Publicado em 14/02/2020 às 18h20.

Liberdade de imprensa atropelada, diz Sinjorba sobre condução de jornalistas pela PM

Entidade quer que Estado se retrate; repórteres da revista Veja pretendiam entrevistar fonte quando foram levados

Redação
Foto: Divulgação/ SSP
Foto: Divulgação/ SSP

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) se manifestou, na tarde desta sexta-feira (14), quanto à condução dos jornalistas Hugo Marques e Cristiano Mariz a uma delegacia do município de Esplanada, no Nordeste baiano.

Repórter e fotógrafo da revista Veja, os profissionais foram conduzidos por militares no momento em que buscavam entrevistar o fazendeiro Leandro Abreu Guimarães, quem deu abrigo ao miliciano Adriano da Nóbrega e uma das últimas pessoas a vê-lo com vida.

Em nota [veja íntegra abaixo], o Sinjorba pediu retratação do Estado e citou o direito à liberdade de imprensa, garantido pela Constituição do Brasil. “O ocorrido com os dois jornalistas da Veja só ajuda a alimentar as suspeitas de que há mais a se informar do que foi até agora revelado. O Sinjorba exige do Governo do Estado uma retratação”, diz a declaração.

No documento, a entidade comenta ainda que os repórteres tiveram seus equipamentos “inspecionados como claro sinal de intimidação” à conclusão de suas tarefas e frisa que as circunstâncias e motivações da morte do miliciano são “cercadas de dúvidas”.

A condução
Os profissionais relataram que quando ainda estavam no carro foram cercados por viaturas da PM baiana. Ambos teriam se identificado e exibido suas credenciais de imprensa – o que não evitou que fossem levados para a delegacia para prestar esclarecimentos.

Os policiais estavam com armas em punho, conforme contaram, e questionavam como os repórteres conseguiram o endereço do fazendeiro. Na revista, o gravador de Marques chegou a ser apreendido. O equipamento continha entrevistas feitas ao longo da semana sobre a operação que matou o chefe do Escritório do Crime.

De acordo com a Veja, os jornalistas receberam a ordem de seguir as viaturas até o Distrito Policial da cidade de Pojuca, onde foram questionados sobre o porquê de estarem na cidade.

O gravador do repórter foi devolvido; a equipe, liberada depois de 20 minutos. Um agente disse que a detenção foi uma medida de segurança, porque eles estavam em frente à residência de uma testemunha do caso.

SSP-BA
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou “que moradores de uma localidade em Pojuca, Litoral Norte da Bahia, ligaram para polícia informando que homens, dentro de um carro, Gol, placa de Belo Horizonte, estavam rondando a região”.

“A PM foi acionada, abordou o grupo e fez a condução até a Delegacia Territorial. Após se identificarem como jornalistas, foram liberados. Nenhum equipamento foi danificado, alterado ou ficou apreendido”, acrescentou o comunicado.

Veja íntegra da nota do Sinjorba

O Sinjorba repudia detenção de jornalistas em exercício profissional e exige retratação por parte do Estado

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) manifesta veemente repúdio pela prisão, nesta sexta (14), de dois jornalistas que apuravam as circunstâncias da morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega, acusado de ser chefe da Milícia Escritório do Crime, após “confronto” com a Polícia Militar da Bahia, em Esplanada (BA), domingo passado.

Os dois jornalistas da revista Veja, Hugo Marques e Cristiano Mariz, estavam em pleno e livre exercício profissional e se identificaram quando abordados pela viatura da PM-BA. Mesmo assim, foram conduzidos a uma delegacia e tiveram o gravador de trabalho inspecionado, antes de sua devolução, em claro sinal de intimidação a consecução de suas tarefas.

A Constituição do Brasil garante a liberdade no trabalho da imprensa, preceito magno que vem sendo atropelado pelas autoridades de Segurança Pública. Vivemos um quadro de clara intimidação a quem tenta cumprir o papel social do jornalismo: informar os fatos, de forma transparente e responsável, aos cidadãos brasileiros.

Uma morte cujas circunstâncias e motivações são cercadas de dúvidas impõe que o trabalho da imprensa seja livre de sanções, para um melhor acompanhamento das investigações e divulgação dos fatos. O ocorrido com os dois jornalistas da Veja só ajuda a alimentar as suspeitas de que há mais a se informar do que foi até agora revelado.

O Sinjorba exige do Governo do Estado uma retratação e, sobretudo, uma mudança de postura dos agentes policiais para que cessem os abusos contra o trabalho da imprensa na Bahia.

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