Publicado em 27/12/2019 às 14h40.

PMs invadem ocupação de sem-tetos em Maceió aos gritos de ‘agora é Bolsonaro’

Segundo a coordenadora do MTST em Alagoas, Eliane Silva, policiais invadiram ocupação, quebraram objetos e atearam fogo em bandeiras do movimento nesta sexta (27)

Redação
Imagem: Reprodução
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A coordenadora do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em Alagoas, Eliane Silva, acusou policiais militares de realizarem uma ação truculenta na ocupação Dandara, na periferia de Maceió, nesta manhã de sexta (27).

Em depoimento concedido ao jornalista Leonardo Sakamoto, do UOL, Silva afirmou que os policiais invadiram as residências da ocupação aos gritos de “quem manda agora é Bolsonaro”, quebraram objetos e atearam fogo em bandeiras do movimento.

“Duas viaturas da polícia apareceram aqui na ocupação na manhã de hoje. Fizeram uma ação violenta. Renderam pessoas, mandaram outras entrarem nos barracos, invadiram e quebraram coisas da cozinha coletiva”, disse a militante.

“Rasgaram nossos livros de registros. Gritavam ‘quem manda agora é Bolsonaro e ‘Lula está morto’. Tocaram fogo em nossas bandeiras e disseram que tínhamos que trocar pela bandeira do Brasil”, completou.

Ela explica que a área de 14 hectares foi cedida em 2018 pelo governo Renan Filho (MDB) para a construção de moradias populares – a ocupação se localiza em um dos bairros mais pobres da cidade, Benedito Bentes. A Universidade Federal de Alagoas está trabalhando em um projeto do conjunto residencial que será erguido no local para as 466 famílias.

De acordo com a coordenadora do movimento em Alagoas, os policiais não agrediram os moradores, mas “chegaram a algemar e botar uma das companheiras que estava na cozinha na viatura, sem mandato judicial, sem nada” antes de a soltarem no meio do caminho.

“A ação levou a muitos fugirem da ocupação com medo de morrer. Maceió é uma cidade muito violenta, principalmente se você for jovem e negro”, afirmou, ressaltando que no dia anterior nove viaturas já haviam entrado na ocupação – não houve incidentes naquela ação, porém.

Para a secretária estadual da Mulher e dos Direitos Humanos de Alagoas, Maria José da Silva, “entrar para quebrar coisas do pessoal e levar líderes sociais é inadmissível”. Ao UOL, ela disse que o governo repudia qualquer ato de violência.

“O governador Renan Filho já me ligou e pediu para eu acompanhar a situação, que ele quer ver esclarecida e resolvida. Temos uma ótima relação com os movimentos sociais. Nunca aconteceu uma situação como essa. Estamos engajados para entender o que ocorreu e cobrar punição”, disse.

De acordo com a secretária, foi marcada para a próxima segunda (30), uma reunião entre ela e o movimento, com a presença do comandante geral da polícia, do secretário adjunto de segurança pública e do deputado federal Paulão (PT-AL). O UOL pediu um posicionamento à Secretaria de Segurança Pública, mas não obteve resposta.

“A gente tem visto uma série de ataques estimulados, de algum modo, por falas do presidente da República. Essa atuação miliciana de policiais de Alagoas na ocupação é uma expressão disso, assustando crianças, botando arma na cara de mulheres, tocando terror nas pessoas, isso é a expressão dessa barbárie”, disse ao UOL Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST.

“Se não houver nenhum tipo de punição em ações como essa, elas vão se normalizando, se tornando permitidas. Na próxima vez, pode ser que custe a vida de pessoas”, avaliou.

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