Publicado em 14/10/2017 às 06h00.

Líder de Neto convida Wagner para chapa: ‘Oxe, eu abro o PV para ele’

Ex-petista, Henrique Carballal está convicto que Rui Costa “é de direita” e que “o projeto do prefeito ACM Neto é de esquerda”

Evilasio Junior
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

Ex-petista, o atual líder do prefeito ACM Neto na Câmara Municipal de Salvador, Henrique Carballal (PV), não esconde o desejo de militar novamente ao lado do seu ex-tutor político Jaques Wagner, pré-candidato ao Senado pelo PT.

Embora descarte regressar, o vereador admitiu, em entrevista ao bahia.ba, que gostaria que o ex-governador ingressasse no Partido Verde para postular o Congresso na chapa do democrata.

“Oxe, eu abro o PV para ele. Mesmo sem ter combinado, mas não tenho dúvida que [José Luiz] Penna [presidente nacional do PV], Ivanilson [Gomes, presidente estadual do partido] seriam convencidos e Wagner viria e seria um grande nome do Partido Verde para disputar [vaga na chapa majoritária]”, conjeturou.

Segundo Carballal, que foi líder petista no Legislativo soteropolitano na administração estadual do atual secretário de Desenvolvimento Econômico, a sua mudança de lado foi costurada pelo próprio Wagner.

“[Ele foi] o responsável por hoje eu estar com Neto. Quem não se lembra que, quando Wagner era governador, eu era o líder do PT na Câmara e Wagner construiu comigo as pontes com ACM Neto. No primeiro ano do governo municipal, o governador Wagner e Neto pactuaram e realizaram ações conjuntas. Wagner foi, inclusive, no Réveillon da prefeitura. Quem construiu toda a relação fui eu. Todo o campo político em que hoje eu atuo foi pactuado sob a liderança de Wagner”, revelou.

Crítico do atual governador Rui Costa (PT), Carballal diz ainda estar convicto de que não trocou a esquerda pela direita. “Eu continuo militando no campo de esquerda e eu digo e repito: para mim, ACM Neto é um político de esquerda, não um político de direita. Ele [Rui Costa] é de direita. O projeto do prefeito ACM Neto é um projeto de esquerda. O Programa Ouvindo o Nosso Bairro é o que o PT defendeu e eu defendi com unhas e dentes a minha vida inteira: o orçamento participativo”, comparou.

O vereador também fala sobre a relação com os integrantes da bancada de governo, defende a constitucionalidade do aumento do IPTU, opina sobre as reclamações de perseguição política de ambos os lados – tanto de Rui quanto de Neto – e evidencia os seus planos para a eleição da Assembleia em 2018.

Confira a entrevista na íntegra:

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

bahia.ba – Como está a liderança do prefeito ACM Neto na Câmara Municipal? Depois que o senhor assumiu, havia alguns pontos de divergência, falava se até em rebelião dentro da base. Os partidos já estão acomodados, devidamente incorporados com o senhor à frente?

Henrique Carballal – A liderança, na verdade, é do prefeito ACM Neto. Todo grupo político, quando cresce muito, há uma natural dificuldade de arrumação. Você tem alguns tipos de questionamentos dentro da própria base. Isso era previsível, a gente já sabia que iria ocorrer, como de fato, em alguns momentos, ocorreu, mas a base é muito coesa em torno do projeto do prefeito ACM Neto e isso pode ser visto nas votações da Casa. Respeita a liderança do prefeito e compreende que ele é uma alternativa política do estado e que o sucesso do prefeito é o sucesso de todos aqueles que estão no entorno dele. Diferentemente do que a gente assiste no outro campo político que hoje atua na Bahia, em que há uma insatisfação por parte de deputados e de outras lideranças, porque o governador aponta que só ele é o senhor das realizações. O prefeito sempre divide com a Câmara, sempre divide com os parceiros, a definição das obras e das ações. Algo que é feito de forma maior do que apenas a figura dele.

.ba – Com mais um adiamento do julgamento da ação que pede inconstitucionalidade do IPTU, a defesa será uma pauta prioritária da bancada e dos aliados do prefeito nas próximas semanas?

HC – Aí é um problema judicial. A defesa política nós já fizemos. Basta rodar a cidade, ver a felicidade das pessoas e os altos índices de aprovação do prefeito para ter a prova de que o IPTU está correto. O que o prefeito fez foi fazer a justiça fiscal: quem tem muito paga muito, quem tem pouco paga pouco e quem nada tem nada paga. Isso é fato. As pessoas reconhecem isso como algo verdadeiro e por isso ele tem esses grandes índices de aprovação. Além das grandes obras, as impactantes obras, que a prefeitura fez, mesmo sendo perseguida pelo governo do Estado. Todo mundo sabe que nem os repasses federativos o governador Rui Costa encaminha para a prefeitura de Salvador. É uma perseguição absurda, criminosa, contra a cidade. Durante todo o período que Dilma Rousseff esteve na Presidência da República você teve esse mesmo tipo de perseguição e, apesar disso, de na campanha ser dito que Salvador não tinha capacidade de se autossustentar, o prefeito provou o contrário. Agora, claro que você cria nichos de insatisfação. Você tem uma elite perversa na cidade que não quer pagar imposto.

