. No dia 25 de agosto, em uma segunda-feira como esta, só que em 1975, Born to Run chegava às lojas do mundo todo. Chamar de álbum seria reduzir a potência da obra; um testamento musical talvez descreva melhor a importância histórica deste lançamento.
E para completar a data festiva, o músico lançou uma faixa perdida que não havia entrado no lançamento original, na última sexta-feira (22), nas plataformas digitais, a Lonely Night in The Park.
Contexto pré-lançamento
Bruce Springsteen começou sua carreira em 1973, com o lançamento de Greetings from Asbury Park, N.J. e, no mesmo ano, The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle. Ambos receberam reações positivas da crítica especializada, mas tiveram vendas muito fracas.
A primeira empreitada do cantor, compositor e multi-instrumentista vendeu cerca de 25 mil cópias inicialmente. Tratava-se de um folk-rock misturado com soul, blues e muito lirismo urbano, com letras longas e cheias de imagens poéticas. Mesmo com o single, que viria a se tornar uma das suas músicas mais tocadas, Spirit in the Night, não foi suficiente para alavancar sua carreira de imediato.
Já o segundo disco teve desempenho um pouco melhor, ultrapassando por pouco a marca de 100 mil cópias comercializadas. Mais ambicioso musicalmente, com arranjos de R&B, jazz e soul e faixas longas como Incident on 57th Street e New York City Serenade, também foi muito bem recebido pela crítica, mas não virou sucesso nas rádios.
Apesar disso, o single Rosalita (Come Out Tonight) tornou-se favorito nos shows. Springsteen e a E Street Band ganharam reputação como banda explosiva ao vivo, mas a gravadora estava frustrada com a falta de retorno comercial.
Corrida para a produção do terceiro álbum
Co-produzido por Mike Appel, pelo agora produtor Jon Landau e pelo próprio Springsteen, foram necessários seis meses apenas para finalizar a faixa-título. Foi uma jornada hercúlea para que Born to Run ganhasse vida. Com uma produção extremamente cara e que se estendeu por mais de um ano, conta-se que o cantor chegou perto do limite financeiro por insistir em diversas repetições e overdubs.
Lançado pela Columbia Records (parte da CBS na época), o álbum recebeu um investimento incomum para um artista sem grande sucesso comercial: cerca de US$ 250 mil em marketing e promoção, valor alto para meados da década de 1970. O gasto incluiu anúncios de página inteira em revistas como Rolling Stone e Newsweek; outdoor na Times Square com a capa do álbum; audições exclusivas para críticos e executivos de rádio em várias cidades dos EUA; e showcases estratégicos em Nova York, Los Angeles e Filadélfia para criar repercussão.
Esse investimento refletia a confiança da gravadora, mesmo sob pressão, para que Springsteen emplacasse um sucesso comercial no terceiro álbum, caso contrário, corria o risco de ser dispensado. Em entrevista ao jornalista Brian Hiatt, da Rolling Stone americana, em 2005, o astro relembra o momento e afirma: “Parte do que tornou o disco tão bom é que fomos a extremos para estruturá-lo, compô-lo e tocá-lo de uma forma muito detalhada e enlouquecedora”.

Aprimoramento da sonoridade
Após enfrentar diversas dificuldades, o frontman recebeu esse voto de confiança graças à aclamação crítica dos dois primeiros trabalhos, mesmo sem sucesso comercial. Com isso, pôde investir ainda mais nos arranjos, incorporando elementos de rock, pop, R&B e folk no novo álbum. Ele queria um disco que o colocasse definitivamente no mapa.
Born to Run precisava soar mais direto, mais cinematográfico, com canções que representassem a juventude americana, seus sonhos e frustrações, um tema central em sua obra.
Nascido em 23 de setembro de 1949, em Long Branch, Nova Jersey, cresceu na vizinha Freehold. Filho de Douglas Springsteen, trabalhador ferroviário e entregador de ônibus, e de Adele Springsteen, secretária, teve uma infância marcada por uma relação tensa com o pai, rígido e pouco afetuoso. Essa vivência familiar mais difícil influenciaria muitos de seus temas líricos, incluindo conflitos domésticos e a busca por liberdade.
