Publicado em 08/10/2016 às 11h00.

Aleluia defende Uber, ‘Escola sem Partido’ e porte de arma

Eleito vereador pelo Democratas, com 8.941 votos, Alexandre Aleluia é assumidamente conservador: considera, talvez, estar à direita do seu partido

Rodrigo Aguiar
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

Defensor do armamento civil, da liberdade econômica, da família e de “valores”, Aleluia promete apresentar em seus primeiros dias como vereador um projeto baseado no Escola Sem Partido, contra uma doutrinação, fruto de uma “revolução cultural” promovida pela “esquerda revolucionária”.

“Foi uma coisa paulatina, e o PT e os partidos de esquerda acabaram ocupando os lugares estratégicos, de acordo com o filósofo que eles seguem, que é Antônio Gramsci. Ocuparam a academia, as escolas, os sindicatos, ‘APLBs’, os postos do MEC. Isso acabou descendo, de forma sutil, porém constante, chegando até o professor de 5ª série”, diz o vereador eleito.

Favorável ao Uber, Aleluia adota discurso contrário ao da prefeitura em relação ao tema e afirma que, caso uma proposta de regulamentação do aplicativo chegue à Câmara, estará entre seus apoiadores. “Eu vejo que o caminho natural é regulamentar o serviço. Como amante da liberdade, do livre empreendedorismo, da livre atividade econômica, tenho certeza que, se o debate for para a Câmara, tentarei fazer a regulação mais livre possível”, diz.

Apesar disso, pontua que não será um vereador “independente”. “Sou da base do prefeito ACM Neto. Eu deixo isso muito claro. Faço parte da sustentação do prefeito, sou do partido dele”, ressalta.

Contrário ao Estatuto do Desarmamento, o democrata defende que as pessoas devem ser “livres para se defender”. “Muitas pessoas até exageram, dizendo que, se o armamento civil for permitido, vai ter gente armada em toda esquina. Não era assim no Brasil quando não havia o estatuto, inclusive a taxa de homicídios era bem menor”, argumenta.

Filho do deputado federal José Carlos Aleluia, o vereador eleito se diz cético em relação à “nova política” e afirma que a chamada “renovação” é “uma palavra até muito lugar comum”. “Eu prefiro dizer que as pessoas querem políticos autênticos e transparentes”, resume.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
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bahia.ba – Você foi um dos vereadores mais novos da Câmara, mas vem de uma família tradicional da política. Seu pai é deputado federal. Essa ligação familiar ajuda ou atrapalha mais? Como vê ser vinculado ao deputado Aleluia?

Alexandre Aleluia – Essa coisa da família é algo que eu prezo muito, inclusive nos meus discursos e nas minhas caminhadas. Eu acredito na ligação de sangue em uma relação muito mais metafísica. O que eu procuro resgatar ou valorizar da minha relação familiar na política é exatamente o que eu herdo em termos morais, éticos, conceitos, visões sobre política. Acho que isso é importante e eu procuro levar. Até o nome é um nome forte, né. Forte até no sentido literal da palavra. É inevitável que as pessoas procurem conceito, a imagem do nome Aleluia. Eu não tenho nada a esconder, e sim muito a me orgulhar. Uma coisa que eu herdei e que procurei me espelhar no deputado Aleluia é a coragem em defender o que acredita. Eu procuro ser parecido. Mesmo que não agrade a todo mundo, eu procuro defender com coragem minhas posições. Eu prefiro defender uma posição a querer agradar a todo mundo e não agradar ninguém. Essa tem sido a minha linha de raciocínio.

.ba – Na campanha, e até na votação, qual foi o peso que teve essa relação familiar? É a primeira vez que você se candidata a vereador e teve uma votação expressiva.

AA – É difícil mensurar isso. Muitas pessoas enxergavam todo o conceito que Aleluia criou na vida pública e procuravam enxergar as minhas particularidades, quem é Alexandre. Eu procurei construir os meus conceitos, a minha imagem, as minhas ideias. Eu penso muita coisa igual ou parecido com o deputado Aleluia, e é natural. Visão sobre política, economia, sociedade, é natural que o filho pense alguma coisa parecido. A gente acredita na liberdade econômica, na liberdade de buscar felicidade, na democracia representativa, em conservar valores e família. A gente diverge em pouca coisa.

