Publicado em 17/01/2017 às 07h50.

Bloco baiano no Carnaval do Rio causa protesto de cariocas

"O Carnaval do Rio tem rock, tem reggae, tem funk, por que não axé? Não posso discriminar um gênero musical", defende o presidente da Riotur

James Martins
Foto: Divulgação
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Organizadores de blocos tradicionais do carnaval de rua do Rio estão preocupados com os rumos da festa. Este ano, a prefeitura autorizou o desfile de 469 blocos, num total de 577 desfiles. Um deles está provocando a controvérsia: o Bloco Eva, de Salvador, que deve sair na Praia do Pepê, zona oeste do Rio, no dia 4 de março. O grupo baiano já havia tentado se apresentar na cidade em outros carnavais, mas havia sido vetado.

A jornalista Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que reúne 11 blocos, está apreensiva com a “invasão” e com a “visão comercial” que a gestão do novo prefeito, Marcelo Crivella (PRB), em sua avaliação, tem do carnaval. “Eles chamam o carnaval o tempo todo de ‘principal produto turístico da cidade’. Essa abordagem nos deixa inseguros, porque não sabemos para onde eles querem levar esse produto. A autorização do Eva nos deu um sinal negativo, acendeu a luz de alerta. A gente não quer perder a essência do carnaval”, afirmou.

A desconexão do bloco com a cidade vem sendo ressaltada nas redes sociais pelos foliões cariocas. A crítica não se concentra no gênero musical – que já está presente do carnaval do Rio em outros blocos -, mas na vinda de um grupo de fora. O engenheiro Floriano Torres, fundador do Que merda é essa?, que desfila há 22 anos em Ipanema, contou que a “importação” já foi tentada no passado, mas os blocos resistiram, e o antigo prefeito, Eduardo Paes (PMDB), não deu autorização.

“Dessa vez, não nos ouviram. O carnaval do Rio é espontâneo, e esse tipo e bloco é totalmente comercial. Recife e Olinda nunca permitiriam isso, porque não cabe lá. O Rio já tem bloco demais. Há os que tocam outros ritmos, como frevo e sertanejo, mas estes são do Rio, e não ‘importados’. Vir caminhão da Bahia para o Rio é um absurdo”, disse Torres.

O Bloco Eva, que tem como atração a Banda Eva, sai três vezes em Salvador, no circuito Barra-Ondina; uma vez, no esquema “pipoca” (gratuito), e duas, com cobrança de abadá de R$ 200. No Rio, será gratuito. A Riotur garante que ele terá estrutura de bloco, e não de trio elétrico. O local do desfile ainda está sendo acertado entre as partes, de acordo com a Riotur, mas o bloco informou à reportagem que já foi acordada a Praia do Pepê.

O presidente da Riotur, Marcelo Alves, defendeu a presença do Eva no Rio: “No carnaval de rua do Rio tem rock, tem reggae, tem funk, por que não axé? Não posso discriminar um gênero musical. O que não permito é que se perca a essência do carnaval”, declarou, em entrevista à GloboNews.

O boom do carnaval de rua na cidade se deu no início dos anos 2000. Na gestão Eduardo Paes (2009-2016), a festa foi organizada, ganhando maior estrutura de segurança e limpeza – ainda considerada insuficiente. O número de banheiros aumentou 25% em relação a 2016, chegando a 31,8 mil unidades, contando contêineres e mictórios. São esperados 1,5 milhão de turistas e um impacto na economia de R$ 3,3 bilhões.

Em ano de crise, em que as pessoas têm menos dinheiro para viajar, organizadores de blocos acreditam que o público deve aumentar. O número de desfiles também poderá crescer. Por ora, os 469 blocos já autorizados estão concentrados na zona sul (26,9%) e centro (19,9%). O Cordão da Bola Preta, Bloco da Preta, Giro do Arar com Anitta e Monobloco sairão na Rua Primeiro de Março, e não mais na Avenida Presidente Vargas, como havia sido aventado.

“Estamos sendo muito rigorosos com segurança e conforto, trabalhando 25 horas por dia nisso, e o número de blocos pode ser ampliado. Vamos fazer um carnaval inesquecível”, garantiu Marcelo Alves.

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