Publicado em 31/07/2017 às 06h00.

Aleluia coloca ACM Neto como favorito, defende Temer e elogia Bolsonaro

Deputado do DEM diz que prefeito é "favorito em qualquer hipótese" na disputa pelo governo e não hesita em eventual 2º turno presidencial: "Em Lula não dá para votar"

Rodrigo Aguiar

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Presidente do DEM na Bahia, o deputado federal José Carlos Aleluia diz que o prefeito de Salvador, ACM Neto, é “favorito em qualquer hipótese” na eleição para o governo do Estado no próximo ano.

“O que vai acontecer no futuro nem Madame Beatriz é capaz de saber. Mas hoje ele é o favorito, porque o novo é favorito. As pessoas não querem mais do mesmo”, afirma o democrata, que acredita existir “oportunidade” de atrair para o seu campo político atuais aliados do governador Rui Costa.

Aleluia refuta novamente qualquer conspiração do Democratas contra o governo Temer e defende o peemedebista das acusações de corrupção feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

“O que faltou na denúncia? A mala não chegou ao presidente. O dinheiro não chegou ao presidente”, defende o deputado, para quem faltam “provas concretas” contra o presidente.

O parlamentar critica ainda posicionamento do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, que recentemente acusou o PMDB de querer “acabar” com a operação. “São as declarações de um político”, classifica.

Sobre a montagem da chapa majoritária para o próximo ano, Aleluia admite a possibilidade de José Ronaldo, prefeito de Feira de Santana, deixar o DEM.

Questionado sobre o pleito presidencial, o democrata diz o partido ainda não tem candidato e se posiciona em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro. “No segundo turno você escolhe entre a cruz e a espada. […] Bolsonaro é um colega nosso, um rapaz bom, sério, não tem nada que desabone a sua conduta”, opina.

Confira abaixo a entrevista:

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

bahia.ba – A gente viu um movimento nos últimos dias de uma possível migração de deputados do PSB para o DEM. Se falou também do nascimento de um novo partido no campo de centro-direita. Como estão as negociações, quais as novidades?

José Carlos Aleluia – Olha, as notícias são fundadas, são verdadeiras. Inicialmente aqui na Bahia se falou em fusão. Não existe absolutamente nenhuma fusão em vista. Existem muitos deputados que estão entendendo a necessidade do Brasil ter uma força de centro-direita, que é a tendência que governa os principais países da Europa. E que é uma visão que trabalha com economia de mercado, mas com uma visão social. Tanto é que alguns estudiosos chamam de economia social de mercado. Saindo daquela ideia que muitos no Brasil queriam dizer, que todo mundo era de esquerda. Esse partido não será de esquerda. Será um partido equilibrado, que vai defender princípios básicos da vida, da liberdade e da economia social de mercado.

.ba – Qual será, então, a diferença desse novo partido para o atual Democratas?

JCA – Nós estamos trazendo deputados que vêm do Partido Socialista Brasileiro e que vêm de outros partidos. Então, vamos ter que buscar reafirmar e renovar as propostas que atendam a esse conjunto. Por exemplo, se você olhar a proposta da criação do DEM, há muito pouca ênfase no assunto mais importante do Brasil hoje: a segurança. É uma coisa que antecede a tudo. Na origem do Estado, a segurança talvez foi a primeira iniciativa coletiva de uma tribo. Segurança contra os agentes externos, e depois de ordem interna. No Brasil de hoje, é preciso dar ênfase a itens como esse. Em que pese o Brasil ter uma extração tributária na casa dos 40% do Produto Interno Bruto, você vive em um país em que a segurança é semelhante à de um país em guerra civil. Os índices são alarmantes. Claro que em alguns estados as coisas se agravam mais. Agora no Rio de Janeiro há um colapso do Estado. E na Bahia, embora não haja um colapso do Estado, há uma tendência de agravamento. Portanto, nós vamos trabalhar com as ideias clássicas de austeridade na administração pública, que era muito difícil de vender antes. Porque ninguém tinha experimentado ainda um colapso do Estado, e o Rio de Janeiro, de certa forma, hoje é didático para que as pessoas, sobretudo a juventude, despertem para a necessidade de mudar. O episódio ocorrido agora de aumento de imposto é também uma demonstração de que ou se muda, ou se tem o caos, ou aumento de imposto. Nós somos contra o aumento de imposto, mas o caos ainda é pior.

