Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba.
DRT: 7543/BA
Publicado em 10/11/2025 às 15h40.
Antônio Carlos & Jocafi trazem ‘Afrofunk’ de volta para casa
A dupla baiana conversou com o bahia.ba sobre os shows em Salvador, memórias de 60 anos de carreira e parcerias que reacendem sua obra
João Lucas Dantas

A dupla baiana Antônio Carlos & Jocafi retorna à Salvador para apresentar o show “Afrofunk Brasil”, ao lado dos músicos da Orquestra Forte de Copacabana, no Salão Nobre da Caixa Cultural, nos próximos dias 21, 22 e 23 de novembro (sexta, sábado e domingo).
Dada a ocasião, o bahia.ba conversou com os músicos, nesta segunda-feira (10), e relembraram momentos mais marcantes das suas carreiras, como se conheceram, a sinergia musical que se estende há 60 anos, a importância da amizade, parceria com Russo Passapusso e o BaianaSystem, e tantos outros assuntos.
Donos de sucessos que embalaram o Brasil e o mundo, como ‘Você Abusou’, ‘Desacato’, ‘Toró de Lágrimas’ e os mais recentes ‘Mirê Mirê’ e ‘Pitanga’, ambos ambientaram as suas criações em cima dos ritmos das batidas do Candomblé, do Ijexá, do samba de roda da Bahia, e tantas outras influências da música afro-brasileira.

Início do Afrofunk
Antônio Carlos relembra que essa base musical vem muito da sua infância, já que cresceu a quatro casas de distância de Mãe Carmem do Gantois, filha de Mãe Menininha do Gantois, em Salvador. Suas primeiras músicas tinham relação direta com a religião de matriz africana.
“Essa minha relação com a música preta, religiosa, é muito grande. A minha primeira música foi totalmente do Candomblé, que só está sendo gravada agora, no disco novo que estou fazendo com Jocafi, celebrando 60 anos de carreira. Foi quando, ao lado de Ildásio Tavares (poeta, romancista, dramaturgo e compositor; 1940–2010), eu compus ‘Ossain (Bamboxê)‘, que viria a fundamentar toda a base do meu trabalho com Jocafi”, explicou o músico.
“Daí ele me apareceu com um refrão que era ‘Agué, agué / Ialaduiê / Evidalá é / É de Luanda‘, que se encaixou perfeitamente, e então incorporamos à música com Ildásio. Daí surgiu o pai e a mãe do funk da gente”, acrescentou.
Todas essas ideias já estavam muito presentes desde o primeiro disco da dupla, “Mudei de Ideia”, de 1971. Segundo Jocafi, o movimento do Afrofunk foi algo que surgiu de forma inesperada, e que só veio a ser batizado oficialmente por Russo Passapusso, já no período da pandemia, quando houve a aproximação entre os três.
“A gente não tinha ideia que essas músicas que nós fazíamos, no início da carreira, era sobre isso. Antônio Carlos, inicialmente, era mais ligado ao Candomblé do que eu. Minha influência era mais voltada à capoeira, ao samba de roda da Bahia, que sempre fui apaixonado. Para mim, era o ponto alto da música. Quando ele e Ildásio começaram a fazer músicas em iorubá, eu cheguei com um swing que estava faltando”, confirmou.
“Quando Russo disse para gente que estávamos fazendo um afrofunk, foi uma grande surpresa. Então ficou o nome do show de ‘Afrofunk Brasil’, e começamos a fazer um trabalho muito bonito com a Orquestra do Forte de Copacabana”, relembrou Jocafi.

Encontro com o Forte de Copacabana
Todo esse movimento de autodescoberta a respeito da própria música levou a dupla ao encontro com a Orquestra do Forte de Copacabana, inteiramente formada por jovens músicos, que viria a dar uma nova roupagem aos clássicos eternizados da música brasileira, sob a regência do maestro Luiz Potter.
Antônio Carlos relembra ter ensinado harmonia musical para muitos destes talentos cariocas da nova geração. “Eu estudei para ensinar para o meu filho, e daí comecei a ensinar violão pra eles e me entusiasmei. Agora, colocar essa levada do baiano é difícil. Desculpe a modéstia, mas nós somos um povo único. É muito difícil conseguirem tocar como a gente toca”, pontuou.
“O maestro é um gênio, mas fazer carioca tocar como o baiano é complicado”, brincou o músico, de forma bem-humorada.
Para Jocafi, trabalhar com o talentoso maestro Potter tem sido um trabalho muito bonito. “Essa orquestra é uma realidade muito linda do Rio de Janeiro. São crianças, adolescentes, maravilhosos, que aprenderam e são grandes músicos. E tenho a honra de comandá-los como presidente da ONG que arrebanhou essa moçada tirada das comunidades cariocas”, expressou.
“O maestro tem um conhecimento muito grande da música erudita, assim como jazzístico. Ele incrementou a nossa parte e fez com aqueles meninos coisas muito além do que eu poderia esperar”, acrescentou.

