Em quarto disco, Maglore exibe cores novas e mais maduras
Os baianos retornam a Salvador para lançar o disco "Todas As Bandeiras" em show no TCA na próxima quinta-feira (28)
O bom filho à casa torna, já diria o ditado. A regra não poderia ser diferente com a banda Maglore. Nascido, criado e descoberto em Salvador, o grupo, que reside em São Paulo há cinco anos, pousará no palco do Teatro Castro Alves na próxima quinta-feira (28) para dar o pontapé inicial à turnê de lançamento de “Todas As Bandeiras”, seu quarto disco.
Abordar a “baianidade” não é novidade para o quarteto que, em seu segundo álbum, lançado em 2013, já clamava ao ouvinte: “Avenida Sete, me leve com carinho / Do Porto da Barra até o Pelourinho”.
Em “Todas As Bandeiras”, voltar às raízes é uma pauta frequente, principalmente por causa da volta do guitarrista Lelão – ele estava longe desde o segundo álbum. A diferença, agora, está no tom do trabalho, autoproclamado o “mais político” da banda.
Em conversa com o bahia.ba, o vocalista Teago Oliveira comenta que o CD é uma reflexão do momento histórico. Com versos como “O tempo passa e o herói fica sozinho/Mas em qual herói vamos confiar”, o grupo, ao contrário do que o nome do álbum sugere, evita levantar bandeiras e se propõe a ser “um disco de reflexão de um recorte do momento histórico em que a gente está”.
Pela primeira vez no palco principal do TCA, Teago fala sobre a suposta semelhança com o grupo Los Hermanos, da “geração-ansiedade”, os serviços de streaming, o decreto que dá brecha para que a homossexualidade seja tratada como doença e mudanças de opiniões.
Confira a entrevista na íntegra:
Bahia.ba – O release do disco diz que este é o trabalho mais político da banda e o título forte já dá um sinal disso. Como se dá o posicionamento?
Teago Oliveira – Seria mais político no sentindo mais amplo, e menos restrito. Mais livre, não partidário. Esse é um disco que fala das várias cores que a sociedade vive, e não necessariamente da gestão pública. Não existe nenhuma canção de protesto nesse disco. É mais um disco de reflexão de um recorte do momento histórico em que a gente está.
.ba – O disco se chama “Todas As Bandeiras” e a capa é bastante colorida. Não dá para não pensar na bandeira LGBT. Qual foi a reação de vocês com o decreto da Justiça brasileira que dá brecha para que a homossexualidade seja tratada como doença?
TO – O disco é isso também. A gente vive em um mundo onde está todo mundo à flor da pele. A Maglore acredita na liberdade das coisas. É um absurdo. A nossa sociedade precisa se curar desse tipo de pensamento, em vez de eleger uma cura para uma coisa tão simples como duas pessoas que se amam. É lamentável a gente estar vivendo isso, não só no Brasil, mas no mundo. Vivemos uma crise civilizatória, não só econômica.
.ba – Na canção “Todas As Bandeiras”, você canta: “O tempo passa e o herói fica sozinho / Mas em qual herói vamos confiar”. Em quem vocês diriam que confiam? Que herói é esse?
TO – Acho que não é um herói específico. É exatamente essa quebra do mito dessa coisa do bem e do mal. O herói é a ideia de que as pessoas são pessoas, que elas vão errar, e que a gente vive o mito do herói, do cara bonzinho que vai salvar, que vai fazer tudo dar certo. É essa a dúvida, a do maniqueísmo.
.ba – As duas últimas faixas do disco remetem à questão de ter calma, de agradecer. Para completar, ainda há uma faixa chamada Clonezepam 2g. Somos uma geração de ansiosos?
