Publicado em 14/11/2025 às 16h27.

MPBA denuncia líder e 23 suspeitos de rede nacional de tráfico de aves silvestres

Operação revela estrutura milionária e ramificações interestaduais do grupo comandado por “Paulista”

Redação
FOTO: MPBA

 

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou Weber Sena de Oliveira, conhecido como Paulista, e outras 23 pessoas apontadas como integrantes da maior rede de tráfico de aves silvestres do país. As acusações, apresentadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e por promotorias ambientais do sul da Bahia, incluem organização criminosa, tráfico de animais, lavagem de dinheiro, receptação qualificada e maus-tratos.

A investigação ganhou novo fôlego após uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em 7 de janeiro, na BR-101, nas proximidades de Itabuna (sul da Bahia), quando Paulista foi preso em flagrante transportando 135 aves em situação irregular. Alvo de apurações há mais de duas décadas, o suspeito chegou a ser detido preventivamente em setembro, durante a primeira fase da Operação Fauna Protegida.

As cinco denúncias formalizadas pelo MP-BA quatro delas entre 29 de outubro e 10 de novembro  foram apresentadas no mesmo período em que a COP30 teve início, em Belém (PA), conferência que coloca a proteção da fauna no centro das discussões ambientais globais. Segundo o ICMBio, o Brasil registra hoje 1.254 espécies e subespécies ameaçadas de extinção.

Rede interestadual

De acordo com o MP, a organização criminosa atuava principalmente na Bahia, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, com ramificações pontuais no Espírito Santo. O grupo era composto por 14 fornecedores, cinco receptadores, três transportadores e uma operadora financeira responsável pela movimentação de recursos.

As denúncias afirmam que a logística do tráfico envolvia grandes remessas  algumas com mais de mil aves  e o uso de armadilhas e redes de até 20 metros, capazes de capturar 500 animais em um único dia. Entre as espécies negociadas estavam estevão, canário, chorão, papa-capim, trinca-ferro, azulão e pássaro-preto. Há registros de vendas que chegaram a R$ 80 mil.

Movimentação milionária

As investigações apontam que apenas entre fevereiro e agosto de 2023, quase R$ 500 mil circularam em contas de Ivonice Silva e Silva, companheira de Paulista, indicada como responsável por receber os pagamentos pelas encomendas e repassar os valores aos fornecedores da Bahia e de Minas Gerais.

Boa parte das transferências teria partido de terminais de autoatendimento de Magé (RJ), onde vive Valter Nélio, o Juninho de Magé, também denunciado por lavagem de dinheiro.

A rota do tráfico que parte do sudeste da Bahia e nordeste de Minas em direção ao Rio de Janeiro  foi identificada a partir de 31 “manchas de calor” que indicam a recorrência de apreensões. O mapeamento foi produzido pelo projeto Libertas, da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa).

Operação coordenada em 11 estados

A segunda fase da Operação Fauna Protegida, deflagrada em 29 de outubro, resultou no cumprimento de dois mandados de prisão preventiva, 17 de busca e apreensão e três novas prisões em flagrante. As ações ocorreram na Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e integraram uma mobilização nacional envolvendo ministérios públicos estaduais, polícias ambientais e órgãos de fiscalização, com atuação em 11 estados.

Para a promotora de Justiça Aline Salvador, a articulação entre as instituições foi decisiva para o avanço da investigação.
“É uma resposta contundente do Estado para promover a proteção da fauna, essencial para um meio ambiente equilibrado”, afirmou.

O promotor Augusto César Matos, coordenador do Ceama, destacou que os resultados refletem um esforço conjunto de inteligência e compartilhamento de recursos. A operação integra uma ofensiva nacional contra o tráfico de fauna silvestre, que abastece feiras clandestinas e pontos de comércio irregular, sobretudo com aves capturadas nos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

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