“A sociedade nunca esteve tão ávida pelo novo.”

.ba – Esse “novo” partido tem alguma proposta de mudança de nome? Tem alguma inspiração externa, como o Podemos? Teria algo a ver com o partido de Macron, na França?

JCA – O partido de Macron é mais à esquerda; ele formou uma frente, na verdade. Mas nós não temos nenhuma discussão quanto a nome. Claro que podem surgir ideias, todos podem contribuir, mas não há nenhuma ideia como essa do Podemos, que é uma coisa muito vaga, e nós não queremos descambar para o campo do populismo.

.ba – O senhor mencionou partidos europeus. Estaria mais para uma espécie de Partido Conservador inglês?

JCA – Não, estaria mais na linha do partido da Angela Merkel, a União Democrata-Cristã, ou o Partido Popular, da Espanha. São partidos que deram exemplos. O Partido Popular perdeu a eleição depois daquele atentado no metrô. Um equívoco eleitoral ali. Os socialistas governaram por algum tempo e entregaram a Espanha aos pedaços. Hoje a Espanha produz 500 mil novos empregos por ano. O país cresce, está respirando novidade. Um governo realmente querido pelo povo, que está vendo resultados. Na Alemanha, da mesma forma. A primeira-ministra Angela Merkel provavelmente vai vencer para o quarto mandato, o que é um recorde. Só um ou outro chanceler conseguiu isso. E o Brasil está necessitando de uma solução nesse campo, para fugir às ideias de retorno. Ninguém quer retorno, voltar ao passado. As pessoas querem o novo. A sociedade nunca esteve tão ávida pelo novo.

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

.ba – Uma pessoa da órbita do prefeito ACM Neto falou há um tempo para a gente que havia uma possibilidade de o prefeito tentar “tomar” o PSB da Bahia, que é controlado por Lídice da Mata, e nacionalmente é dividido. Ainda há alguma possibilidade de investida sobre o PSB? Essa semana se falou da possibilidade de Leo Prates e Zé Ronaldo entrarem para o partido.

JCA – Eu não tenho a menor ideia de onde surgiu isso. No passado, como havia no PSB uma tensão interna, se eventualmente o grupo que está agora migrando assumisse o controle, é provável que o partido se afastasse do PT. E aí poderia vir para o nosso campo. Mas o que aconteceu foi o contrário. Quem dominou o partido foi a burocracia, que tem afinamento com a senadora.

.ba – Zé Ronaldo fica no DEM, ou pelo menos no campo político?

JCA – No campo, sim. Zé Ronaldo foi nosso companheiro em momentos difíceis. Esteve conosco na nossa derrota em 2006, foi candidato em 2010 em uma eleição difícil – quando o Partido dos Trabalhadores nacionalmente era favorito – nos apoiou de novo em 2014. Zé Ronaldo é um companheiro de primeira hora, e tem muito espaço e carinho conosco.

“O passe dele [Zé Ronaldo] vale mais do que o de Ronaldinho nos bons tempos e o de Neymar hoje.”

.ba – Mas a permanência no partido não está garantida?

JCA – Pode ser no partido ou no campo. Você sabe que nós temos que fazer alianças. Pode ser que alguém se desloque dentro do campo para formar uma chapa com mais amplitude.

.ba – Então o senhor acredita que não vai prosperar esse namoro, esse assédio por parte do governador Rui Costa?