Nascimento da “dupla de três”
No ano de 2019, nasceu uma parceria que viria a mudar drasticamente o rumo da carreira da dupla, para melhor, claro. Foi lançada as faixas do BaianaSystem no disco “O Futuro Não Demora”: ‘Água’, e ‘Salve’, além do single ‘Miçanga‘, de 2020, sempre a convite do agora amigo Russo Passapusso.
De lá para cá, um disco inteiro produzido junto com o músico em carreira solo, o “Alto da Maravilha”, de 2022, e mais três músicas com o Baiana, em o “O Mundo dá Voltas”, de 2025. A dupla também adianta que já tem mais 12 músicas compostas ao lado de Russo, esperando o destino de um novo álbum.
“Russo é tudo pra gente. Ele era para ter nascido em 1945, mas nasceu há cerca de 40 anos, porque ele entende exatamente a forma que a gente compõe. Ele é um gênio maravilhoso, assim como todos os meninos do BaianaSystem. Sempre que eu vou na Bahia eu tô com ele, e sempre que ele vem ao Rio ele tá comigo”, declarou Antônio Carlos ao amigo.
“Começamos a fazer música na pandemia, quando estávamos presos em casa, para o nosso disco Alto da Maravilha e para o Baiana. Todo esse sucesso recente, a gente vem tendo graças a ele. Foi uma junção que deu muito certo. Já temos 12 músicas compostas para o nosso próximo álbum juntos, que queremos chamar de ‘Dupla de Três’“, completou.
Antônio Carlos & Jocafi sempre buscaram o inusitado, fugir do roteiro das tendências atuais, como pontua o próprio Jocafi. “Eu sempre quis fazer coisas diferentes nas letras e nas melodias, Antônio Carlos tem a mesma ideia, e mais ainda Russo. Ele relança com modernismo, criando uma coisa que nunca fizeram nesse país. Nós nos unimos por esse gosto pelo inesperado, buscando o que nunca foi feito”, salientou.
No auge dos 80 anos, a dupla afirma que essa parceria deu uma vida nova ao rico trabalho musical que vêm fazendo há quase seis décadas sem parar. “A gente quer coisas novas. A música é profundamente expansiva, é para todo mundo”, deseja Jocafi.
“Qualquer coisa que eu tenha feito mesmo sem Jocafi é de Antônio Carlos & Jocafi”
Em uma união artística tão grande, 60 anos de uma amizade que extrapola os limites das notas musicais, é de se perguntar como se dá o processo criativo das composições musicais entre os dois, e é sobre isso que falaremos agora.
Segundo Antônio Carlos, não há uma divisão de funções na hora de compor, se necessário, cada um faz a sua e é de autoria dos dois. “Hoje de manhã, acordei com Jocafi me mandando uma jogada. Em cima dessa levada, a gente faz um milhão de músicas. Fazemos a pegada, para ter aquela coisa bem pulsante, e depois fazemos a música em cima”, explicou.
“Eu e ele funcionamos como um só. Existem três compositores entre nós. Jocafi, grande compositor, eu fazendo minhas músicas, e as composições de Antônio Carlos & Jocafi. Essa parceria não poderia ser melhor. Mesmo estando com 80 anos, nós continuamos com aquele fogo de compor”, esclareceu.
Jocafi contou que sua amizade com o parceiro nasceu do intermédio do maestro baiano Carlos Lacerda (1934–1979), pianista e compositor, muito ativo entre as décadas de 1950 e 1960.
“Ele foi um bom amigo. Uma pessoa extremamente humana. Lacerda nos juntou e foi responsável por toda aquela leva musical baiana dos anos 50 e 60, e eu fui um dos últimos que ele abraçou e amou. Me ensinou muito a mim e a Antônio Carlos. Ele fez a gente estar junto”, rememorou.
Bom filho à casa torna
Se há um elemento maior de influência para os dois, ambos expressam ser suas raízes na Bahia. Os dois soteropolitanos passaram a vida cantando sobre esse estado de paixão, que é a terra natal.
“A gente nasceu no estado que inventou o samba, nos seus primórdios. É uma manifestação africana, trazida pelos escravizados, que nos deram não só a musicalidade, mas que comandam o mundo nesse momento. Tudo que a África nos trouxe foi maravilhoso, modificando a linguagem musical do mundo, dos primeiros momentos, até chegar em um baiano de Juazeiro (João Gilberto), e tinha que ser um baiano, quando começou a fazer Bossa Nova, que não deixa de ter essa influência, porque vem do Jazz, que também é africano”, projetou Jocafi.
“Nós vivemos para conviver com as influências da negritude o tempo inteiro. As levadas negras são dançáveis, fáceis de pôr letras, uma revolução mundial diante da música europeia, que era uma coisa mais para um lado erudito, clássico”, acrescentou.
Já Antônio Carlos afirma que é difícil encontrar uma música composta por ele que não se refira a sua primeira casa de alguma forma. “Russo falou uma coisa que me marcou. Eu saí da Bahia, mas a Bahia não saiu de mim. De nós. Tudo que falo ‘eu’, estou falando de mim e Jocafi”, expressou.
Questionados sobre voltar à Salvador, para apresentar o show durante um fim de semana inteiro, ambos falam com muito carinho sobre a oportunidade de estar cantando por aqui novamente, como expressou Antônio Carlos. “Cantar na Bahia é cantar em casa. É o meu chão. Sou apaixonado. É um privilégio e eu estarei dando o melhor de mim”.
“Eu sempre gostei de fazer show aí. O público baiano é diferenciado. A gente tem que ter um cuidado maior aí. Não é só pela força da criação que você tenha, tem que ser executada de uma maneiro a contento. Se a gente cantar desafinado, o público vai perceber, porque os baianos têm música na cabeça. A Bahia canta sozinha, por si só. O samba de roda ninguém sabe quem criou. Foi a própria Bahia que fez”, contou Jocafi.