TO – Eu acho que a nossa sociedade está ansiosa. Acho que é no mundo todo isso. O Brasil pega isso porque o Brasil é um espelho, né? Das coisas que vem de fora… O brasileiro não consegue entender que ele é esse espelho. Ele acha que o problema é dele, ele se acha muito especial. Eu acho que falta, na sociedade, conhecer um pouquinho o indivíduo mesmo – parece até autoajuda, mas eu acho que falta refletir um pouco sobre quem a gente é, para a gente poder apontar para o outro. E sim, a crise de ansiedade é uma coisa que atinge muito as pessoas, até elas descobrirem que elas estão com crise de ansiedade são muitos anos. É algo muito difícil de se diagnosticar, mas é um problema muito comum também.
.ba – Sobre outra música do disco, a “Você Me Deixa Legal” tem, no vídeo do YouTube, uma folha de maconha estampando a faixa. Foi impossível não lembrar de “Got to Get You Into My Life”, dos Beatles, que Paul McCartney admitiu que, apesar da roupagem romântica, se trata, na verdade, de uma ode à erva. “Você Me Deixa Legal” é a “Got to Get You Into My Life” da Maglore?
TO – Ela é uma canção que não necessariamente fala sobre maconha. A grande sacada de Lucas, que fez a peça, é que ele leu a música dessa forma, foi a interpretação dele. Aí como entrou no vídeo, acaba que a banda veste essa camisa. Mas é um trabalho mais artístico que eu achei legal. Não fala necessariamente sobre a maconha, mas é uma coisa que faz muito sentido, né? Depois que eu vi a imagem eu adorei, parece que eu realmente estou falando de maconha. Não chega a ser uma apologia, muito embora seja um tema importante, a legalização. E ‘me deixa legal’ sugere isso. Foi um processo criativo muito simples. É uma música muito simples, quase um looping, que tem três acordes. A letra fala sobre essa coisa da velocidade, de como a gente pensa só muito depois de fazer. A gente está no momento da velocidade das informações, onde as máquinas vêm atrapalhando a nossa convivência humana. Está tudo muito estranho, tudo muito rápido, mais informação do que reflexão. A música aborda essa sensação esquizofrênica que a gente tem hoje.
.ba – A banda voltou a ser um quarteto nesse disco, com a volta de Lelo nas guitarras e sintetizadores. Como o retorno refletiu na musicalidade do novo trabalho?
TO – O Lelo criou o som da guitarra da Maglore junto comigo, ele é um cara que sempre pensou da mesma forma que eu, mas uma concepção diferente. Ele voltou mudado, com algumas mudanças no som e com algumas coisas convergentes. A Maglore nasceu como um quarteto, ela funciona de forma mais natural quando é em quarteto. Acho que a banda ficou mais no lugar, ela fez menos esforço para fazer esse som.
.ba – Em um show do primeiro disco lá na Concha lembro que a plateia gritou, brincando, ‘toca Los Hermanos’ porque achava que, à época, o som era parecido. Vocês acham que se desvincularam do rótulo de Los Hermanos da Bahia?
TO – Esse rótulo de ‘Los Hermanos da Bahia’ ficou só na Bahia (risos). A gente está em São Paulo há cinco anos, aproximadamente, e nunca chegou para a gente isso. A gente apareceu em uma época em que os Los Hermanos tinham acabado, e a gente tinha muita referência parecida com a deles, e eles eram referência também. Eu adoro Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, eles são sensacionais. Nós temos referências parecidas, como essa coisa de misturar o rock com a tropicália. Mas nunca foi algo que me incomodou. Nós temos nossas diferenças, eu acho que nosso quarto disco é algo que o Los Hermanos não faria como nós fizemos.
.ba – Por falar em Concha, o Maglore já pisou em vários palcos diferentes. Qual é a diferença entre tocar em um espaço menor, como no Portela Café, onde vocês já se apresentaram algumas vezes, e no TCA?