JCA – Isso só valoriza o passe de Zé Ronaldo.

.ba – Ele próprio está tentando valorizar o passe também, né?

JCA – O passe dele já é valorizado demais. Em relação a nós, o passe dele vale mais do que o de Ronaldinho nos bons tempos e o de Neymar hoje (risos).

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

.ba – Em 2010, o senhor disputou o Senado. Tem interesse em novamente disputar o Senado ou vai tentar reeleição?

JCA – Sou candidato a deputado federal, como em 2010 eu era candidato a deputado federal. Se for importante para o nosso campo compor uma chapa, não terei dificuldade de discutir o assunto. Mas sou candidato a deputado federal. E todo deputado passa os quatro anos em campanha. Então eu continuo trabalhando para ser deputado federal.

.ba – O senhor mencionou a possibilidade de Zé Ronaldo se deslocar para algum partido do mesmo campo político. Também vê essa possibilidade em relação ao ministro Imbassahy, de ele sair do PSDB e ir para alguma legenda aliada?

JCA – Eu nunca conversei com Imbassahy. É evidente que Imbassahy tem uma posição estratégica no governo e está confortável no PSDB. Mas depende muito, certamente, da posição dele e da posição do PSDB em relação ao governo. Houve uma ameaça muito forte de o PSDB deixar o governo, mas acho que está prevalecendo a permanência, o que dá conforto a Imbassahy.

“Se o Democratas tivesse conspirado para desestabilizar o governo, o governo não teria tido o sucesso que teve na votação da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça”

.ba – Houve a especulação de que Imbassahy poderia ir para o PMDB e o deputado Lúcio Vieira Lima, presidente do partido, fechou as portas completamente, também para Zé Ronaldo, disse que o partido não era barriga de aluguel. E há uma desconfiança nacional sobre o posicionamento do DEM em relação ao governo Temer. Falou-se em conspiração. Como presidente do DEM, como vê a aliança com o PMDB na Bahia?

JCA – O PMDB é um aliado importante, com quem pretendemos manter a aliança. E quanto à fidelidade do Democratas, eu disse ao presidente e estou dizendo a vocês: se o Democratas tivesse conspirado para desestabilizar o governo, o governo não teria tido o sucesso que teve na votação da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça. Na reforma trabalhista, nós fomos 100%. E na denúncia, embora não tenhamos fechado questão, os quatro votos, demos três, inclusive o meu. Eu fui um dos que defenderam o presidente, mostrando que a denúncia não tinha fundamento, não tinha materialidade. O que deu muito conforto ao presidente. Claro que existem especulações, semana passada houve um café da manhã, eu até ia fazer um café com as mesmas pessoas que estiveram com o presidente. Eles chegaram depois e foram tomar café conosco. Falaram claramente que o presidente queria agradecer e agregar. Mas aí alguns aliados do próprio presidente tentaram passar a ideia de que ele foi lá atrair gente para o PMDB. Acho que, no momento, o PMDB não está preocupado em atrair gente, embora seja o partido do governo. É nosso aliado nacional e local.

.ba – Ao contrário de outros parlamentares, que anunciaram antes como votariam em relação à denúncia contra o presidente, o senhor não fez isso. Qual foi o motivo?

JCA – Primeiro, eu me preocupei em estudar muito a denúncia com a assessoria jurídica. O partido tem uma ótima assessoria jurídica. Nós estudamos o assunto até a terça-feira da semana da votação. A minha declaração de voto foi na quarta, e o voto na quinta. Embora o partido não fosse fechar questão, eu achava importante também que eu falasse em nome do partido. Eu sou o líder do partido na Comissão de Justiça. Então, não poderia falar algo que não levasse pelo menos três dos quatro votos. Já sabia que um não era nosso. Então, trabalhei muito para fazer um voto consistente. Acho, inclusive, que a minha declaração de voto na quarta-feira é muito mais técnica, do que o voto, que terminou sendo divulgado na quinta, porque houve um incidente de um deputado militar [Major Olímpio] que quis dar uma de brabo e eu tive que citar um exemplo que meu pai, que era militar também, me disse, de que nem todo militar é valente.