Para além das fronteiras
A dupla segue sendo um dos artistas brasileiros mais regravados mundo afora, adaptado para diversos idiomas, e cantado por artistas de diversos países.
Eles abriram caminhos graças sobretudo a ‘Você Abusou’, que virou um daqueles temas que parecem nascer já prontos para ganhar passaporte. A canção ganhou a leitura francesa ‘Fais Comme l’Oiseau’, eternizada por Michel Fugain, que a transformou em hit massivo na Europa.
Depois, atravessou o Caribe e voltou em clave de salsa com Celia Cruz e Willie Colón, na incendiária ‘Usted Abusó’. A dupla também deixou outras marcas além desse clássico. Músicas como ‘Desacato’, ‘Toró de Lágrimas’ e ‘Kabaluerê’ conquistaram vida própria e circularam em trilhas, regravações e até samples usados por artistas internacionais.
No fim das contas, Antônio Carlos e Jocafi se tornaram um daqueles casos em que a canção viaja mais rápido que o compositor, espalhando a assinatura deles por continentes sem perder a essência que nasceu aqui.
Ao relembrar esses causos internacionais, de quando as canções renascem em novas vozes, Antônio Carlos diz ser “muito bacana quando somos reconhecidos fora do Brasil”. Já Jocafi, diz ser uma “alegria muito grande”.
“Graças ao bom Deus, temos duas músicas que rodaram muito bem. ‘Você Abusou’ foi sucesso no mundo todo. Mas a versão mais conhecida é a letra em francês, que acabou se tornando hino do partido socialista da França. Ganhou todos os países por conta do Michel Fugain”, relembrou Antônio Carlos.
Porém, o cantor afirmou que, quando a música roda, deixa de ser dele. “Quando a música faz sucesso, ela não é mais sua. A partir do momento que ela cai na rádio, no mundo, acabou”.
Renovação de público
Um dos grandes efeitos da parceria duradoura com Russo Passapusso e o BaianaSystem, que segue acontecendo, é a renovação de um público jovem, que vem redescobrindo toda a potência musical da dupla, seja na fase atual, mas encontrando também os vinis dos álbuns das décadas de 1970 e 1980, ou os antigos sucessos nas plataformas digitais.
“Isso não tem preço. É maravilhoso. Fizemos um show com o Baiana há um mês, em uma participação, no Rio de Janeiro. E é muito diferente do nosso tempo. Para a música chegar na boca do povo, antigamente, tinha que chegar pelo rádio. Hoje, eu canto ‘Mirê Mirê’, e eles cantam junto. É uma loucura. Muito bom poder ainda vivo ter essa alegria de ser conhecido pelos jovens. Me sinto privilegiado”, agradeceu Antônio Carlos.
“A gente achava que tinha jogado fora um talento. Mas graças a Russo, que nos redescobriu, e foi ótimo. Pegou a levada baiana que a gente tinha, com a música preta, vinda da África. Eu achava que aquilo já estava perdido. Mas a nova geração disse ‘não, isso é um trabalho bonito’. Pegaram os vinis e descobriram algo novo”, acrescentou Jocafi.
Com seis décadas de trajetória, a dupla Antônio Carlos & Jocafi prova que a amizade, o respeito às raízes afro-brasileiras da Bahia e a busca incessante pelo inesperado são os combustíveis para a longevidade artística.
A volta a Salvador para apresentar o show “Afrofunk Brasil“, ao lado dos jovens talentos da Orquestra Forte de Copacabana, e o entusiasmo com a nova fase de parcerias ao lado de Russo Passapusso e o BaianaSystem, ressaltam o vigor e a atemporalidade de uma obra que não só embalou o Brasil e o mundo, mas que continua a se renovar e a inspirar novas gerações.
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