TO – O TCA era uma vontade muito grande da Maglore, porque é um palco onde a gente nunca tocou. É o único palco onde a gente nunca tocou em Salvador, só falta esse. Aproveitamos a chance de fazer o lançamento lá, rolou uma data. A gente gosta também muito de tocar em lugar pequeno. Maglore é uma banda para palco grande de festival, mas também para casa de show, para um público pequeno. Já o TCA é mais glamourizado, tem uma lógica diferente, e o Portela já é uma coisa mais ‘inferninho’. Eu acho legal os dois. Nós somos uma banda que não precisa se preocupar com o formato, com o tamanho.
.ba – Quando vocês começaram não tinha isso de streaming. O disco novo foi lançado, além de fisicamente, no Spotify e várias músicas antigas que também estão hospedadas lá somam milhares de execuções. O que você acha da nova opção de democratizar a música?
TO – A gente nasceu na internet, tudo começou no MySpace. O MySpace que catapultou a banda. Eu acho o Spotify, o Deezer, todas essas plataformas um novo momento para a música. E eu acho muito bacana que ele monetiza, é uma forma de remunerar o artista. Eu também acho muito interessante a forma que a internet funciona para você conhecer coisa nova. O Spotify quando te sugere artistas promove, de certa forma, a cultura, te incentiva a consumir música – seja ela da qualidade que for, do estilo que for, do tipo que for. A acho importante a gente viver em um mundo que tem uma ferramenta assim, como o Netflix é para o filme. A gente vive uma época de troca muito interessante, e saber realizar essa trocar de uma forma saudável é o que eu acho que vale mais no mundo hoje.
.ba – Eu percebi que seu sotaque, mesmo você morando em São Paulo, está cada vez mais carregado. Você acha que é uma forma de – trocadilhos à parte – levantar a bandeira da Bahia?
TO – Cara, eu acho que isso aí talvez seja o inconsciente disso de estar longe, né? Acho que eu me aproximei muito da Bahia quando eu me distanciei dela. Quando eu fui morar fora, eu comecei a entender mais Salvador, mais a nossa cultura, a pesquisar mais, me sentir mais baiano. Eu moro com nordestinos, eu moro com um cara de Aracaju e um baiano, aí fica mais difícil perder o sotaque. Mas assim, né, velho, se você quiser que eu fale um paulistano… (risos).
.ba – Neste quarto trabalho, vocês acreditam que já alcançaram a maturidade artística?
TO – É impossível saber disso porque a gente ainda não ouviu os próximos discos. Em comparação aos outros, esse é o mais maduro porque é o quarto, o mais recente. Acho que se você lança um disco que é menos maduro, tem algo de errado com você (risos). Acho que é o mais maduro, mas ainda está longe de qualquer ápice. A banda tem oito anos de estrada, de carreira artística. Se você parar para pensar, isso ainda é muito pouco.
.ba – No primeiro disco você canta que “Todos Os Amores são iguais”, e em “Marcha Ré” diz que errou ao afirmar isso. Tem mais algum aspecto da carreira de vocês que vocês acreditam que pensam ou fariam diferente agora?
TO – Eu acho que tudo muda o tempo todo no mundo, como diz Lulu Santos (risos). É muito difícil, para quem escreve, ter por definitivo uma opinião. Então eu não consigo te responder com sim ou não. Muita coisa que eu escrevi perdeu o sentido para mim – boa parte das músicas do primeiro disco perderam o sentido e depois ganharam um novo. Tem muita coisa do terceiro disco que eu vejo e não concordo mais e que, daqui a pouco, eu vou estar concordando. É uma questão de fases, e esse é o grande barato: colocar as ideias no ar para poder refletir. ‘Eu consegui’, do novo disco mesmo, que fala sobre a perda do ‘grande amor’, se você parar para pensar, se é o seu grande amor, você ainda pode encontrar. É de sempre ficar se perguntando sobre as coisas… Eu sou muito confuso (risos).
Ouça aqui “Todas As Bandeiras” na íntegra:
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