Liliana Peixinho é jornalista, ativista social, integrante de diversos grupos de luta e defesa de direitos humanos. Fundadora e coordenadora de mídias livres como: Reaja – Rede Ativista de Jornalismo e Ambiente, Mídia Orgânica, O Outro no Eu, Catadora de Sonhos, Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente, RAMA -Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação.
Velho discurso em novas plataformas
Ano eleitoral comprova o que já se sabe: nada mudou na política brasileira. O ranço do marketing político tradicional, agressivo e compressor, continua em vigor
Mesmo com a falta de credibilidade dos partidos, no Brasil, impressiona o apelo de programas pagos em horário nobre em mídias de largo alcance como televisão e rádio. Os parlamentares e representantes de legendas tratam o serviço como um negócio e tentam seduzir “clientes” em linguagem ultrapassada, destaque para dados sobre o número de municípios e estados onde estão representados, em discurso, insosso, cínico, cara de pau e sem novidades. A agonia da mensagem é revelada em leituras mal feitas de textos produzidos pelo marketing político de cada legenda, que, embora muitas, centenas, o discurso tem o mesmo formato. E fico aqui pensando que tipo de eleitor ainda se deixar enganar, acreditar, em discursos tão rasos! E porque nós, eleitores, ainda somos obrigados, direta ou indiretamente, a pagar caro, por uma audiência imposta, no automático.
Fiz uma pesquisa entre amigos, familiares e conhecidos, para saber quem desliga a TV, por exemplo, durante a exposição desses programas, diluídos ao longo de todo o ano. De 50 pessoas contatadas somente três disseram que desligam a TV e a quase totalidade disse que por estar na frente do televisor, não se esforça para desligar a TV. Dessas pessoas, 20 têm TV a cabo, condição que até os fariam esquecer outras programações, em canal aberto, e mudar a programação. O que poucos o fazem. A maior parte disse que deixa a TV ligada, mas sai do sofá para fazer outra coisa: ir ao banheiro, à cozinha, fazer uma ligação telefônica, preparar uma merenda, para não perder a programação que se preparou para assistir, seja um jornal, uma novela, um programa de entretenimento. Dos que veem a programação partidária, a maioria disse que gosta de ver para poder dar risada ou mesmo criticar o discurso dos candidatos, do partido, seja qual for a legenda.
Não há nada de novo em quem defende
discursos velhos como novas políticas
Em ano de eleição, e com tanta falta de credibilidade dos partidos e dos políticos, fico a pensar o que novos partidos, surgidos sempre em rastros de outros, por decepção, por busca de espaço ou mesmo por disputa de novos discursos, podem fazer, de fato, para não repetir erros que estão a combater, em vícios históricos, como a cata de eleitores, filiados, militantes! E o que pensam e querem essas pessoas, sobre as legendas que carregarão nas costas, na cabeça, no ombro, na mente e até no coração, como dizem alguns por ai? Uns pagos para isso, outros pagando o que não têm querer acreditar que o voto é direito sagrado e que não pode ser jogado fora, vendido, negociado, trocado como moeda eleitoral.
Vemos alguns partidos, antes chamados de nanicos, ganharem força, visibilidade e representação, Brasil afora. O caminho tem sido o mesmo, baseado em práticas de antigas legendas, onde fisiologismo, panelinhas, puxa-saquismo e brigas cínicas estressam os espaços por disputa de apoios às candidaturas que defendem, por amizade ou profissionalismo. Não vejo nada de novo em quem defende discursos velhos, como novas políticas. O ranço do marketing político tradicional, agressivo e compressor, continua em vigor. E, se acham que tem funcionado para os velhos objetivos, por que mudar? Será que o eleitor está mesmo exigente para discernir entre quem, como, o que quer, e precisa acreditar, para justificar suas escolhas de representação?
Tenho visto um movimento, nesse mercado, que ganha força, em novas formas de captação de recursos, via plataformas crowndfunding, financiamento coletivo de projetos, ações, para dar cara nova, ao velho fazer de conta. Os mecanismos até são novidade para um país com sujeira histórica entre campanhas e financiadores delas. As velhas formas de viabilizar o discurso continuam a consumir tempo, recursos e paciência, para encarar palestras, participar de eventos de formação política, com discursos velhos, em cara travestida de nomes robustos, generalistas, nos quais análises de conjuntura política, cenários, problemas e desafios, continuam na pauta. Mas, sem apontar caminhos que realmente incluam os que, desconfiados, ficaram traumatizados, decepcionados, escaldados de novos discursos, para velhas práticas. E tem é gente desmotivada a se mobilizar, para participar de plenárias, cenários sedentos de poder e ego espelhados em selfies rasas, Brasil afora. E ainda bem! Quem sabe o “não” abra espaço para o “talvez”!
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