Publicado em 25/09/2025 às 19h10.

Vivendo do Ócio alça voo livre de volta à Bahia em novo disco

Após cinco anos, a banda lança Hasta La Bahia, celebrando raízes e groove em show gratuito no Rio Vermelho nesta sexta (26)

João Lucas Dantas
Esq. para Dir.: Luca Bori; Jajá Cardoso; Gabriel Burgos; Davide Bori
Foto: Vic Zacconi/ Assessoria

 

A banda baiana Vivendo do Ócio (VDO) retorna às raízes soteropolitanas no novo álbum Hasta La Bahia, lançado na última sexta-feira (19), em todas as plataformas digitais. O grupo também fará show gratuito em Salvador nesta sexta (26), no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, às 19h30, pelo Festival da Primavera 2025.

Para celebrar o evento e o novo disco, o bahia.ba conversou com o vocalista e guitarrista do VDO, Jajá Cardoso, que também assinou a ilustração do novo trabalho. Mas como bandas emanam coletivo, Luca Bori no baixo e segunda voz, Davide Bori na guitarra, e Gabriel Burgos na batera acompanham, para formar um dos sons mais icônicos do rock baiano contemporâneo.

O quinto álbum de estúdio chega cinco anos após o último trabalho homônimo, Vivendo do Ócio, e conta até com parceria do ex-Titãs, Paulo Miklos. Para Jajá, há dúvidas se foi, de fato, muito tempo afastado. “Esse tempo, não sei se foi demais, foi complicado, a gente não sabia quando a pandemia ia acabar, o disco tava pronto, cancelamos turnê, então até como uma forma de alivio para o nosso publico, decidimos lançar o quarto album, então vieram momentos de mudanças depois que passou tudo aquilo”, esclarece.

Imagem: Capa do álbum Hasta La Bahia

 

Me deu saudade da Bahia

Os integrantes moravam em São Paulo há cerca de 11 anos, quando sentiram a necessidade de voltar para a cidade natal. “Quando os aeroportos abriram eu voltei a morar em Salvador. Os caras já tinham voltado a morar aqui um pouco antes da pandemia. Então, durante a mudança de cidade, estávamos em um momento criativo, em que precisávamos colocar a banda nos eixos novamente, porque o fato é que a indústria musical foi uma das mais atingidas no período”, contextualiza o vocalista.

Além da situação mundial conturbada, em 2023, houve a saída do ex-baterista Dieguito Reis, que foi sucedido por Burgos. Para Jajá, o grande intervalo entre lançamentos também se deve a uma vontade de realmente amadurecer as oito músicas que viriam a compor o novo trabalho.

“O Gabriel somou muito bem para nós. Esse período foi um caminho de reestruturação da gente, de nos sentir pertencentes a Salvador de novo. Eu acho que tudo isso foi somando às novas músicas e o Hasta La Bahia foi nascendo de uma triagem desses sons que a gente foi resgatando, e aí a gente foi filtrando e chegou nessa seleção”, pontua.

Para além da reconexão com a terra, o novo trabalho também foi produzido totalmente em solo soteropolitano, o que pode ser bastante refletido nos sons dançantes de faixas como Baila Comigo, a homônima Hasta La Bahia, e Não Tem Nenhum Segredo, que bebem de muitas influências cheias de groove.

“Ter voltado a morar aqui perto da família novamente, dos amigos, influenciou totalmente as composições. Uma das coisas principais é a sensação de pertencimento à cidade. É massa ser baiano. Eu sempre falo com os meninos sobre isso. Nós somos privilegiados, porque nós nascemos no berço da música no Brasil. E podemos misturar o som que a gente faz, experimentar o que quisermos, que não soa forçado”, celebra o cantor.

O rock swingado de VDO

Mesmo com o espírito mais próximo da soul music, do groove do funk norte-americano, durante os 28 minutos do novo lançamento, a banda jamais perde a veia do rock que lhes deu projeção nacional, sem deixar de realizar experimentações sonoras neste caldeirão de referências.

“Nós sempre tivemos essa parte dançante, mas esse trabalho é muito fruto do amadurecimento, não tem tantas coisas fora do que a gente já transitava. A gente vai se alimentando de novas referências até fora da música. Mas eu acho que esse lance dançante tá enraizado mesmo na gente, tipo a guitarra swingada que eu toco, vem desde meu inicio como guitarrista, a primeira banda que toquei era de pagode no final dos anos 90”, explica Jajá.

O vocalista também diz que sua primeira banda foi de pagode baiano, mostrando que a influência da sua guitarra é uma mistura dessas experiências com a música mais urbana, além de também já ter se aventurado na percussão.