.ba – Há muitas críticas de que a cobrança feita pela sociedade brasileira por uma renovação da política, da nova política, não deveria passar por manutenção dos chamados ‘feudos familiares’. ACM Neto, que é neto de Antônio Carlos Magalhães. Sarney Filho, que é filho de Sarney… Tem o filho de Lula, que foi derrotado, mas se candidatou também, e você é filho de um deputado federal tradicional aqui da Bahia. O que você acha dessas críticas, de que essas pessoas buscam na verdade manter as famílias no poder?

AA – Primeiro, eu sou muito cético com o termo ‘nova política’. Se a gente for estudar de onde surge esse conceito, vem muito de uma espécie de criação de desgaste institucional, e a partir daí começa a surgir um conceito de nova política, de que agora vai ser tudo novo. Muito parecido com a década de 90, com a nova política pela ética, encampada por Betinho. Isso acaba abrindo espaço até para políticos messiânicos etc. Eu procuro ser cético em relação a isso. Eu prefiro ser pé no chão e olhar as coisas como são. Procuro ver o que é bom e o que é ruim. As pessoas têm que ser assim: ver o que é bom, e não só porque o filho tem que ser bom, e ver o que é ruim. Saber separar. Acho que as pessoas falam muito em renovação, e o desgaste político é notório, e acho que quando se fala em renovação, que é uma palavra até muito lugar comum, eu prefiro dizer que as pessoas querem políticos autênticos e transparentes. A gente vê muita gente, na verdade, querer saber em quem está votando. E tem muito político que quer agradar todo mundo, falar um monte de frase bonita, mas quando você espreme acaba não conseguindo absorver muita coisa. Acho que a relação familiar não atrapalha; também não fico me confiando nisso. Tenho procurado desenvolver meus pensamentos e ideias sem preocupação.

.ba – Pela descrição que você faz das bandeiras que defende, dá para ver que você é um político conservador ou de direita. Pretende manter a defesa desses valores exercendo o mandato na Câmara ou há uma tendência de ir mais para o centro?

AA – Essa é uma pergunta importante. Eu acredito nisso, essas são as minhas bandeiras. Mas não adianta a gente pensar em ideologias e planos mirabolantes e não enquadrar tudo na realidade. Nós temos a nossa realidade, a nossa Câmara – que é legítima – nossas peculiaridades de Salvador, Bahia e Brasil. Às vezes, a gente não chega ao perfeito, mas a gente pode chegar ao melhor. Prefiro pensar sempre no melhor possível a ficar sonhando com um ideal que nunca será alcançado.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Você falou em políticos autênticos e a gente vê aqui na Câmara um efeito manada. Nesse novo conjunto eleito, há 31 vereadores da base do prefeito, 11 da oposição. Essa oposição se comporta como contrária a tudo e qualquer coisa, não vê nada de positivo no que é desenvolvido pela prefeitura. Já os 31 da bancada do prefeito se comportam como se tudo fosse positivo. Tem um vereador que destoa disso, que é Edvaldo Brito. Ele vai com a oposição ou com o governo a depender do que interpreta ou sugere para os projetos. Você pretende se comportar como autêntico e, inclusive, criticar determinados projetos do prefeito com os quais você não concorde ou está mais próximo de ser mais um dos 31?

AA – Eu não sou independente; sou da base do prefeito ACM Neto. Eu deixo isso muito claro. Faço parte da sustentação do prefeito, sou do partido dele. É natural que eu apoie os projetos do prefeito, como posso tentar melhorar alguns projetos onde eu enxergue espaço para melhorar. Às vezes, não com uma atitude legislativa direta, mas até em conversas de bastidores, procurando melhorar até antes de chegar à Câmara. Tenho muita honra de ser da base do prefeito.

.ba – Durante a campanha, houve insatisfação de alguns vereadores do DEM, até mesmo públicas – como o vereador Cláudio Tinoco, que se queixou da distribuição do dinheiro do fundo partidário para os candidatos. O que aconteceu exatamente? Você julga que a distribuição foi justa? Como ficou a situação?

AA – Acho que foi muito do calor do período eleitoral. É natural algum atrito aqui ou acolá. É um momento de tensão muito grande, mas eu sou muito tranquilo e costumo focar no meu trabalho e tal. Em relação à palavra ‘justiça’, o que acontece? A nova lei eleitoral estipula que cada deputado federal tem direito a uma cota do fundo partidário. Essa é a nova lei, aprovada pelo Congresso Nacional. É natural que o deputado federal destine a sua cota para candidatos que participem do mesmo projeto dele e que pensem igual. Eu falei aqui mais cedo que eu me identifico com o deputado Aleluia, e ele com o meu projeto. Não existe questão de ser justo ou não. É um poder discricionário. A destinação do fundo nada tinha a ver com o fato de ele ser presidente do partido, e sim pela cota do fundo partidário. Mas eu encaro isso com muita naturalidade. [Tinoco] É um bom colega, que eu admiro, foi um bom vereador, uma pessoa técnica e que me parece ser muito estudiosa. Então, não tem nenhum problema.

