Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
Luto: o substantivo e o verbo
O luto substantivo jamais deixará de ser verbo, pronto para ser conjugado na conquista de espaços que, historicamente, sempre foram sonegados às mulheres
O resultado da voz das ruas para alguns, a execução de um atentado à democracia para outros, mas o certo é que os acontecimentos do dia 11 de maio mudaram o cenário, o rumo e a rota do nosso país, pois, mesmo que uns não queiram, deram contornos definitivos ao prenúncio de um fim melancólico para o mandato da primeira mulher chefe de governo republicano no Brasil.
Vítima de seu temperamento prepotente e arrogante, aliado à incapacidade administrativa e a uma inabilidade inadmissível a uma chefe de governo para negociar com o Congresso, a outrora denominada “Mãe do PAC” (Plano de Aceleração do Crescimento), além de perder a governabilidade e a popularidade, entra para a história como a mãe da pior crise ética, política e econômica da história deste país.
Se a crise política teve como maior vítima a própria mandatária, com reflexos em toda a República, o fato de Michel Temer formar um Ministério sem mulheres e sem negros, abriu um novo debate sobre o machismo e o racismo na política. Afinal, este é o primeiro time de ministros exclusivamente masculino desde a gestão do presidente Ernesto Geisel, durante a ditadura militar.
Nesse sentido, não faltou quem, mesmo sendo favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, passasse a ver o governo Temer com cara de passado, principalmente porque, além da ausência de mulheres e de representantes de outras minorias e dos movimentos sociais, na reforma administrativa implementada com o objetivo de reduzir os custos da máquina pública, procedeu-se à incorporação da Secretaria das Mulheres ao Ministério da Justiça que passará a ser chamado de Ministério da Justiça e Cidadania.
O lugar que as mulheres vêm conquistando é pela consciência de que o mundo masculino não lhes bastaria
Em meio à polêmica que se estabeleceu nas redes sociais e na mídia, também não faltou quem, em alto e bom som, se rebelasse quanto à ditadura do politicamente correto, recusando-se a aceitar a presença das mulheres e de outras minorias no novo ministério apenas como um simbolismo da forma de fazer política, promovendo justiça, inclusão, equidade e mudança. Afinal, o lugar que as mulheres vêm conquistando é por mérito, por luta e pela consciência de que o mundo masculino, independentemente de coloração ou ideologia, não lhes bastaria.
Do tempo em que a casa era a regra e o mundo político a exceção até os dias atuais é uma longa e inacabada jornada, portanto, entendo a decepção de muitas mulheres com a vida politica nacional, pois diante de perdas o sentimento de luto emerge. Nesse sentido, enquanto muitas brasileiras estão de luto pelo afastamento da presidente, outras também o vivenciam por não se verem representadas no primeiro escalão da equipe de governo que tomou posse no lugar da que foi substituída.
Não estou iludido de que o provável fim da gestão Dilma Rousseff seja o ponto final dos graves problemas políticos e econômicos que estamos vivenciando neste país, mas, com certeza, é um caminho de esperança para uma nação em crise que perdeu a fé na sua primeira governante.
A sorte está lançada! Que seja a história a juíza de si mesma. Nessa lógica, não é sem sentido que tudo isso acontece em um mês que, como o próprio nome indica, parece dedicado às mulheres e, coincidentemente, não por outra razão, também se inicia com “m”: de mãe, de Marias. Assim, não tenho dúvidas de que esse luto substantivo, jamais deixará de ser verbo, pronto para ser conjugado, a qualquer hora e lugar, na conquista de espaços que, historicamente, sempre lhes foram sonegados.
Mais notícias
-
Artigos
16h17 de 18 de novembro de 2024
OAB-BA passa por um processo de transformação sem igual
Artigo de Sophia Brust
-
Artigos
08h22 de 05 de novembro de 2024
Lágrimas que molham as calçadas do mundo
Por André Curvello
-
Artigos
12h30 de 02 de novembro de 2024
Camaçari, presente e futuro
Texto de Luiz Caetano
-
Artigos
07h50 de 12 de agosto de 2024
O facão da liberdade e do respeito
Texto de André Curvello
-
Artigos
08h27 de 17 de maio de 2024
Bahia: transição energética, sustentabilidade e inclusão
Jerônimo Rodrigues, governador da Bahia
-
Artigos
14h58 de 29 de abril de 2024
Previdência de Salvador: um olhar sobre o passado, renovação e sustentabilidade
Texto de Daniel Ribeiro Silva (foto)
-
Artigos
13h07 de 08 de março de 2024
Qualidade de vida: as mulheres ainda estão em desvantagem. Até quando?
Texto de Leila Brito (foto)
-
Artigos
18h21 de 03 de março de 2024
A Procuradoria Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público lideraram um [...]
Texto de Agusto Aras
-
Artigos
09h31 de 18 de fevereiro de 2024
Na escola, começamos mais um capítulo da Nova Bahia
Artigo do governador Jerônimo Rodrigues
-
Artigos
07h16 de 26 de dezembro de 2023
Mais presente, mais futuro
Artigo de André Curvelo