Aos poucos, ele se integrou à cena musical de Asbury Park e Freehold, tocando em clubes e bares locais. Nessa época, absorveu uma variedade de estilos musicais — do R&B ao folk e ao soul — enquanto desenvolvia seu próprio estilo e consolidava sua ambição de ser reconhecido como músico. Apesar da timidez e introspecção da adolescência, Bruce demonstrava desde cedo determinação e foco excepcionais, características que o acompanharam nos primeiros anos de carreira e foram essenciais para o sucesso com este disco.
Impossível falar da sonoridade de Springsteen sem citar uma das bandas de apoio mais importantes da música: a E Street Band. Nos shows, até a apresentação de cada integrante se torna espetáculo na voz do cantor e guitarrista. Roy “The Professor” Bittan comanda os pianos; Garry Tallent nos baixos; “Mighty” Max Weinberg na explosiva bateria; “Little” Steven Van Zandt nas guitarras rítmicas e backing vocals; Danny “The Phantom” Federici no órgão; e, por último, mas não menos importante, Clarence “Big Man” Clemons (1942 – 2011) no saxofone, dono do icônico solo em Jungleland.
Big Man, inclusive, estampa a capa icônica do disco. A fotografia foi tirada por Eric Meola. A agenda de gravações ocupadas pelo cantor fez com que ele perdesse as datas de filmagem das imagens de divulgação. Quando finalmente apareceu, levou Clemons com ele, e insistiu que estivesse junto na capa.

Faixas icônicas
As oito músicas que compõem os 39 minutos de Born to Run se tornaram clássicos imediatos na discografia de Bruce Springsteen. O disco abre com Thunder Road, uma canção de esperança e convite à liberdade, em que o protagonista chama Mary para cair na estrada e deixar tudo para trás. Em seguida, Tenth Avenue Freeze-Out traz um clima soul festivo, narrando em tom quase mítico a formação da E Street Band, especialmente a chegada do “Big Man”. Night, mais curta e acelerada, mergulha no cansaço e na urgência de escapar da rotina opressiva do trabalho diário.
Com Backstreets, o clima fica mais sombrio. É um lamento sobre lealdade e perda, com um crescendo emocional que se tornaria ponto alto nos shows. O lado A termina com a explosão de Born to Run, canção-título que levou seis meses para ser lapidada e acabou se tornando um hino de juventude e velocidade, com mural de som inspirado na produção grandiosa de Phil Spector.
No lado B, She’s the One traz uma pulsação crua e marcada, retratando um desejo incontrolável. Depois vem Meeting Across the River, quase um filme noir em três minutos, onde um personagem desesperado aceita um “último trabalho” perigoso, preparando o terreno para o épico encerramento. O disco fecha com Jungleland, uma suíte de nove minutos em que Springsteen descreve com poesia os sonhos, amores e tragédias de jovens à margem, coroada por um dos solos de saxofone mais memoráveis do rock, tocado por Clemons.
Mais do que um conjunto de músicas, Born to Run soa como um retrato da juventude em busca de algo maior, mesmo que isso signifique correr sem saber para onde ir. Foi o álbum que o transformou de promessa em estrela — e mostrou que suas histórias de rua tinham dimensão universal.
Sucesso comercial
Finalmente, o aguardado sucesso de vendas chegou para dissipar qualquer dúvida em relação ao jovem Springsteen. Foram vendidos cerca de seis milhões de álbuns, tornando-se um ponto de virada em sua carreira, aproximadamente três milhões de cópias apenas nos Estados Unidos e mais três milhões ao redor do mundo, garantindo certificação triple platinum.
“Eu tinha ambições enormes; queria o maior disco de rock possível, que soasse gigantesco, que obrigasse você a sentir a vida. Born to Run falava de buscar um lugar. Eu era jovem, sem amarras, com um mapa tosco, pronto para encontrar minha fronteira pessoal e emocional”, expressou Bruce na mesma entrevista à Rolling Stone.
O disco também originou a Born to Run Tour, que começou antes mesmo do lançamento do álbum, em 1974, e seguiu até meados de 1977. Cimentou a reputação da E Street Band como a melhor banda para se ver ao vivo, com shows de três a quatro horas de duração.
“O que tornou o disco bom foi exatamente termos ido aos extremos, construído-o como um tanque, indestrutível, com uma dose saudável de obsessão”, relembrou Springsteen, já catapultado para o mapa da música mundial, junto com os grandes, como havia profetizado seu agora empresário Jon Landau.
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