“Temos que ser sentinelas silenciosos. Eventualmente, se acontecer alguma coisa, não será com a nossa conspiração. Porque quem governaria depois precisaria do próprio PMDB.”

.ba – Recentemente, a Folha colocou o senhor como integrante do núcleo duro de Rodrigo Maia. Não seria interessante para o DEM se afastar do governo Temer, que tem uma alta rejeição, e ter Rodrigo Maia na Presidência da República?

JCA – Nós achamos que é um trauma que não devemos provocar. Temos que ser sentinelas silenciosos. Eventualmente, se acontecer alguma coisa, não será com a nossa conspiração. Porque quem governaria depois precisaria do próprio PMDB. Como é que eu vou conspirar contra o PMDB se preciso do PMDB para governar? Não adianta governar sem ter a maioria ampla. Na verdade, nós estamos vivendo um regime parlamentarista, ou semi-parlamentarista, muito mais aprofundado. Nós não conspiramos. Entendemos que o melhor caminho é manter o presidente Temer, e ele reafirmar os compromissos de fazer com que esse Estado saia das nossas costas. O Estado está virando um peso excessivo para a sociedade carregar: 43% de imposto a mais no litro de gasolina é muito pesado, muito penoso. Mas, sem isso, teríamos uma falência do Estado, como no Rio de Janeiro, que não fez isso e hoje não paga aposentados e ainda está fechando o mês de abril. Não paga os policiais, os professores. O Rio de Janeiro está vivendo o caos. E o Brasil não pode viver isso.

.ba – Então o senhor refuta completamente ser do núcleo duro de Rodrigo Maia, assim como ACM Neto?

JCA – Nós somos amigos de Rodrigo Maia, que foi meu vice-líder. Depois eu ajudei a elegê-lo para líder. ACM Neto é um grande amigo dele. Mas a casa de Rodrigo é hoje, de fato, uma Casa do Congresso. Eu nunca fui na casa de Rodrigo para ter menos de dez deputados, de todos os partidos, inclusive dos partidos de oposição, que têm muito acesso para conversas com eles. Rodrigo é um rapaz de convicções muito firmes, em termos do que tem que ser feito, mas de diálogo muito pontual.

“O que faltou na denúncia? A mala não chegou ao presidente. O dinheiro não chegou ao presidente. Não há nenhuma prova de que o presidente tenha participado daquilo.”

.ba – Retomando um ponto, ainda sobre a denúncia contra o presidente, o senhor acredita que não há nenhuma materialidade, mesmo com tudo que foi elencado? Gravações, fotografias, filmagem de mala de dinheiro sendo entregue…

JCA – Esse é o problema. A mala estava chipada, foi entregue a um deputado. Esse deputado é amigo do presidente. As pessoas que chiparam a mala e numeraram as cédulas ficaram na expectativa de que a mala fosse para algum lugar. A prova seria a mala ser deslocada para alguém do presidente ou para o presidente. A mala não foi deslocada e vários dias se passaram. A mala ficou na casa do receptor, da pessoa que foi lá e fez a transação. Mais do que isso, o que provou que a mala era dele é que ele foi lá e gastou uma parte. Quando devolveu [a mala], não tinha tudo. Está muito claro que a trajetória da mala não foi falada, ela desapareceu do processo, porque ela não chegou aonde queriam. Então, o que faltou na denúncia? A mala foi recebida por um deputado, eu entendo que de forma ilegal, ele está preso e vai ter que responder. Agora, o que faltou na denúncia? A mala não chegou ao presidente. O dinheiro não chegou ao presidente. Não há nenhuma prova de que o presidente tenha participado daquilo.

