Eleição: razão ou sensibilidade?
Os candidatos quase nunca revelam exatamente o que pensam do mundo e o que, de fato, propõem à sociedade como solução para os problemas

Ao examinar o Modelo de Inteligência Afetiva pode-se notar que ele tem como pressuposto básico a ideia de que as emoções surgem anterior e independentemente da razão (atividade cognitiva). Isso ocorre porque o processamento das informações se realiza primeiramente por regiões do cérebro ligadas à ativação de estados emocionais e, por isso, é tão comum gostarmos ou não de alguém ou de alguma coisa antes mesmo de conhecer exatamente o que verdadeiramente são.
O modelo sustenta que as emoções possuem duas dimensões distintas, sendo uma positiva, denominada entusiasmo, e outra negativa, chamada ansiedade. O entusiasmo conduz a um estado de predisposição à aceitação e a ansiedade, ao contrário, nos leva a um sistema de vigilância, de avaliação e de cautelas diante do novo.
Essas emoções são frequentemente utilizadas em substituição à racionalidade da avaliação política e acabam por influenciar nossas escolhas e nossos votos. Isso não é novo. Aristóteles argumentava que os oradores sensibilizavam as multidões utilizando um tipo de retórica carregada de sentimentos, denominada pathos. No Século XV, Maquiavel procurou demonstrar aos príncipes não somente a importância de ser amado pelos súditos, mas principalmente temê-los. E Weber chamou de carisma a capacidade de dominação política por meio de atributos inerentes e excepcionais que estimulam a adoração às lideranças políticas.
Mais recentemente, na era da mídia eletrônica, fica ainda mais evidente a intenção de provocar impactos de apelos afetivos nas campanhas políticas, seja por meio da divulgação de frases rápidas e superficiais nas mídias sociais, seja pela divulgação de fotos bem montadas, quase sempre procurando emocionar os eleitores. Em poucas oportunidades são apresentados programas de governo ou plataformas eleitorais.
Mesmo guiado pela sensibilidade,
eleitor não pode abrir mão da razão
O processo de decisão sobre em quem votar, quando não influenciado por interesses próprios, acaba sendo marcado pelo entrelaçamento da razão com sensibilidade; pela antítese entre os sentimentos de euforia e decepção com os políticos e também pela crítica racional sobre a proposta real e efetiva de cada candidato.
A dificuldade que tem o eleitor é conseguir alcançar a razão porque os candidatos quase nunca dizem ou revelam exatamente o que pensam do mundo, suas efetivas preocupações e prioridades e o que, de fato, propõem à sociedade como solução para os problemas bem conhecidos por cada um. Não se deve permitir que conquistem nossos votos somente despertando a simpatia ou admiração. Precisamos de mais: queremos saber o que o candidato já fez ou o que fará. O período eleitoral não é a época de semear promessas ou encantamentos, mas o momento de colher o que até aqui se plantou, com atitudes reais, com exemplos de trabalhos ou com reflexões amadurecidas sobre os reais problemas da vida.
Aqueles que despertam nossa predisposição precisam trabalhar para transformar nossa emoção em razão de votar. Acaso não façam isso, não merecem nosso voto.
Por mais que o eleitor seja guiado pela sensibilidade, não se pode abrir mão da razão, como de alguma forma aprenderam Elinor e Marianne – personagens de Jane Austen, num clássico da literatura inglesa do Século XIX (Sense and Sensibility) – ao notarem ser preciso saber olhar além da superfície que, coberta também de razões ou sensibilidades, pode enganar ou revelar as grandes surpresas.
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