Publicado em 23/10/2025 às 10h00.

Amizades e terreno comprado em Itapuã: Pelé manteve relação próxima à Bahia

Relação do jogador com o estado se estendeu por décadas de afeto, conquistas e histórias

João Lucas Dantas
Foto: Arquivo Santos

 

Pelé, tricampeão mundial, que completaria 85 anos nesta quinta-feira (23), teve uma relação marcante com a Bahia ao longo da vida. Atuou diversas vezes no estado, sobretudo pelo Santos Futebol Clube, ganhando reconhecimento e homenagens locais.

Sua influência no futebol baiano ficou registrada em estádios e eventos históricos, ele quase marcou o milésimo gol na Fonte Nova, em 1969, contra o Esporte Clube Bahia. Desde 1971, uma estátua em sua homenagem ocupa a entrada do estádio.

De um terreno comprado em Itapuã a declarações públicas de carinho por Salvador, o vínculo pessoal de Pelé com a Bahia se revela em diferentes episódios reunidos a seguir.

Visitas e partidas na Bahia

Pelé estreou no estado em 1957, durante uma excursão do Santos. No dia 20 de agosto daquele ano, disputou um amistoso em Salvador e, dois dias depois, o Santos venceu o Bahia por 2×1 na Fonte Nova, o jovem atacante não marcou gols nessas partidas. Ao longo da carreira, ele atuou 21 vezes na Bahia (19 em Salvador e 2 em Ilhéus), enfrentando clubes locais em torneios nacionais e amistosos.

Além da capital, o Santos também jogava em Ilhéus. Em maio de 1965, Pelé participou da goleada de 6×1 sobre o Bahia no estádio Mário Pessoa. O jogador chegou a dizer que “estava sempre na Bahia” e que tinha um carinho especial pelo sul do estado, confirmando suas visitas frequentes.

Pelé Desembarcando em Ilhéus. Foto: Reprodução/ TV Santa Cruz

 

Embora não tenha residido na Bahia, há registros de que Pelé adquiriu um terreno de frente para o mar em Salvador, nos anos 1960. O lote, de 805 m², ficava na Pedra do Sal, famosa praia de Itapuã onde Jorge Amado e Zélia Gattai também tiveram imóvel.

Pelé nunca chegou a construir sua casa no local, mas o comprador posterior ergueu uma residência com oito suítes e piscina em metade da área. Localizado em um condomínio à beira-mar, o imóvel foi colocado à venda em 2021 por R$ 1,8 milhão.

Relações pessoais e profissionais com baianos

Pelé manteve laços com figuras importantes no estado. Um dos mais próximos foi Alfredo Saad, empresário que presidiu o Bahia no início dos anos 1970 e era seu sócio em negócios — ambos eram grandes amigos. A esposa de Saad, Margarida, foi citada por Pelé como uma “grande amiga” que morava na Bahia, o que reforça o vínculo pessoal.

O radialista esportivo baiano França Teixeira também relatou que, em 1971, promoveu uma brincadeira no rádio simulando a contratação de Pelé pelo Bahia, uma pegadinha combinada com o próprio jogador.

Pelé na Fonte Nova
Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Declarações e homenagens

Pelé declarou diversas vezes seu carinho pelo estado, afirmando que “ama a Bahia” e que tem “muitos amigos baianos”. Embora não haja registros de ações filantrópicas, sua presença constante e seu prestígio ajudaram a inspirar gerações de torcedores e atletas.

A Bahia também prestou homenagens marcantes ao Rei. Em 1971, foi inaugurada na Fonte Nova uma estátua de bronze criada pela escultora Lucy Viana, o retratando erguendo a Taça Jules Rimet. Foi a primeira homenagem escultórica ao jogador no país. Após ser vandalizada em 2007, a obra foi restaurada pela artista Márcia Magno e reinaugurada em 2013, junto à Arena Fonte Nova.

Em Feira de Santana, uma rua foi batizada com seu nome em 1970, logo após se tornar tricampeão mundial. A relação do Rei com a cidade se fortaleceu em 1975, quando esteve no estádio Joia da Princesa para uma partida entre Santos e Fluminense de Feira, o Touro do Sertão, mas não entrou em campo. Assim, a presença de Pelé não se resumiu apenas aos gols e aos jogos; ela se consolidou em gestos de amizade, respeito e memória afetiva que atravessaram gerações de torcedores e atletas.

Em 2023, após sua morte, a arena foi iluminada em verde e amarelo, e clubes e autoridades locais prestaram tributos, reafirmando a admiração do estado pelo craque.

Estátua de Pelé na Fonte Nova

 

Jogos históricos na Bahia

Entre os jogos marcantes, destacam-se o de 30 de dezembro de 1959, quando Pelé abriu o placar na vitória do Santos por 2×0 sobre o Bahia pela Taça Brasil, e o de 25 de janeiro de 1964, na final da Taça Brasil 1963, quando marcou os dois gols do título santista.

Em 16 de novembro de 1969, durante um jogo entre Santos e Bahia na Fonte Nova, válido pelo campeonato brasileiro, Pelé poderia ter feito seu milésimo gol, ao driblar o goleiro e chutar da pequena área, quando Nildo “Birro Doido” evitou o gol em cima da linha, adiando o marco histórico que seria alcançado alguns dias depois, no Maracanã, contra o Vasco, em 19 de novembro.

Outro episódio de camaradagem ocorreu em 1962, na Fonte Nova, envolvendo o ex-meia do Bahia, Mário de Araújo. Durante o jogo, o então vice-presidente do clube, Benedito Borges de Mello, conhecido como “Seu Bené”, prometeu um relógio Rolex a Mário caso conseguisse dar um drible em Pelé.

Ao tomar conhecimento da promessa, o próprio Rei do Futebol decidiu facilitar a jogada, permitindo que Mário driblasse e ganhasse o presente. A história se tornou símbolo da generosidade e do seu bom humor, reforçando seu respeito e carinho pelos adversários.

Sua última aparição em gramados baianos foi em 1975, no Torneio Governador Roberto Santos, quando entrou em campo pelo Santos. O atacante aceitou jogar por mais 45 minutos naquele que ficou registrado como seu 1.115º jogo pelo time, contra o Bahia, no estádio da Fonte Nova, enquanto tirava férias do time norte-americano New York Cosmos.

No entanto, a volta do Rei do Futebol aos gramados não teve o impacto esperado. Apenas 14.536 torcedores compareceram ao estádio, e a partida terminou empatada em 1 a 1. Pelé deixou o campo ainda com 0 a 0 no placar; Alberto abriu o marcador para o Bahia no retorno do segundo tempo, e o empate do Santos veio pouco depois, com Brecha, substituto do lendário camisa 10.

Ao todo, Pelé disputou 21 partidas na Bahia, com 13 vitórias, 5 empates, 3 derrotas e 7 gols marcados — uma trajetória que une o maior jogador do mundo à paixão do povo baiano pelo futebol.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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