Graduada e mestre em Relações Internacionais, com foco em Geopolítica; tem experiência em análises conjunturais para diversos institutos de pesquisa da PUC MINAS, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Groningen, na Holanda; já trabalhou na pesquisa e redação de clippings e notícias para a base de dados CoPeSe, parceria com o programa de Voluntariado das Nações Unidas.
Afinal, o que é terrorismo?
O bahia.ba te explica a diferença entre terrorismo e violência política

Nesta quinta-feira (07), atendendo a um pedido dos Estados Unidos, o governo do Líbano anunciou que dará início ao processo de desarmamento do Hezbollah e de outras milícias que operam no território libanês. O primeiro-ministro Nawaf Salam divulgou a medida, a qual está inserida no contexto de um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah. O cessar-fogo foi anunciado em novembro de 2024 e possui intermediação pela administração estadunidense. A expectativa é de que o desarmamento dos grupos paramilitares seja concluído até o fim deste ano.
Você sabe o que é o Hezbollah? E qual a diferença entre terrorismo e violencia política? Hoje, vamos trazer uma breve explicação e o por quê dessa diferenciação ser relevante no mundo de hoje.
O que é o Hezbollah?
O Hezbollah (ou Hizbollah) é um grupo político e militar fundamentalista islâmico xiita baseado no Líbano. Fundado no ano de 1982, surgiu durante a ocupação israelense no sul do país a partir de líderes religiosos xiitas, influenciados pela Revolução Iraniana e pelo regime do aiatolá Khomeini. Com apoio do Irã, tornou-se uma força relevante na política local. O grupo também atua na prestação de serviços sociais, administrando escolas, unidades de saúde e iniciativas agrícolas voltadas à população libanesa.
É considerado uma organização terrorista por países como Estados Unidos, Argentina, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e Alemanha, embora também exerça papel significativo na política libanesa, com representação no Parlamento e influência em diversas áreas do governo. Seu braço armado é amplamente treinado e armado e, em 2013, foi considerado como uma organização terrorista pela União Europeia. Na seção abaixo, vamos olhar mais a fundo sobre o que é terrorismo e o que é uma organização terrorista.
O que é terrorismo?
Durante toda a história da humanidade, terrorismo sempre existiu. Mas terrorismo, como conhecemos hoje, surgiu a partir da revolução Francesa, com o surgimento do Estado moderno e se desenvolveu ao longo dos séculos XIX e XX. O o que o diferencia das práticas entendidas como terrorismo pré-estado Moderno é que as práticas atuais de terrorismo não são apenas defensivas, mas sim ofensivas, ou seja, tem o objetivo de ser transformador, criar uma nova ordem.
Atualmente, no meio acadêmico, não há apenas um entendimento do que é terrorismo, o que tem consequências claras tanto para quem é estudioso do assunto, quanto para formuladores de políticas. A dificuldade de uma definição única de terrorismo se dá pois trata-se da tentativa de atribuir sentido a algo que não possui uma definição objetiva, mas sim que é entendido de diversas formas a depender da lente que se olha. Ademais, terrorismo é fortemente influenciado pela percepção popular de medo e ameaça. Terroristas costumam ser vistos como bárbaros, insanos, anormais, doutrinados ou cegos por ideologias. No entanto, muitos indivíduos e grupos que foram classificados como terroristas no passado hoje não seriam percebidos dessa forma, por não corresponderem mais ao imaginário popular sobre o que é um terrorista.
Essa dificuldade em conceituar o terrorismo é relevante por causa das implicações políticas e das respostas institucionais. O que é feito em resposta a um ato terrorista depende diretamente de como esse ato é nomeado. Da mesma forma, as medidas adotadas em relação a organizações terroristas dependem fortemente do fato de elas serem compreendidas — ou classificadas — como organizações terroristas.
Apesar das diferentes tentativas de definir terrorismo, há algumas características em em comum que estudiosos do tema entendem como consenso. Primeiro, o terrorismo é uma atividade, tática ou estratégia específica. Trata-se da manipulação do terror, ou seja, a criação deliberada de medo com o objetivo de alcançar um objetivo político. Aqui, é importante entendermos o que é o terror. Terror é um estado mental caracterizado por medo e ansiedade intensos diante de um perigo iminente, manifestando-se tanto em nível individual quanto coletivo de temor. Trata-se de um estado psicológico que pode ser provocado por diversas formas de violência e não está necessariamente restrito à atos de terrorismo.
Um segundo consenso é que terrorismo é um rótulo negativo, pouco aceitado pelos que os praticam. A maioria das organizações rotuladas como terroristas prefere se autodenominar libertadoras ou organizações de defesa. Por fim, também é essencial entender que o terrorismo está enraizado em um contexto social, político e cultural específico, e não pode ser compreendido fora dele. Para entender o propósito do terrorismo, é preciso situá-lo adequadamente em um espaço-tempo, observando o papel que ele desempenha em determinado contexto.
Para além do consenso, há algumas divergências nos estudos de terrorismo, sendo uma das principais a pergunta se um Estado pode ou não ser considerado um grupo terrorista. Um dos principais estudiosos do tema, Alex Schmid entende que grupos estatais podem sim serem considerados terroristas quando empregam ações violentas repetidas, por razões idiossincráticas, criminosas ou políticas. Já o Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, não considera que um país possa ser classificado como terrorista.
Toda essa conversa se faz relevante porque, se considerarmos que um Estado pode ser um agente terrorista, o problema é: como separar um sistema estatal de terror de uma ação estatal de terrorismo? Se um Estado pode ser considerado grupo terrorista, como diferenciar um sistema de terror de ações de terrorismo? E quais seriam as consequências (geo)políticas e jurídicas que isso poderia ter? Seria aceitável a existência de um Estado terrorista?
Apesar desses questionamentos, vamos relembrar o consenso existente:
- O que é o terrorismo: um tipo de violência política que existe desde os tempos antigos. É uma uma tática que envolve o uso deliberado de terror Terrorismo vai para além do alvo direto de terrorismo e atinge vítimas não combatentes.
- O que o terrorismo não é: equivalente à violência política. Não é uma ideologia. Não é um movimento social nem algo que possa ser “derrotado”.
Mas, se terrorismo não é violencia política, o que então seria? Violência política é aquela realizada com o objetivo de alcançar fins políticos. Ela não se limita a uma única ideologia, ator ou método, e pode ser cometida por Estados, atores não estatais e indivíduos. Violência politica é um termo guarda-chuva que se refere a uma ampla variedade de formas de violência, como insurgência, genocídio, motins, assassinatos, terrorismo, entre outros. Dessa forma, todo ato de terrorismo é uma forma de violência política, mas nem toda violência política é uma forma de terrorismo.
Esperamos que essa diferenciação facilite a compreensão de futuras notícias sobre o tema. O bahia.ba reafirma seu compromisso com a informação do leitor, simplificando conceitos essenciais para ajudar a entender, de forma clara, os acontecimentos mais relevantes ao redor do mundo.
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