.ba – A reeleição de Tinoco e Léo Prates já facilitou a harmonizar essa questão?

AA – Acho que sim. Eu estou chegando agora, né? Sou novo. Estou conhecendo todo mundo. Até já conhecia Léo e Tinoco, mais Léo, porque a gente foi colega de juventude no partido e sempre me dei bem. Palhinha eu conheci recentemente, Maurício [Trindade] também eu não conhecia, Duda [Sanches]… Ainda estou conhecendo meus colegas.

.ba – Você falou de projeto político. Pretende seguir uma carreira política, de tentar depois Assembleia Legislativa, quem sabe o Congresso?

AA – Primeiro eu quero desempenhar meu papel como vereador, que 8.941 pessoas escolheram. Nas minhas caminhadas, eu procurei explicar o papel do vereador. Eu deixei muito claro que o vereador é a primeira pessoa que escuta. O vereador que se preze, né? Que escuta o problema, sente as pessoas. Às vezes um deputado federal ou um senador acabam ficam distantes das demandas das pessoas e da forma de pensar das pessoas. Muita coisa eu até comento em casa: ‘As pessoas pensam assim’. Eu quero ter essa experiência, acho que isso vai ser muito bom para mim. Quero desempenhar essa função sem pensar tanto em futuro, carreira.

.ba – Mas você quer cumprir o mandato, né? Não pensa em ser alçado para uma pasta no Executivo, por exemplo?

AA – Eu quero começar a aprender a desempenhar a minha função. Quero sentir as pessoas, a função de vereador. Não pensar em daqui a dois ou quatro anos.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Qual é a sua opinião sobre o Uber?

AA – O que acontece? A tecnologia chegou e a gente não tem muito como evitar. Acho que nem deve evitar. É natural que exista essa briga, essa tensão. Ao mesmo tempo, o nosso arcabouço jurídico não concebe uma modalidade como o Uber que não seja regulamentando. Eu vejo que o caminho natural é regulamentar o serviço. Como amante da liberdade, do livre empreendedorismo, da livre atividade econômica, tenho certeza que, se o debate for para a Câmara, tentarei fazer a regulação mais livre possível. Porém, regulando de uma forma prudente, ouvindo as pessoas, a categoria dos taxistas. Acho que eles clamam por menores taxas, desoneração. Acho que esse é o caminho.

.ba – Isso pode criar, de alguma forma, tensão com o Executivo, já que o prefeito disse várias vezes que não faria a regulamentação?

AA – De qualquer forma, isso tem que ser conversado com o Executivo. A gente sempre tem que encarar qualquer mudança de acordo com a realidade, como falei anteriormente. Salvador é Salvador. Rio é Rio. São Paulo é São Paulo. Acho que o que deve haver é um consenso, escutando todos.

.ba – Sobre esse assunto, você disse que não dá para tapar o sol com a peneira e citou o caso dos mototaxistas. De que não adianta a prefeitura querer esconder que há serviço de mototáxi, porque você olha para o lado, no ponto, e vê o mototaxista, como tem usuário querendo pegar. Mas, a partir do momento em que o prefeito diz que não vai legalizar e que só vai aceitar se for obrigado por um Supremo Tribunal Federal, por exemplo, ele vai de encontro à doutrina do partido?

AA – Não. Eu já li algumas vezes o estatuto do partido, teve até uma alteração recente, e o partido é bem plural. Pode abarcar pessoas mais liberais, menos… Não é um partido de esquerda, lógico, mas um partido de centro, democracia cristã, respeitando uma determinada dose de liberdade econômica, a economia social de mercado.

.ba – Você está mais à direita do DEM ou o DEM foge dessa palavra?

AA – Difícil classificar (risos), mas talvez sim. A gente tem que ver sempre com a realidade do que está ali, em termos de quadros, mas talvez sim. É difícil se classificar, né?

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – Você é um defensor do movimento Escola sem Partido. Dá para explicar como isso poderia ser legislado aqui em Salvador, ainda mais que na outra ponta existe uma categoria muito bem organizada, que tem à frente a APLB Sindicato, que é comandada pelo PCdoB. Isso não é mexer em um vespeiro?

