Publicado em 22/04/2024 às 13h01.

Homicídios avançam em cidades que elegeram PMs como vereadores, diz estudo

Trabalho analisou dados de 2.491 municípios que tiveram candidatos ligados a forças de segurança; efeito médio foi de 13 casos a mais por 100 mil habitantes

Redação
Viaturas da PM de São Paulo (Foto: Assembleia Legislativa de São Paulo)

 

A eleição de policiais militares como vereadores eleva o número de homicídios nos municípios que os elegeram, sobretudo em áreas mais pobres e com maior concentração de pretos e pardos.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a constatação é de um estudo realizado pelo pesquisador Lucas Novaes, do Insper, e publicado na American Political Science Review, um dos periódicos mais influentes da ciência política.

O trabalho analisou dados de 2.491 municípios que tiveram candidatos ao Legislativo classificados como “lei e ordem” entre os pleitos de 2004 e 2012.

A categoria inclui candidatos que faziam parte das forças policiais ou da reserva das Forças Armadas e que incluíam alguma patente dessas corporações em seus nomes de urna, como capitão, coronel, cabo, tenente ou soldado. Seguindo esse critério, foi possível identificar um total de 7.888 pessoas ao longo de oito anos.

As informações foram cruzadas com a curva de homicídios observada nos quatro anos seguintes a cada eleição (ou seja, até 2016).

Segundo a Folha, em municípios que elegeram PMs como vereadores, o efeito médio foi de 13 homicídios a mais por 100 mil habitantes. Um aumento de 53% em relação a municípios com características semelhantes e que chegaram muito perto de eleger policiais militares para a Câmara Municipal, mas não o fizeram por uma pequena diferença de votos.

Como esse tipo de candidatura cresceu na esteira da eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Novaes avalia que o impacto pode estar se replicando ou até se intensificando nos municípios.

Uma possível explicação para esse efeito, segundo o pesquisador, reside no fato de que esses candidatos são eleitos, em sua maioria, por cidadãos que vivem em áreas relativamente mais ricas —isto é, que reúnem a parcela com mais renda entre os habitantes daquele município.

Para conseguir medir esse aspecto, Novaes ordenou os locais de votação por grau de apoio aos policiais e analisou os que estavam nos 25% com menor apoio (poucos ou zero votos nos candidatos “lei e ordem”).

Ao cruzar com dados de renda, ele percebeu que os lugares com baixo suporte à eleição de policiais têm uma proporção maior de pessoas mais pobres (menos de meio salário mínimo per capita) do que de famílias mais ricas (mais de cinco salários mínimos per capita).

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