Humberto Miranda, colecionador de coleções, abre seu portal de relíquias
O acervo contém um cartão assinado por Getúlio Vargas, documentos e moedas do Império, brinquedos dos anos 80, garrafas, selos e muita história
Colecionadores sempre existiram. Colecionadores de selos, colecionadores de moedas, de latinhas, de discos etc. Não é o caso exato de Humberto Miranda, O Colecionador. Este é um colecionador de coleções. Com loja no Orixás Center, no Politeama, Humberto coleciona de um tudo há mais de 40 anos e o faz com a dedicação de um verdadeiro museólogo. Daí advém o nome do seu estabelecimento: “Espaço do Colecionador – Museu”.
“Eu comecei por influência de meu pai, quando tinha sete anos. Tenho muito orgulho disso. Mas sempre digo que o mais importante é colecionar amigos e momentos marcantes”, explica ele ao bahia.ba, ao completar: “Eu sou um colecionador, mas também me intitulo historiador, já que meu interesse é manter a história viva, o que está por trás de cada objeto, as pontes que eles fazem com a história”.
O letreiro da loja não poderia ser mais claro: “Moedas, Antiguidades, Postais (…) Aluga – Compra – Vende e Troca (…) Tudo Que Possa Conter Uma História”. Conter, não apenas contar. E ali encontram-se revistas antigas, garrafas de Crush e Fratelli Vita, brinquedos como Pula Pirata, canecas, fotografias, selos, cédulas, jornais e até documentos da época do Império, entre outras preciosidades e quinquilharias.
Empolgado, Humberto exibe suas últimas aquisições: copos, bexigas e um ingresso do único show de Paul McCartney em Salvador, realizado no dia 20 de outubro, na Arena Fonte Nova. E a história de como O Colecionador conseguiu assistir à apresentação do beatle é não apenas épica, mas revela à perfeição como ele, de fato, consegue manter viva a história em sua história de vida.
“Paguei em Real, a moeda atual, mas também com alguns selos do Bahia Campeão Brasileiro de 1988; moedas do Império, de 1878/79/80; e moedas da República, do Século XIX também, de 1897/98, moedas de 200 réis, 100 réis… Quer dizer, eu paguei em Real, paguei em Réis e paguei com selos do Bahia”, conta. E continua: “Eu não tinha o dinheiro todo do ingresso, que seria R$ 320, para ficar no centro da Arena, onde eu fiquei, pude me emocionar, chorei bastante, então ofereci [ao cambista] essas outras moedas e consegui ver o show”.
Por falar em Fonte Nova, Humberto, torcedor do Vitória, coleciona, além de memórias boas e ruins de seu time do coração, pedras do estádio que recolheu à época da demolição em 2010. “Assim como tem as pedras do Muro de Berlim, agora tem também as pedras da Fonte Nova”, diz. Assim como ele também tem, na contramão das destruições, um pouco da poeira da construção de Brasília, que exibe orgulhoso: “Este eu considero um dos itens mais poéticos, mais etéreos da minha coleção”.
O Espaço do Colecionador não apenas vende, troca, compra e reúne objetos antigos de todos os tipos. Se você quer fazer uma festa temática, de época, pode contratar de Humberto Miranda um serviço criado pelo próprio: o Túnel do Tempo. Ele reúne uma quantidade de itens selecionados e prepara uma verdadeira instalação no local escolhido pelo cliente. “Tudo fica a cargo do freguês. Podem ser 10, 20, 30 ou 100 itens. O impacto nos convidados é sempre interessante. Quem não se emociona com lembranças?”, questiona.
Como não se impactar diante de um cartão de visitas assinado de próprio punho por ninguém menos que Getúlio Vargas, aquele que alguns consideram o presidente (e mesmo o brasileiro) mais importante da história do país? Pois Humberto Miranda tem um. “Tenho também um bilhete escrito pelo Cardeal da Silva, pedindo um favor a alguém, mas está em minha casa”, afirma, ao sentenciar, orgulhoso: “Tem gente que pensa que Cardeal da Silva é só a avenida, não é?”.
Pois é, a coleção de Humberto tanto revela quanto desfaz mitos às novas gerações. Por exemplo, quem pensa que Crush é uma paixão súbita, um ficante ou algo assim, pode se surpreender ao descobrir a garrafinha do refrigerante. E Xuchá, o que seria? O Chá da Xuxa? Aqui descobrimos uma revistinha em quadrinhos dos anos 1950 cujo nome é precisamente “Xuxá”. E por aí vai. O garimpo na loja não parece ter fim.
Não raro produções artísticas como novelas, filmes e peças de teatro procuram O Colecionador em busca de objetos que tornem mais convincentes seus ambientes e cenários. A novela “Velho Chico”, da Rede Globo, foi uma das últimas a recorrer ao tesouro de Humberto. Para a trama de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa, ele alugou uma bola e um boneco Topo Giggio.
O ratinho, aliás, é uma de suas fascinações. Na loja se encontram alguns bonequinhos. E em casa, onde guarda mais de um milhão de itens, Humberto tem outros. “Ele é muito charmoso e carismático. Gosto muito do Topo Giggio. Marcou”, diz. Outra lembrança que ele faz questão de dividir vem das merendeiras tradicionais, aquelas que têm uma garrafinha acoplada. “Agora, todo dia lançam um modelo diferente, para forçar o consumismo”, reflete, e fala em seguida de seu filho que é seu xodó, Humbertinho, de 2 anos.
“Ele é muito parecido comigo. Nunca uma pessoa pareceu tanto com outra. E também já está tomando gosto pelas coleções”, apostou. Por falar em gerações, Humberto revela, em primeira mão, que motivado por uma descoberta de parentesco ilustre, promoverá o local e o rebatizará de Galeria Castro Alves. “Minha mãe era prima de segundo grau do poeta”, orgulha-se.
Duas mulheres, mãe e filha, entram na loja e perguntam por espelhos. A filha terá uma festa de formatura. Se encantam também por uma penteadeira. A conversa segue e a reportagem se retira do local que, sem dúvidas, vale várias visitas. É preciso marcar hora, por meio do WhatsApp (71) 99374-3393.
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