.ba – O senhor falou de perseguição do governo do Estado que não teria repassado parte dos recursos devidos à prefeitura e é engraçado porque o senhor militou do outro lado durante muito tempo. O senhor foi do Partido dos Trabalhadores, apoiou e viu de perto a gestão de Lídice da Mata, que reclamava exatamente disso, na época de Antônio Carlos Magalhães. Hoje, Rui Costa, também se queixa de que o governo Temer persegue e que o prefeito ACM Neto teria ido a Brasília tentar barra um empréstimo de R$ 600 milhões já aprovado junto ao Banco do Brasil. Já que esteve dos dois lados, como o senhor vê a situação? Grupos que estão no poder ainda se utilizam de artifícios políticos para repreender a gestões adversárias?

HC – Primeiro eu quero esclarecer que eu nunca estive dos dois lados. Eu fui militante do Partido dos Trabalhadores e é um campo da esquerda. Eu saí do PT, estou no PV, que também é um partido que está no campo da esquerda.

“Eu continuo militando no campo de esquerda e eu digo e repito: para mim, ACM Neto é um político de esquerda, não um político de direita.”

.ba – Sim, mas o senhor foi contra Antônio Carlos Magalhães e agora é pró-Antônio Carlos Magalhães Neto…

HC – Por isso eu estou dizendo que vamos parar para acertar as coisas (risos). Eu continuo militando no campo de esquerda e eu digo e repito: para mim, ACM Neto é um político de esquerda, não um político de direita.

.ba – Isso não é retórica?

HC – Não, eu vou provar isso. Esquerda é quem combate o status quo. Eu, por exemplo, vejo uma diferença gigantesca entre Jaques Wagner e Rui Costa. São governos completamente diferentes.

.ba – Wagner foi melhor do que Rui?

HC – Não tem nem como comparar. Primeiro que todas as coisas boas que existem hoje no Estado, e o governador Rui Costa capitaliza, foram realizadas por Jaques Wagner. Me diga uma obra que Rui produziu, projetou, captou o recurso e implementou? Me diga uma. Se me disser uma, eu me calo. Tudo o que ele capitaliza hoje é fruto da ação política do governador Jaques Wagner que é, inclusive, o responsável por hoje eu estar com Neto. Quem não se lembra que, quando Wagner era governador, eu era o líder do PT na Câmara e Wagner construiu comigo as pontes com ACM Neto. No primeiro ano do governo municipal, o governador Wagner e Neto pactuaram e realizaram ações conjuntas. Wagner foi, inclusive, no Réveillon da prefeitura. Quem construiu toda a relação fui eu. Todo o campo político em que hoje eu atuo foi pactuado sob a liderança de Wagner. Quando houve uma mudança, em função das posições de Rui Costa, isso foi o que me fez romper com o projeto. Porque, no meu entendimento, era um projeto autoritário, que sai do campo da esquerda para um campo personalista, que tenta impor uma figura que, no meu entendimento, não tem as qualificações para ser líder. Exatamente essa ausência de capacidade de liderança é que faz com que ele aja da forma que leva a uma imensa insatisfação. Eu, imediatamente, tive a coragem de romper e dizer: ‘Esse é um projeto ruim’.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – O senhor fala muito bem do ex-governador, mas ele apoia Rui, que o senhor critica. Como é atualmente a sua relação com Wagner?

HC – Eu continuo tendo uma excelente relação com Wagner, é meu amigo pessoal, tenho por ele muito respeito. Estamos hoje politicamente em campos opostos, mas poderíamos estar juntos porque, por ele, Neto e ele construiriam um projeto político juntos. Obviamente que, os entendimentos e a história levaram cada um a um campo diferente. Por isso eu digo e repito: o campo político que eu estou hoje é o mesmo, que é o campo de esquerda. Rui Costa tem um projeto político ruim para o Estado da Bahia, ruim para quem defende as liberdades e quem defende a esquerda. É um projeto personalista, que trabalha a figura dele…

.ba – Rui, então, é de direita?

HC – Ele é de direita. O projeto do prefeito ACM Neto é um projeto de esquerda. O Programa Ouvindo o Nosso Bairro é o que o PT defendeu e eu defendi com unhas e dentes a minha vida inteira: o orçamento participativo. O Casa Legal é um projeto de esquerda. O Mais Social hoje busca incentivar a qualificação dos jovens para o empreendedorismo e é uma marca da ação de dona Rosário, que é uma militante e mãe de Neto. Na gestão de Neto, a assistência social não é favor, é direito do cidadão. Se tem obra na Barra e no Rio Vermelho, tem no Subúrbio Ferroviário e Cajazeiras. É essa marca do prefeito ACM Neto que me permite dizer: ele é de esquerda! As posições políticas que Neto toma são de esquerda, de combate ao status quo, da construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária. Isso não é retórica, é ação prática.