.ba – O senhor não acha incoerente a posição do Democratas, que endossou as manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma, contra quem havia várias denúncias no âmbito da Operação Lava Jato? Inclusive pelo fato de que algumas denúncias colocam o PT e o PMDB juntos?

JCA – O problema é que, quando você faz um julgamento, é preciso trabalhar com as leis e os fatos. O que se reporta do PMDB no governo Dilma, antes do governo Temer, vai ser objeto de investigação. Ninguém vai deixar de processar. Quando é que se enquadra o presidente Michel? Nos atos fora da legalidade que comprovem que ele tenha cometido no mandato. A mala é a única acusação contra ele. De que ele teria recebido dinheiro da mala, que nunca chegou a ele. Quanto às doações, as transações anteriores, isso está sendo investigado, mas não implica no afastamento do presidente, porque não foram crimes praticados no exercício da Presidência. Ele terá que responder, e certamente responderá, quando terminar o governo dele. Enquanto a presidente Dilma foi acusada por atos praticados no governo dela, que são responsáveis, inclusive, pelo aumento da gasolina, pelo caos em que o Brasil ficou. Ela deixou falsificar o balanço do país.

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

.ba – O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, disse claramente que o PMDB pretende acabar com a Lava Jato e afirmou que havia políticos que estariam interessados anteriormente em acabar apenas com o governo Dilma, e não com a corrupção.

JCA – Essas declarações do procurador são as declarações de um político. Eu não apoio ninguém quem queira barrar ou acabar com a Lava Jato. O meu partido apoia a Lava Jato, agora eu também não apoio que o procurador fique fazendo política. Ele tem que procurar exercer o seu papel, dentro dos limites da legalidade.

.ba – Esse discurso de que a Lava Jato age politicamente é o mesmo usado muitas vezes pelo PT…

JCA – Não é a Lava Jato que age politicamente. Ele está fazendo isso. A Lava Jato está fazendo um belo trabalho. Não faço nenhuma restrição à Lava Jato. Acho que tem que fazer isso mesmo, limpar, investigar tudo, prender. Investiga quem tiver que investigar. Quem estiver limpo, vai sair. Quem não estiver, não vai. Agora, não dá para ficar condicionando tudo a ‘vai parar a Lava Jato, não vai parar a Lava Jato’. Eu conheço bem o diretor da Polícia Federal. É um cara profissional, competente, da melhor qualidade. Não vai barrar a Lava Jato, nem nós vamos barrar, nem a nova procuradora-geral da República.

.ba – O senhor acha que o Leandro Daiello deve ficar na direção da PF?

JCA – Eu gosto do Daiello. Tenho tido muita oportunidade de conversar com ele, e me impressiona o grau de informações que ele tem sobre o Brasil, as coisas do país. Claro que dentro da Polícia Federal, como em qualquer corporação, tem uma tendência que quer que ele saia. Mas eu, particularmente, gosto muito dele e acho um profissional qualificadíssimo, que não se pode descartar na vida da corporação.

.ba – O senhor foi citado na lista de Janot. Tem alguma novidade em relação ao processo?

JCA – Um dos delatores falou que fez doação para mim. Não tem prova nenhuma e eu não recebi. O próprio Ministério Público, de ofício, pediu para me tirar da Lava Jato. Não fui eu que pedi nada. Estou aguardando que eles façam o que quiserem. Tenho absoluta certeza de que nada vai acontecer. Eu não pedi para mudar; eles mudaram porque viram que tinham errado. O ministro do Supremo autorizou e mudou de mão.

“Quando falo com o presidente, eu chego na porta da sala, deixo meu celular e ainda deixo meu relógio, que fala. […] Ele não me pergunta nada, mas acho que é um direito de proteção ao presidente e a mim.”

