Publicado em 29/02/2016 às 14h59.

Inovação Sustentável – Um grande Desafio do Século XXI

Eis uma complexa equação, a qual precisamos nos auto-desafiarmos, senão a ideia de sustentabilidade no plano econômico não passa de mera retórica

Edival Passos

Para início de conversa e fazendo uma boa provocação aos pensadores, e em especial aos meus colegas economistas, pergunto: é possível se implementar Inovação Sustentável em tempos de acumulação capitalista em escala exponencial (escala gigantesca)?

Eis uma complexa equação, a qual precisamos nos auto-desafiarmos, senão a ideia de sustentabilidade no plano econômico não passa de mera retórica (arte de bem falar), conto-da-carochinha (mundo do faz de conta), conversa pra boi dormir (conversa fiada) ou coisa que o valha (ou algo parecido).

Trago esse tema ao debate sem ingenuidades e auto-engano, porém ancorado nas infinitas possibilidades humanas e na extraordinária capacidade que tem o Ser Humano para criar, destruir e recriar, o assemelhando à própria Mãe Natureza.

Trago também esse tema ao debate, pela sua emergência, tendo em vista os desequilíbrios da natureza e da própria sobrevivência da espécie humana. Se não tivermos consciência de que grande parte das nossas atitudes são insanas e prejudicais a nós mesmos, a vaca vai para o brejo (a situação vai ficar pior). A espécie humana poderá deixar de existir por conta e (ir)responsabilidade dela mesmo.

Esse assunto de Sustentabilidade e Inovação Sustentável tem que ser tratado com consciência e seriedade sistêmica, mudando-se de atitude na forma de produzir e consumir e articulando as atitudes pessoais e locais ao global.

A primeira grande atitude global/planetária que se tem que mudar é mudar a lógica em que se pauta/move e subordina a produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades humanas. A intensidade da inovação não pode continuar a ter como contrapartida a rapidez desmesurada da “obsolescência” (Celso Furtado, 1920-2004). A lógica da produção econômica precisa levar em consideração os limites da natureza, bem como, os limites sociais. Em outras palavras não se pode produzir de qualquer jeito, desconsiderando o impacto ambiental ou apenas ser movido a produzir pela lógica da acumulação de riquezas de forma predatória.

Joseph Shumpeter (1883-1950), Economista austríaco, em sua genialidade intelectual, deu uma grande contribuição à Teoria do Desenvolvimento Econômico e ao Empreendedorismo prescrevendo a máxima da “destruição criadora” como motor do Desenvolvimento da Economia e dos Negócios. A Inovação era assim, em sua teoria, a essência de tudo. Entretanto, é preciso contextualizar o momento histórico dos seus fundamentos e também os seus limites quanto aos fundamentos ecológicos da sua Teoria. Se a teoria shumpteriana foi importante para o desenvolvimento econômico e o empreendedorismo em determinado tempo histórico da humanidade, isto não significa dizer que ela tenha que ser eternizada e aplicada de forma dogmática como se fosse religião.

Paradigmaticamente para o Século XXI não se pode considerar inovação nem uma postura inovadora a aplicação de uma teoria econômica que destrua desmesuradamente a natureza ou que aprofunde de forma predatória as desigualdades sociais. Precisamos de outros fundamentos que alicercem o desenvolvimento econômico e o empreendedorismo na nossa atualidade.

É possível desenvolvermos tecnologias de alta intensidade de conhecimentos e de forma sustentável-inclusiva na apropriação dos recursos naturais capazes de dar conta às necessidades humanas por bens e serviços. Acredito nisso porque acredito na capacidade extraordinária do Ser Humano em superar desafios. Me convenço com isso porque assim foi a história e será sempre os destinos da humanidade.

Precisamos gerar riquezas menos destrutivas e melhor distribuídas socialmente;

O empreendedorismo é imprescindível e necessário, porém com sustentabilidade;

Inovar é preciso, sempre e mais, da mesma forma que “navegar é preciso” (Caetano Veloso).

Acredito em Joseph Shumpeter, como também em Karl Marx. Mas, acredito também que podemos fazer mais e muito mais, além de Shumpeter e Marx.

Por uma Inovação e um Empreendedorismo sustentáveis no Século XXI. Principalmente em tempos de crise.

Edival Passos

Edival Passos é economista e pós-graduado em gestão pública.

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