.ba – O senhor não respondeu sobre a perseguição política em relação ao empréstimo…

HC – Eu não acho que eu estaria, politicamente, no grupo do senador Antônio Carlos Magalhães. Eu respeito ele, acho que teve várias conquistas, mas eu não sei. Poderia estar ou não… Neto não é o avô, ok? Tentar fazer uma comparação entre ele e o avô, na minha opinião, é um equívoco histórico. São momentos históricos, personalidades e modos de governar e liderar politicamente diferentes.

“Se Neto tem competência e capacidade de impedir que um empréstimo venha e o governador não tem capacidade de resolver, que ele renuncie e entregue a chave do governo do Estado a Neto.”

.ba – E o empréstimo, teve ou não teve perseguição?

HC – Rapaz, se Neto tem competência e capacidade de impedir que um empréstimo venha e o governador não tem capacidade de resolver, que ele renuncie e entregue a chave do governo do Estado a Neto. Ele querer responsabilizar o prefeito pela incompetência dele, ele entregue a chave a Neto. Aliás, o maior cabo eleitoral que Neto tem é a incompetência do governador Rui Costa. Daqui a pouco Neto vai virar um orixá. Isso é uma coisa completamente fora do eixo real.

.ba – Em 2018, o senhor vai continuar vereador ou vai tentar ser deputado?

HC – Eu nunca tive vontade. Quando eu me elegi, em 2008, eu fui o vereador mais bem votado da história do PT. Tinha uma excelente relação com o governador Wagner e muita chance de disputar uma candidatura a deputado federal ou para a Assembleia, mas, para mim, o vereador é o verdadeiro político. O Município é onde você realmente decide as coisas. Eu sou um parlamentar que tenho influência na cidade. Os deputados estaduais e federais podem ter um salário maior que o meu, uma estrutura de gabinete maior que a minha, mas não conseguem ter uma intervenção na sociedade como eu tenho. Eu não tenho interesse de abrir mão desse mandato.

.ba – Então, quem o senhor pretende apoiar?

HC – Leo Prates. Para mim, o presidente da Câmara é um dos políticos mais preparados da nova geração.

Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba
Foto: Izis Moacyr/ bahia.ba

 

.ba – O senhor falou que Wagner é um cara de esquerda, que Neto é um cara de esquerda e Rui é de direita. Como os evangélicos estão mais à direita, o senhor acredita que Jaques Wagner, e não Tia Eron (PRB), deveria ser candidato ao Senado na chapa de ACM Neto? O cidadão Henrique Carballal votaria em Wagner ou em Tia Eron?

HC – Eu voto em quem o meu partido apoiar. O PV está no projeto de Neto, isso é fato. Então, possivelmente, o PV vai apoiar Neto, se efetivamente ele for candidato a governador, e depois iremos brigar por um lugar na chapa. O PV quer uma vaga na chapa de Neto, seja como vice-governador ou senador. Estamos conversando com algumas lideranças políticas que têm interesse em vir para o PV. Eu tenho lado e hoje o meu lado é o projeto do prefeito ACM Neto. Se Tia Eron for candidata a senadora, eu voto nela. Primeiro que eu gosto muito dela, acho que tem muito potencial e, mesmo que não saia candidata a senadora, ela tem um futuro muito grande. Tia Eron é o melhor nome no campo político dos evangélicos, porque, inclusive, ultrapassa o campo evangélico.

.ba – Mas não te dá uma vontade de votar em Wagner, não, com essa relação toda que vocês têm?

HC – Rapaz, o ideal seria Wagner romper com Rui, apoiar Neto e vir para o PV ser candidato…

.ba – Então, teria vaga?

HC – Oxe, eu abro o PV para ele. Mesmo sem ter combinado, mas não tenho dúvida que [José Luiz] Penna [presidente nacional do PV], Ivanilson [Gomes, presidente estadual do partido] seriam convencidos e Wagner viria e seria um grande nome do Partido Verde para disputar [vaga na chapa majoritária]. Eu entendo que Wagner cometeu um erro ao escolher Rui para disputar a sucessão dele, mas é difícil reconhecer erros, né? Ainda mais nessa idade, com esses cabelos brancos (risos). Então, ele vai seguir no erro dele e vai pagar um preço alto por isso. Mas, se ele quisesse vir, eu não tenho dúvida de que o prefeito ACM Neto seria uma grande opção. Se ele viesse para o campo de cá, seria um grande nome. Mas no campo de lá, fica difícil.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.