.ba – A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente foi por corrupção passiva. Especificamente em relação àquele áudio mais famoso que vazou, o senhor não acha que houve sequer o crime de prevaricação? Quando Temer ouve de Joesley que ele teria juízes. Depois ele veio a público e disse que Joesley seria um falastrão. Essa narrativa o convenceu?

JCA – Uma coisa engraçada que o Ministério Público não explicou é: cadê os juízes? Ele falou que tinha dois juízes. Quais são? O próprio Ministério Público diz que é fanfarra; desapareceu com isso. Não quer falar nisso, porque não existe. A conversa foi inconveniente; ele não deveria ter tido. Não é um crime, mas foi um erro do presidente. Quando falo com o presidente, eu chego na porta da sala, deixo meu celular e ainda deixo meu relógio, que fala. Então, eu deixo tudo lá. Ele não me pergunta nada, mas acho que é um direito de proteção ao presidente e a mim. Se vierem outras denúncias, poderão versar sobre outras coisas. Mas, em relação a essa, eu disse no meu discurso: tragam provas concretas que nós mudaremos nossa posição. Até agora, não tem.

.ba – Há um debate muito grande sobre os limites de cada Poder. O senhor acha que uma nova Constituinte seria uma saída para resolver parte desses imbróglios? O DEM defende isso?

JCA – Nós não fechamos isso. É sempre um risco um país em paz tratar de abrir a Constituição para fazer mudança constitucional por metade mais um. Eu tenho muita restrição a isso. Quanto ao relacionamento entre a Polícia Federal, o Ministério Público e o Poder Judiciário, é claro que isso é uma luta de corporações, mas eu acho que é preciso arbitrar mais. Talvez a Polícia Federal precise ter mais espaço; não autonomia. Mas precisa ter mais espaço para investigar. E também acho que é muito perigoso quando alguém pode fazer todo o processo sozinho. O Ministério Público também tem que usar a Polícia Federal. No caso específico, por exemplo, do procurador que foi preso, o Ministério Público chegou ao ponto de fazer tudo, inclusive a prisão. No meu entendimento, o correto é que ele fosse preso pela Polícia Federal, como qualquer cidadão. Há que se arbitrar isso, mas uma coisa precisa ser comemorada: o Poder Judiciário brasileiro está se afirmando. Isso é muito bom para o Brasil. Acho que não há brasileiro que não apoie isso. Claro que há um juiz que às vezes é um pouco mais duro, prende indevidamente, depois solta… Algumas injustiças são cometidas, mas o pior era não fazer nada. Era deixar a corrupção tomar conta do país, que estava contaminado por uma rede de corrupção sistêmica, perigosa, que acho que deve ser desmontada.

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

.ba – A gente já sabe o seu candidato ao governo da Bahia. Queria saber o seu candidato a presidente da República.

JCA – Nós não temos candidato a presidente da República, acredito que ninguém tem. O meu partido nunca sentou para conversar. Claro que começam a especular nomes. Mas eu sempre fui contra, por exemplo, de discutir o candidato do partido dos outros. Por exemplo, no tempo em que Aécio discutia com Serra, eu dizia: ‘olha, eu não me meto nisso’. Eles têm que discutir o deles. No íntimo, eu posso até ter a minha preferência. Agora, no meu partido nós ainda não temos candidato. Se o partido crescer muito, eventualmente pode ter candidato. Até porque há um espaço vazio. Você olha os políticos da cena nacional e vê as pesquisas: o presidente Lula está bem, mas tem uma condenação em primeira instância e vários outros processos que poderão gerar condenações em primeira e segunda instâncias; o prefeito de São Paulo [João Doria] é um nome, mas está dentro do PSDB; Alckmin é um excelente nome, mas tem que se viabilizar dentro do partido dele; lá em São Paulo, quando você fala em nomes, as pessoas começam a mencionar os jovens do meu partido: Neto, Rodrigo… Mas ainda está muito cedo. Nenhum deles é candidato. Neto é possível candidato ao governo da Bahia.

.ba – Possível?

