Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA
Wagner Moura critica abandono do teatro baiano: ‘Foi positivo no governo ACM’
Ator reforça importância do fomento público à cultura e destaca papel do Nordeste na defesa da democracia

O ator baiano Wagner Moura, durante a divulgação da estreia do espetáculo teatral O Julgamento – Depois do Inimigo do Povo, em Salvador, no dia 03 de outubro, no Trapiche Barnabé, fez paralelos com a situação política que o Brasil vive atualmente, criticou a situação em que se encontra o teatro baiano, com falta de fomento público, e a importância de artistas ainda tomarem à frente para protestar politicamente, como ocorrido no último domingo (21).
Protagonista e roteirista da peça, Wagner afirma que não haverá paralelos diretos com o Brasil na adaptação do texto do norueguês Henrik Ibsen (1828–1906), um dos fundadores do teatro realista moderno, na sua versão.
“É mais uma coisa do que a gente estava sentindo, do que estava nos inquietando e que se refletia naquela obra. E é claro que o Brasil nos inquieta, que as coisas que acontecem aqui e no mundo nos inquietam. Então, foi mais um reflexo do que um paralelo direto. Você não vai ver, talvez, uma citação direta a um fato objetivo que aconteceu, é mais uma sensação”, pontua o ator, durante coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (22).
Jornalista por formação, Wagner aproveita para pontuar como o jornalismo tem sido descreditado no atual cenário político mundial e afirma que esse é o tipo de tema que será abordado no espetáculo.
“O jornalismo vem sendo colocado propositalmente, desacreditado. A forma como as pessoas se informam. Isso está tudo discutido na peça, mas não de uma forma ligada a um evento específico. É claro que, como somos brasileiros, a gente vive todas essas questões”, acrescenta.
Situação do teatro baiano
Questionado pela situação que o teatro na Bahia se encontra, e como a vinda dessa peça pode impactar positivamente no fomento à arte no estado, Wagner diz que espera poder “movimentar a cena cultural”. “O teatro, em qualquer lugar, depende de incentivos públicos. E eu acho que isso não está acontecendo, e lamento que não esteja acontecendo nos últimos governos do PT na Bahia”, aponta.
Para o ator, fruto do cenário do teatro da Bahia dos anos 90, época do mandato governamental de Antônio Carlos Magalhães, diz que essa foi “uma época muito positiva para o teatro profissional do estado”.
“Essa época aconteceu durante o governo de ACM. E isso me dá uma angústia muito grande dizer isso, mas é verdade. Não quero criar polêmica com a Secretaria de Cultura da Bahia, nem com a quantidade de dinheiro destinado à cultura, mas acho mesmo que governos de esquerda deveriam, por natureza, incentivar muito mais a cultura e, sobretudo, neste caso específico, o teatro profissional da Bahia”, criticou o ator, em referência às gestões governamentais do PT no estado, desde Jaques Wagner, em 2007 até Jerônimo Rodrigues, atualmente.
“Eu me formei e existo como artista porque, justamente, na minha época de formação, vivi uma ebulição do Teatro da Bahia, em que pude ver Carmen Paternostro, Deolindo Quecucci, Márcio Meirelles, Fernando Guerreiro — essas pessoas trabalhando no seu potencial mais alto. Pude ver os atores da Bahia, como Jackson Costa, e o que a Bofetada fez ao trazer público para o Teatro da Bahia: Fafá Menezes, Carlos Betão, Rita Semani, Yamir Rebouças, uma quantidade de atores que me formaram ao vê-los”, relembrou Wagner Moura.
Para o mesmo, uma geração de atores locais terem referências profissionais somente do eixo Rio-São Paulo é “ruim” para a autoestima do teatro baiano e, sobretudo, para a sobrevivência profissional dos que vivem de teatro. “É foda ver um ator incrível e perceber que ele não consegue viver de teatro e precisa ter um emprego em outra área. Isso me dói. Tem atores como Lúcio Tranquese, Marcelo Praddo, atores que fizeram minha cabeça, e eu quero ver esses atores ocupando o lugar que merecem”, reinvidica.
“E isso, não só na Bahia, mas no Brasil, precisa de atenção do governo. A sequência de governos do PT, eu acho, não tem feito o que deveria estar sendo feito. Sei que o cobertor é curto, sei que a verba também é limitada, porque, tradicionalmente, a cultura no Brasil é subfinanciada. Então, que bom que o governo também apoia manifestações culturais do interior da Bahia, que eu acho incríveis, e que devem acontecer. Mas o teatro profissional da Bahia, eu sinto, está abandonado e precisa de mais atenção”, aponta o ator.
Manifestações pela democracia
O artista, que subiu ao lado da cantora Daniela Mercury no trio elétrico, no último domingo (21), para manifestar contra a PEC da Blindagem e contra a anistia dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, reforça a importância da região Nordeste na luta pela democracia no Brasil.
“Aqui a extrema-direita não se cria. Fiquei pensando nos caras que a polícia rodoviária parou naqueles ônibus para impedir que eles votassem, e os caras desceram, foram andando e foram votar, andando no sertão da Bahia”, diz.
“Essa, para mim, é uma compreensão do que seja democracia muito mais profunda e bela do que quando eu vejo esses caras lá do Congresso. O equilíbrio entre poderes, ele é a base da democracia. Impressionante como essas pessoas perderam a cara, a vergonha de falar essas coisas. É como se nós, o que nós pensamos, não importasse mais”, acrescenta Wagner. Para o mesmo, as manifestações ontem foram uma “clara” resposta ao movimento feito na política atualmente.
Questionado a respeito da ausência de mais artistas baianos no protesto, afirma que ninguém é “obrigado” a se pronunciar. “Quem tem que se falar é quem quer falar. E, quando você diz, você tem que segurar o rojão depois. Então, não é para todo mundo mesmo. Tem gente que se preserva, tem gente que não quer. E eu entendo completamente. E eu não acho que as pessoas devam ser pressionadas a se colocar se elas não estiverem prontas para isso”, esclarece.
Diálogos com a direita
Ao produzir a peça, Wagner Moura afirma seu desejo de se “dialogar com a direita”, mas lamenta não poder fazer isso no Brasil. “A gente quer bem-estar social, a gente quer cultura, a gente quer que as pessoas tenham um monte de coisa, que o Estado entre e faça um monte de coisa. E a direita com a qual eu queria dialogar pergunta assim: “Ok, e quem vai pagar por tudo isso que você está querendo?”. Essa é uma pergunta válida, é uma discussão importante”, provoca.
“Isso vai aumentar a carga tributária? De onde sai esse dinheiro? Eu queria ter esse tipo de conversa, mas não tem. Aqui é negócio de “toma o visto dele”. E a gente levanta essa discussão na peça. Será muito equilibrada. Os dois pontos de vista estão ali”, conclui Wagner.
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