AA – Primeiro, eu vou falar do quadro do Brasil. Hoje, eu enxergo que o Brasil passa e vem passando por uma revolução cultural, implantada pela nossa esquerda revolucionária. Foi uma coisa paulatina, em que o PT e os partidos de esquerda acabaram ocupando os lugares estratégicos, de acordo com o filósofo que eles seguem, que é Antônio Gramsci. Ocuparam a academia, as escolas, os sindicatos, ‘APLBs’, os postos do MEC. Isso acabou descendo, de forma sutil, porém constante, chegando até o professor de 5ª série. Hoje é inegável que existe uma ocupação por parte da esquerda revolucionária, e seu principal agente no Brasil é o PT, dos postos estratégicos e últimos postos, que são os professores. Não estou generalizando, mas existem muitos professores que se utilizam do poder para doutrinar os alunos.

.ba – O que é o Escola sem Partido?

AA – Eu costumo dizer que é muito mais do que um projeto de lei; é um movimento político que procura alertar, coibir e denunciar todo esse tipo de doutrinação ideológica – às vezes ostensiva, às vezes sutil, como o afastamento da família na participação do ensino. Agora, que projeto de lei é esse? Uma coisa simples. Difícil até de ser contra. Muita gente para quem eu comecei a descrever o projeto dizia: ‘Ah, é só isso? Só um cartaz?’. O projeto obriga toda sala de aula a ter um cartaz com cinco deveres do professor. Isso é só para o pai pelo menos se conscientizar de que deve ficar atento a isso, ou até o jovem, o adolescente, verificarem se o professor segue isso. E são deveres simples, como expor as diversas linhas de pensamento, respeitar a orientação moral, religiosa e sexual dos pais, não cooptar alunos para manifestações. Tem exemplo de professor que chamou os alunos para manifestação ‘Fora Temer’. Isso não é papel do professor. Teve o caso de um professor que colocou a participação na manifestação a favor da então presidente como trabalho. Valia ponto. O cara tinha que ir, mesmo que não concordasse. Esse tipo de coisa tem que ser combatida. O Escola sem Partido não vai resolver, mas é um passo. É mexer em um vespeiro? Sim, mas às vezes para mudar o Brasil a gente tem que mexer no vespeiro.

.ba – É um projeto que você vai apresentar logo nos primeiros dias na Câmara? Vai usar o mesmo texto do projeto original?

AA – Sim. Sobre o texto, o projeto original – que é concebido pelo Miguel Nagib, presidente do instituto que leva o mesmo nome – tem vários artigos e, por último, a colocação do cartaz. Eu vou simplificar, inclusive até já conversei com o doutor Miguel, e colocar só o cartaz, acho melhor assim. Será um projeto mais simples do que o original.

.ba – Como responde às críticas de que isso poderia descambar para uma forma de censura em sala de aula?

AA – Não é censura, até porque não tem nenhuma sanção direta. Todo tipo de doutrinação ou cooptação já é abarcada pela lei que existe hoje. É muito mais um modo de conscientizar do que censurar ou coibir qualquer coisa. Outra crítica que o projeto recebe é de que não poderia haver escola sem partido porque todo mundo teria partido. Na minha visão, isso parte de uma premissa falaciosa e marxista, de que todo mundo teria que obedecer a uma classe social. Eu discordo dessa crítica com base na premissa. Se você pensar em uma premissa não marxista, é fácil desmontar o argumento. Essas duas críticas são as mais gerais, já estou até acostumado em rebatê-las e realmente não enxergo sentido nelas.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
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.ba – Há uma polêmica grande sobre a liberação do armamento na sociedade, uma proposta com a qual você concorda. De que forma esse tema será tratado na Câmara de Vereadores, já que esse é um debate nacional e só quem pode legislar sobre o assunto é o Congresso?

AA – Não é que eu seja a favor do armamento. Eu sou contra o Estatuto do Desarmamento. Acredito que as pessoas devem ser livres para se defender. Qual o sentido da possibilidade de ter o porte de arma? Primeiro, a liberdade de se defender. E, em segundo, algo que vem da Segunda Emenda americana, que é uma possível defesa contra o Estado. Lógico que é algo muito distante da nossa realidade, mas, em termos geracionais e civilizacionais, importante. A gente deve ter uma sociedade que saiba se defender. E um sentido também que a gente chama de ‘regulação do mal’. Bené Barbosa, que é um estudioso que eu trouxe aqui para Salvador para falar sobre o assunto, fala muito sobre isso. O que é a regulação do mal? Quando o criminoso sabe que todos estão desarmados, sabe que a ação nunca terá uma repressão. A partir do momento em que há uma possibilidade de a vítima estar armada, o criminoso pensa duas vezes ou ao menos se inibe em atacar. Acho que tudo isso se fundamenta realmente na liberdade das pessoas de poderem se defender.