JCA – É um pré-candidato. Mas não está em campanha ainda.

.ba – O senhor mesmo já disse que não trabalha com nenhuma hipótese que não seja a candidatura dele.

JCA – Não tem nenhuma outra hipótese. Se ele não sair… Ele vai sair. Até porque as pesquisas dos adversários estão boas para ele (risos).

.ba – O Estadão deu que o DEM fechou com Alckmin. Não é verdade?

JCA – Não fechou. Eu almocei com Alckmin há 15 dias. Ele é um homem extraordinário, preparadíssimo, tem uma vida extensa de trabalho e seriedade. Um exemplo que eu gosto de citar: o filho de Alckmin morreu trabalhando. Não foi fazendo lobby. Era um piloto profissional de aviação. Portanto, é um homem de vida modesta. Mas não é hora de escolher candidato. O partido não iria nunca fechar com ninguém. Alckmin é uma possibilidade? É. Mas ele primeiro precisa resolver o problema do partido dele.

“Bolsonaro às vezes fala algumas coisas que a gente não gosta de ouvir, mas acho que é bom ouvir um politicamente incorreto, às vezes, também”

.ba – O senhor mencionou alguns possíveis candidatos, que têm sido colocados nas pesquisas, mas não falou em Bolsonaro, que pontua bem e já apareceu em segundo lugar, empatado com Marina Silva. O DEM apoiaria Bolsonaro em um eventual segundo turno?

JCA – No segundo turno você escolhe entre a cruz e a espada. Evidentemente, se você tem um candidato de extrema-esquerda e Bolsonaro, você vai analisar. Bolsonaro é um colega nosso, um rapaz bom, sério, não tem nada que desabone a sua conduta. Às vezes fala algumas coisas que a gente não gosta de ouvir, mas acho que é bom ouvir um politicamente incorreto, às vezes, também. Por isso que ele está crescendo.

.ba – Entre Lula e Bolsonaro, alguma dúvida?

JCA – Depois do fundo de pensão, não dá para votar nele. Em Lula, não dá para votar. Não me obrigue a ir para Miami (risos).

.ba – Sobre as tratativas para a candidatura de ACM Neto, há um cenário hipotético de Neto como candidato a governador, o PRB na vice, o PSDB com candidato ao Senado e Zé Ronaldo, talvez pelo PMDB. Seria dentro desse espectro? Tem algum outro partido com força suficiente para pleitear um lugar na chapa?

JCA – Tem. O nosso campo pode ampliar. Não estamos fechando a porta. Sobretudo quando você tem um candidato que é favorito. Qual foi o grande trunfo do PT nas três últimas eleições? O favoritismo nacional. Na hipótese provável de Lula não ser candidato, o PT não terá um candidato nacional favorito. Isso tem um peso muito forte na Bahia, o que deixa em dificuldade o governador, que já está em inferioridade em pesquisas.

.ba – Mas por que ACM Neto é favorito, na sua opinião?

JCA – As pesquisas mostram claramente isso. Todas as pesquisas que eu vejo. Hoje foi publicada uma em Feira de Santana, que deu quarenta e…

.ba – Mas o histórico de pesquisas na Bahia é meio complicado, né?

JCA – O problema é que a campanha da Bahia tem a ver com a nacional. Agora, eles não vão ter o grande trunfo, que era Dilma chegar aqui e apoiar claramente o candidato de lá, como ela fez aqui na reeleição de Wagner. Ela veio aqui e disse: ‘Wagner é o meu candidato’. Se ela não viesse aqui, ia ter segundo turno. Eles tinham tanta certeza da vitória deles que puderam vir aqui na Bahia e abandonar os aliados.

.ba – Foi quando Geddel achou que ela estaria no palanque dele.

JCA – Geddel foi obrigado a apagar o nome dela rápido.

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Foto: João Gabriel Veiga / bahia.ba

 

.ba – Se Temer ficar no Planalto até dezembro do ano que vem, Neto ainda é favorito?