“Esse swing somado às referências baianas e o rock pós-punk, alternativo, britânico, que também tem um lance dançante. Então, acho que essa coisa pulsante que a gente tem vem daí, dessa mistura de influências da Bahia com a Europa”, brinca.

Trabalho colaborativo

Em Hasta La Bahia, a banda prova, mais uma vez, a capacidade de trabalhar com diversos colaboradores, seja dividindo as composições ou até recebendo verdadeiros Titãs da música nacional, com o perdão do trocadilho. Aqui, os vocais são divididos em Baila Comigo, com o paulista Paulo Miklos; com a também baiana Jadsa, em Não Tem Nenhum Segredo; e o conterrâneo Martin Mendonça, em O Lobo da Estepe.

“A gente sempre gosta de abrir espaços para compor com os amigos, fazer parcerias. Eu acho que a música, quando vem de uma forma coletiva, sempre fica melhor. O som da Vivendo do Ócio surge de algum lugar, ou comigo, ou com o Luca, ou juntos com o Burgos agora. Mas quando a gente entra no estúdio, ela se torna de todos nós. Cada um soma à sua forma”, abraça o cantor.

Porém, contar com a participação de um ex-Titãs não é pra qualquer um. Segundo Jajá, o cantor que entrou para a história da música nacional, além de grande ator, já era fã das antigas do som de VDO e foi uma grande honra contar com a sua participação.

“Ele é uma referência para nós, foi uma surpresa saber que ele curtia nosso som, ele já tinha dado entrevista uma vez para uma revista de grande circulação, falando que a música de amor preferida de rock dele era Amor e Fúria (do primeiro disco, Nem Sempre Tão Normal, 2009). Tempo depois tocamos na Concha Acústica juntos e nos conhecemos, talvez essa parceria deveria ter rolado faz tempo, mas as coisas acontecem quando tem que acontecer”, comemorou.

“Um amigo nosso que trabalha com ele diretamente conectou a gente e ele topou na hora. Ele falou ‘vamos lá, vamos nessa, vamos gravar’. E, poxa, foi uma alegria insana. Às vezes a gente nem acredita nas coisas que a vida proporciona. A gente ficou muito feliz. E tudo isso também é o fruto do nosso trabalho, da nossa dedicação. E ser notado e respeitado por Paulo Miklos é uma conquista também pra gente”, acrescenta Jajá.

Foto: Vic Zacconi/ Assessoria

 

O Lobo da Estepe

Para além das influências musicais, a literatura foi peça essencial para a composição da penúltima faixa do disco, O Lobo da Estepe, que bebe diretamente da fonte do livro homônimo do alemão Hermann Hesse (1877-1962), romance que explora temas como solidão, alienação, arte e a busca por sentido em meio às contradições da vida moderna.

“Essa música nasceu de uma forma como eu nunca tinha feito antes. O processo de composição dela veio com a melodia primeiro com uma pré-produção feita num programa de gravação. E eu costumo fazer o contrário, muitas canções eu só escrevo e depois eu vou musicar. Dentro dessa concepção sombria, fiquei tentando encontrar um tema que se ajustasse”, relembra o vocalista.

“Eu comecei a escrever algumas coisas, mas não gostei, então parti para uma ideia completamente nova, lembrei do Lobo da Estepe, um livro que foi muito marcante pra mim, mudou meu comportamento e eu era muito novinho, eu tinha uns 17 anos. Já li mais de uma vez e decidi escrever sobre como me senti e o que absorvi da história, então, convidei meu grande parceiro Martin. Já tínhamos escrito juntos outras vezes e casou perfeitamente essa união”, pontua Jajá.

20 anos de Vivendo do Ócio

Em 2026, serão celebrados 20 anos que o grupo nasceu em Salvador. Para Jajá, será um ano especial, de muitas comemorações, shows especiais, além de músicas inéditas a serem lançadas. “A galera pode esperar que vai vir música, vai vir show. O que não vai faltar é novidade”, promete.

Para o show do Rio Vermelho desta sexta-feira, o público será agraciado com várias músicas novas no repertório, apesar de não ser um show propriamente de lançamento do disco. “Mas vai ter a maioria das músicas do Hasta La Bahia. Como é um show na praça, a gente preparou uma sequência especial, misturando as mais pedidas dos outros discos. Vamos tocar as novas, vamos ter participações especiais. Vai ter a presença de Martin (Pitty), André T que produziu nosso álbum nos teclados e o nosso grande parceiro Ricardo Correia na percussão, que também gravou as linhas do disco”, concluiu Jajá Cardoso.

João Lucas Dantas

Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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