Empresário que sugeriu demitir ‘esquerdistas’ diz que meta era viralizar e vender mais; MPT investiga
Após a repercussão do vídeo do CEO, a G4 virou alvo de investigação do Ministério Público do Trabalho

Thallis Gomes, 37 anos, é uma figura bastante conhecida no universo empreendedor. Na década passada, foi fundador da Easy Taxi, aplicativo de transporte que chegou a funcionar em 35 países e anos depois acabou vendida para a Cabify. Desde então, Gomes se dedicou a outros negócios e, com frequência viraliza por declarações polêmicas nas redes sociais (no Instagram, ele tem mais de 760 mil seguidores). A informação é de uma matéria da Folha de São Paulo.
No fim do mês passado, disse em um podcast que não contrata “esquerdistas” para seu negócio atual, a G4 Educação, empresa de cursos de vendas e gestão comercial. Também exaltou “70 horas ou 80 horas por semana de trabalho”. Foi para viralizar, ele admitiu em entrevista à Folha. “Eu usei um termo mais polêmico porque sabia que iria chamar atenção. A gente vive uma guerra por atenções, então é positivo para o nosso negócio que haja mais atenção e que isso se transforme em vendas”.
A Folha aponta que o empreendedor disse que a fala não condiz com a vida real da companhia. E não está sozinho nessa. Lasaro do Carmo Jr., ex-CEO da Jequiti e sócio da Optimize Consulting, publicou nas últimas semanas um vídeo contando que falou para uma candidata a uma vaga “esquecer” sábado, domingos e feriados. Procurado, ele também relativizou as falas. O empresário afirma que as propostas, irreais, servem como um “teste de mentalidade” para saber se os funcionários enxergam a divisão entre vida pessoal e trabalho da mesma forma que ele.
“Nunca foi assim na vida”, disse Do Carmo Jr. à Folha. “Ninguém vai trabalhar sábado, domingo e feriado, ninguém vai ter uma postura dessa”.
Ainda segundo a Folha, os conteúdos têm em comum a característica de movimentar as redes sociais dos empresários. No caso de Do Carmo Jr., a publicação acumula mais de 95 mil visualizações de 1.800 compartilhamentos. No Instagram, Gomes comemorou o “cancelamento” após a repercussão do vídeo recente, afirmando que o episódio geraria boas oportunidades para a sua empresa, e reforçou a indicação para empresários demitirem “esquerdistas”.
“A gente estava ontem até 1h trabalhando, e hoje 8h o escritório estava cheio”, disse no podcast Café com Ferri no dia 26 de junho. “Esquerdista é ‘mimizento’, não trabalha duro e parece que todo mundo deve alguma coisa para ele.”
A reportagem da Folha acrescenta que Gomes afirmou posteriormente que foi mal interpretado na parte do vídeo em que fala: “Se você não meter [sic] 70 horas ou 80 horas por semana de trabalho, você não vai construir nada na vida”. Ele diz que se referia a empreendedores que criam o próprio negócio, e não funcionários. A G4 Educação tem 3,9 de 5 estrelas na Glassdoor, plataforma de avaliação de empresas por funcionários. O atributo “Qualidade de vida” é o único com classificação abaixo de 3 na página. Já em “Oportunidades de carreira”, a companhia tem média 4.
Um comentário com 180 curtidas diz que a empresa oferece as vantagens de dar aprendizado sobre negócios, expor funcionários a uma rede de empresas e líderes, foco em resultado, bons funcionários e “cultura forte”. De negativo, o usuário cita “lavagem cerebral tóxica”, ambiente que perpetua “líderes inexperientes e problemáticos”, competitividade em detrimento da colaboração e mistura de política com negócios, acrescenta a Folha de São Paulo.
Após a repercussão do vídeo do CEO, a G4 virou alvo de investigação do Ministério Público do Trabalho. Em nota, o órgão afirmou que, a partir de denúncia recebida no dia 2 de julho sobre abusos e desrespeitos à legislação trabalhista, iniciou procedimento para investigar irregularidades. Um primeiro inquérito deve investigar possível discriminação por orientação política, religiosa ou filosófica pelo empregador. Outro inquérito trata da jornada de trabalho e períodos de descanso. O terceiro se concentrará no desvirtuamento de pessoa jurídica. A empresa afirmou que sempre se dedicou a cumprir todos os requisitos legais na gestão de suas atividades, “prezando pelo bom funcionamento da cadeia de prestadores, fornecedores, colaboradores, alunos e membros de sua comunidade”. A empresa também disse que está à disposição para prestar esclarecimentos cabíveis e que apresentará defesa. Para Camilla Junqueira, diretora da Endeavor Brasil, ONG de apoio a empreendedores, “o mundo caminha em direção contrária” à exaltação de longas jornadas de trabalho. A prática também esconde problemas de produtividade nas empresas, complementa a reportagem da Folha.
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