Na pureza da criança, a resposta para as dores do mundo
Um curativo. Foi tudo o que João Francisco, de quase três anos, pediu ao Papai Noel


Dias antes deste Natal, perguntei ao meu neto caçula, João Francisco, de quase três anos, o que ele havia pedido ao Papai Noel. Sem pestanejar, ele respondeu: “Um curativo!”. Pensando ter escutado errado, insisti na pergunta e ouvi a mesma resposta. Não satisfeita, e certa de que ele não sabia do que estava falando, avancei: “E pra que você quer um curativo, bebê?”. Olhando diretamente nos meus olhos, ele para o que está fazendo e, levando uma das mãos à testa, elucida de modo didático: “É pra botar no dodói, vó!”.
Fiquei a matutar o porquê de uma criança de três anos, saudável e sem histórico de ferimentos ou quedas, teria alçado a objeto de desejo um prosaico band-aid, desses que se compram na farmácia. Mas aí, quando já estava prestes a desistir de entender, tive um insight. Das trevas, fez-se a luz! Naquele pedido inocente, estava a indicação do que o mundo mais precisa neste momento: um curativo, um lenitivo, um alivio para todas as dores e feridas que afligem a humanidade até nos mais recônditos lugarejos do planeta.
Neste Brasil de 2015, por exemplo, as dores se expressam das mais variadas formas. Olhando pelo retrovisor, saltam aos olhos alguns dos machucados recentes: economia arrasada e sem perspectivas de recuperação no curto prazo, inflação de dois dígitos, taxa anual de desemprego em 8,5% (a maior desde 2012), contas públicas com o pior resultado em 14 anos e recessão.
Se alongarmos o olhar, mais motivos para se ter um curativo à mão. Procure lembrar: onde você estava na noite-madrugada de 19 de janeiro do ano que acaba de virar a página? Aquele apagão que atingiu 11 estados não teria sido um prenúncio das trevas em que o país mergulharia ano afora? As desculpas foram muitas, mas, na prática, sabe-se que foi resultado da má gestão do setor energético, entregue a pessoas não capacitadas, seguindo meramente o critério do toma-lá-dá-cá da politicagem. O desenrolar dessa história é feito de choro, gemidos e ranger de dentes, amplamente expostos no noticiário de cada dia.
As feridas não estão circunscritas às fronteiras do país. As atrocidades cometidas por um segmento religioso que mata em nome de um deus vingativo cobriram de lágrimas e dores o mundo. Somente em Paris, dois momentos emblemáticos exigiram toneladas de curativos neste 2015 que já vai tarde: em janeiro, no dia 7, o atentado à redação do tablóide Charlie Hebdo, com saldo de doze mortes; em 13 de novembro, ataques coordenados em três pontos da Cidade Luz, deixando, pelo menos, 129 mortos e um número impreciso de feridos.
De volta ao Brasil, o que dizer da avalanche de lama que atingiu cidades de Minas Gerais e Espírito Santo, espalhando dor e morte, em meados de outubro? E quanto à devastação imposta pelo fogo à fauna e à flora nativas da Chapada Diamantina, numa tragédia anunciada?
Ainda no Brasil, falar o que sobre a incúria dos governos que deixaram acontecer uma epidemia de microcefalia, privando de futuro milhares de crianças, cujas mães foram picadas por um reles mosquito? Números mais recentes falam em 2.975 casos suspeitos em todo o país. Quase três mil! E a contagem continua…
Num recorte mais regional, a Bahia tem seus motivos para querer curativos de presente: é baiano (Simões Filho, na região metropolitana de Salvador) o município campeão de homicídios por arma de fogo, segundo ranking nacional do Mapa da Violência 2015. Lauro de Freitas e Itabuna, também baianos, igualmente estão bem posicionados no levantamento.
Diante de um quadro tão aflitivo, faz sentido que uma criança eleja o curativo como o presente dos presentes. Para que uma bicicleta nova, se 2015 mostrou como algumas pedaladas podem ser reprováveis? O que fazer com um jogo eletrônico de última geração quando a realidade tem superado a ficção em situações de puro nonsense?
Então, parafraseando o poeta Gonzaguinha, fico com a pureza da criança que quer ter apenas um curativo pra chamar de seu. Já que não podemos (ou não queremos) evitar os dodóis nossos de cada dia, que possamos espalhar curativos pelo mundo. Em 2016 e por todos os anos que virão.
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