Publicado em 30/06/2018 às 14h30.

Sacudida pela ‘Carne Fraca’, BRF quer vender R$ 5 bilhões em ativos

Dona das marcas Sadia e Perdigão, a companhia vai vender suas operações na Europa, Tailândia e Argentina, focando seus esforços no Brasil, na Ásia e no mercado muçulmano

Reuters
Foto: divulgação
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A empresa de alimentos BRF pretende vender 5 bilhões de reais em ativos no segundo semestre deste ano, em uma “freada de arrumação” da empresa envolvida no escândalo da operação Carne Fraca, da Polícia Federal, e impactada pelo fechamento de mercados de exportação de carne de aves.

A companhia, dona das marcas Sadia e Perdigão, vai vender suas operações na Europa, Tailândia e Argentina, focando seus esforços no Brasil, na Ásia e no mercado muçulmano.

No Brasil, “ajustes” em suas fábricas devem resultar em corte de 5 por cento da força de trabalho da companhia ou cerca de 4 mil trabalhadores, se for usada informação sobre o total de funcionários disponível no site da companhia.

“É uma freada de arrumação, olhando para aquilo que é absolutamente fundamental, que é melhorar a estrutura de capital e reduzir a alavancagem”, disse o presidente-executivo da BRF, Pedro Parente, em teleconferência com jornalistas, sobre as vendas de ativos.

O objetivo é reduzir o endividamento da BRF, que encerrou março em 14 bilhões de reais. A expectativa é que a relação dívida líquida sobre Ebitda ajustado termine 2018 em 4,35 vezes ante 4,44 vezes no fim do primeiro trimestre. Para 2019, a BRF espera que a alavancagem caia para nível abaixo de três vezes.

Os 5 bilhões de reais a serem levantados incluem ainda venda de ativos imobiliários e não operacionais e participações minoritárias em empresas, além de uma operação de securitização de recebíveis.

Algumas horas mais cedo, executivos da empresa tinham informado analistas e investidores que a BRF captaria apenas 500 milhões de reais com vendas de ativos não essenciais, afirmando que uma decisão sobre desinvestimentos de ativos importantes ainda não tinha sido tomada. As ações da empresa acabaram então fechando em alta de 0,5 por cento, a 18 reais, enquanto o Ibovespa teve acréscimo de 1,39 por cento.

Segundo Parente, os ativos na Europa, Tailândia e Argentina vão compor a maior parte do volume de recursos a serem levantados pela BRF nos próximos meses. Ele negou que a empresa venderá os ativos com desconto ao ser questionado sobre o relativo curto espaço de tempo para se desfazer de tamanho conjunto de operações, que representam cerca de 10 por cento dos volumes vendidos pela companhia.

“Não antecipamos nenhum desconto, vamos vender pelo valor justo e de mercado. Nosso caixa é bastante grande para a gente não tomar nenhuma decisão apressada”, disse Parente. No primeiro trimestre, o caixa da BRF era de 7,27 bilhões de reais.

E apesar de dizer que a BRF vê boas chances de vender os ativos já na segunda metade deste ano, Parente comentou que a companhia ainda não tem bancos contratados para ajudar na venda das operações. “Está na fase final de escolha”, disse. O executivo ainda afirmou que a empresa não pretende fazer nenhuma listagem de ações.

Depois que os preços de grãos usados na alimentação dos animais para abate subiu acentuadamente em 2016, a BRF foi atingida no ano passado e neste ano por investigações da Polícia Federal sobre propinas para agentes de fiscalização sanitária e outras irregularidades, na chamada operação Carne Fraca.

Questionado sobre o estágio atual das investigações e os contatos da empresa com as autoridades para redução das incertezas dos investidores sobre a empresa, Parente preferiu não comentar o assunto.

As operações da PF acabaram levando neste ano a um embargo da Europa contra as exportações de carne de frango do Brasil. Neste ano, também, a China adotou medida antidumping que atingiu as exportações do setor.

Sobre a venda de participações minoritárias em empresas, o vice-presidente global Lorival Nogueira Luz Junior, também não se manifestou, comentando apenas que “todas as alternativas serão avaliadas”. A BRF possuía até o final de março 11,63 por cento do frigorífico Minerva.

Por Alberto Alerigi Jr.

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