.ba – Você falou muito em encarar a realidade. Como é que esse ideal da possibilidade de armamento para se defender, como você disse, dialogaria com a realidade local?

AA – O vereador realmente não pode legislar sobre o assunto. O que o vereador pode fazer é falar. Abrir o debate, chamar pessoas que conheçam o assunto. Isso qualquer parlamentar em qualquer esfera pode fazer. E é, sim, uma função do vereador, até porque ele é o primeiro que escuta. O primeiro que escuta um pai de família dizer: ‘Poxa, eu quero me defender, eu vivo em um lugar perigoso e quero ter a liberdade de defender a minha família’. Ele está ali escutando e não vai reverberar essa demanda, caso ele pense igual?

.ba – Em uma sociedade violenta, como a gente tem aqui em Salvador, principalmente nas comunidades mais populares, isso não é uma forma de incentivar ainda mais a violência e correr o risco de ter um bangue-bangue? E, segundo, também não é colocar o cidadão para fazer um trabalho que é de obrigação do Estado, no caso promover a segurança pública?

AA – Esse assunto gera muito debate. Muitas pessoas até exageram, dizendo que, se o armamento civil for permitido, vai ter gente armada em toda esquina. Não era assim no Brasil quando não havia o estatuto, inclusive a taxa de homicídios era bem menor.

.ba – A população também era bem menor.

AA – É, mas se você for olhar na proporção a cada 100 mil habitantes, aumentou muito. O Brasil está chegando a 60 mil assassinatos por ano, o que é uma calamidade, um genocídio. Isso mostra que não deu certo. Se a gente for analisar os números, o Brasil está em um caminho ruim. Muitas vezes, a gente vê o argumento meio exagerado, que é o argumento pelo absurdo, de gente armada em toda esquina. Eu sou a favor do armamento civil, mas não tenho arma, não me interesso sobre o assunto. Sou a favor da liberdade. Acho que é algo que deve ser debatido com racionalidade. Às vezes, tem uns truques retóricos que acabam minando o verdadeiro debate. Acho que a gente tem que procurar evitar isso e tentar trazer a discussão para a razão.

.ba – O vereador legisla, por exemplo, sobre o armamento da Guarda Municipal. Esse ano, houve três ‘barbeiragens’, digamos assim, uma delas com morte. O armamento da Guarda não se mostrou perigoso?

AA – A Guarda Municipal tem mais de mil agentes. Acho injusto julgarmos uma corporação por três episódios. Sou a favor do armamento dos agentes, inclusive fora do serviço. Teve uma época em que eles não tinham poder para andarem armados fora do serviço, mas acho que eles precisam do porte de arma para ter a liberdade de se defender indo para casa, voltando do serviço. Faz parte da minha linha de pensamento o apoio à instituição da Guarda Civil. Acredito que eles são fundamentais na estruturação da segurança pública e podem ajudar muito. Lógico que precisam de treinamento, conscientização e resolver alguns pontos de ajuste. Existe no Brasil um movimento muito forte de condenar ou atacar as nossas instituições que prezam pela segurança e ordem, às vezes com uma pitada de ideologia. Eu luto um pouco contra isso. Nossas instituições têm muitas coisas boas. São pessoas que saem de manhã cedo sabendo que estão arriscando as suas integridades físicas, e mesmo assim estão indo com gosto e vontade por ter um dever comunitário, até de defender valores cristãos – no sentido cultural da palavra, não religioso. Por isso, eu procuro defender as nossas instituições.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
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.ba – Qual será o seu compromisso a partir da diplomação do mandato de vereador de Salvador?

AA – Eu tenho falado muito isso. Procurei fazer uma campanha um pouco diferente, minha rede social é muito acessada e tal. Ao longo de toda a campanha, eu procurei expor muito claramente minhas ideias sobre liberdade econômica, posições mais à direita, como a gente falou mais cedo. Então, acho que o meu compromisso é a transparência. O eleitor saberá exatamente o que eu defenderei, porque está tudo muito exposto e claro, quanto nas redes sociais como nas minhas reuniões, nas palestras que fiz ao longo do ano. Não haverá surpresas.

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