JCA – Neto é favorito em qualquer hipótese. O que vai acontecer no futuro nem Madame Beatriz é capaz de saber. Mas hoje ele é o favorito, porque o novo é favorito. As pessoas não querem mais do mesmo. Isso também nacionalmente. Aqui na Bahia, as pessoas estão identificando Neto como a novidade.

.ba – Então, na sua avaliação, Rui Costa já pode ir preparando a mala?

JCA – Não. Ele vai lutar, a eleição não acabou ainda. Vai ter eleição. Mas eu sou muito otimista.

.ba – Acha que vai ganhar no primeiro turno?

JCA – Isso é muito cedo para dizer. Seria muito pedantismo da nossa parte. Até porque depende muito do jogo nacional também. Como vai ser essa eleição nacional? Vai ser parecida com a eleição de Collor, quando havia uma tonelada de candidatos? Vai ser mais parecida com a de Fernando Henrique e Lula, quando polarizou logo? Embora o jogo da Bahia esteja bem claro, o jogo lá de fora é imprevisível. Lula vai participar do pleito? Não vai participar? Quem são os candidatos?

.ba – Já que o senhor considera ACM Neto tão favorito, existem negociações com os partidos aliados do governo para uma possível migração?

JCA – Nós não estamos negociando, mas entendemos que há oportunidade. Na medida em que o governo começa a claudicar, é evidente que pode perder aliados. Isso é natural.

“O metrô é uma obra tripartite. Tem mais dinheiro do Município do que do Estado. Dinheiro, cash. O Município deu o que tinha de patrimônio e ainda abriu mão dos impostos, que eram significativos.”

.ba – O discurso mais forte para o eleitor é o metrô ou a violência?

JCA – O discurso mais forte para ganhar a eleição é o novo. O metrô é uma obra tripartite. Tem mais dinheiro do Município do que do Estado. Dinheiro, cash. O Município deu o que tinha de patrimônio e ainda abriu mão dos impostos, que eram significativos. O Estado tomou todo o dinheiro do governo federal. É uma obra que mostra muito bem a forma como nós tratamos a Bahia. Nenhum parlamentar nosso foi lá atrapalhar o metrô. Foi ponto de honra de Neto, do Democratas, dos colegas do PSDB, do PMDB. Ninguém atrapalhou o metrô. O metrô é uma obra da Bahia, feita com dinheiro do governo federal e uma participação do Estado.

.ba – Recentemente, o senador Otto Alencar acusou o DEM de barrar empréstimos da União para o governo do Estado.

JCA – Eu tenho impressão é que Otto está zangado com a aproximação do presidente da Assembleia [Ângelo Coronel] com a gente (risos).

.ba – Mas o senhor acabou não respondendo. O metrô dá mais voto ou a violência tira mais, na avaliação do DEM para a campanha?

JCA – Olha, a violência está no interior da Bahia. Outro dia, uma guerra de tráfico em São Félix e Cachoeira. Em quatro dias, quatro jovens assassinados. É claro que isso é no Brasil todo, mas a Bahia só perde para o Rio, porque a polícia parou no Rio. Nos números do Mapa da Violência, a Bahia é pior do que o Rio. Nos próximos, é possível que o Rio passe. Então, o governo fracassou na segurança pública. Por que o povo está dizendo nas pesquisas que Neto é o favorito? Porque não aguenta mais do mesmo. Cansaço; são dez anos e meio. Muita propaganda e muita viagem. E o governador está em uma fase irritadiça. Ele está como a rainha que olha para o espelho e diz: ‘Espelho, espelho meu, existe alguém na Bahia mais querido do que eu?’. E ele vê o Neto do outro lado. A verdade é essa. Ele está irritado. Poderia tentar fazer uma reforma no governo, mas acho difícil. Ele está mostrando cansaço também.

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