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Segurança precisa de mais debate sério e de menos falácias na Bahia
Dados da violência na Bahia seguem destacados a nível nacional, embora números venham caindo

Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, seguem alarmantes para a Bahia. Ano após ano, o estado se destaca negativamente no levantamento, ocupando, em números absolutos, o topo dos rankings de mortes violentas e também de letalidade policial.
Em 2024, foram 6.036 mortes violentas na Bahia, número que representa uma queda na comparação com 2023, quando 6.579 pessoas foram assassinadas no estado.
Observando a proporcionalidade, os números também assustam. A Bahia apresentou uma taxa de 40,6 mortes violentas a cada 100 mil habitantes em 2024 (eram 44,4 em 2023), sendo superada apenas pelo minúsculo estado do Amapá, com taxa de 45,1.
Apesar da queda registrada por três anos consecutivos na Bahia, os dados seguem absurdamente grandes. Não há como minimizar o caos vivido nos últimos anos pelos baianos, que agora temem sair de casa para trabalhar ou para curtir um lazer no final de semana.
Mas o pior é não ver solução no horizonte. Ao abrir os portais de notícias para se informar, o baiano vê o governador Jerônimo Rodrigues (PT) afirmar que a Bahia é um estado de paz, negando não apenas os números, mas também a realidade do dia a dia.
Ao comentar o assunto, Jerônimo também costuma transferir responsabilidades para o governo federal, afirmando que as fronteiras do Brasil são vulneráveis para a entrada de armas e drogas, alimentando assim o crime organizado na Bahia e em outros estados.
O governador até tem razão nessa parte. Apesar da redução dos dados de violência também a nível nacional, vê-se pouco esforço do governo federal para estrangular financeira e operacionalmente as organizações criminosas brasileiras. Isso é visível no governo Lula, mas também era na gestão de Bolsonaro.
Por outro lado, Jerônimo não consegue explicar os motivos de, mesmo com fronteiras desprotegidas, outros estados conseguirem reduzir a violência em uma velocidade maior do que a Bahia. São Paulo, por exemplo, fez cair seu número de mortes violentas nos últimos 12 anos de 6.328 para 3.751.
A solução falaciosa
No dia a dia de Salvador, muitos reclamam que falta mais firmeza no combate à criminalidade. Líder da oposição na Bahia, ACM Neto (União Brasil) afirma que o governador precisa se envolver mais diretamente na segurança pública, mas nunca explica exatamente o que isso significa. A ideia é vestir um colete à prova de balas, pegar em um fuzil e se juntar a policiais em operações? Não fica claro.
Neto também usa o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), como referência de combate à criminalidade. Sob o comando do seu atual gestor, os goianos viram o número de mortes violentas despencar de 2.705 em 2018 para 1.379 em 2024, em um caso que é considerado um sucesso por todo o país.
A fama da Polícia de Caiado é a mesma que possuía a do velho ACM: aquela que aplica a lógica do “bandido bom é bandido morto”. Em recente visita a Salvador, o governador goiano afirmou que é preciso “deixar a Polícia trabalhar”. Nas ruas da capital baiana, parte da população, sem conhecer a realidade do enfrentamento à criminalidade, reclama que gostaria de ver isso de novo por aqui.
O problema é que o mesmo Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que essa suposta solução já vem sendo aplicada no estado. E não funciona. A Bahia é o estado com mais mortes decorrentes de ações policiais: 1.556 durante todo o ano de 2024, muito acima das 372 mortes registradas em Goiás, no governo de Caiado.
Ou seja: os números deixam claro que há mesmo uma violência absurda na Bahia e que a Polícia baiana já responde também com muita violência. Tudo isso mostra que o modelo aplicado pelos governos petistas no estado não resolve o problema.
Para piorar, é possível verificar no discurso de grande parte da oposição que a solução defendida por eles é aplicar o modelo de resposta violenta que já é aplicado, como se não fosse isso que a Polícia da Bahia já faz no dia a dia.
Assim, a população fica presa em um debate entre um governo que não sabe o que fazer com o problema e uma oposição que, ao oferecer como solução uma prática que já é feita e que fracassa, também demonstra que não sabe como agir.
O discurso fácil pega no eleitorado, mas não se sustenta no longo prazo. A retórica não cicatriza as chagas da violência. Sem seriedade no debate público sobre o tema, continuaremos fracassando. E, ao fracassar nessa área, nenhum povo consegue ser completamente feliz. Sem gente feliz, governo não se mantém de pé.
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