Publicado em 18/05/2018 às 18h56.

Muniz acredita em ‘bom senso’ de Rui para escolher entre Lídice e Coronel

"Eu sou muito otimista em relação a isso. Quem é que tem mais força? Depende do olhar", diz o senador Roberto Muniz em entrevista ao bahia.ba

Bianca Andrade
Foto: Romulo Faro / bahia.ba
Foto: Romulo Faro / bahia.ba

 

Correligionário do vice-governador João Leão (PP), o senador Roberto Muniz disse em entrevista ao bahia.ba que vê de forma positiva a disputa entre a senadora Lídice da Mata (PSB) e o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), deputado Ângelo Coronel, pela última vaga disponível na chapa do governador Rui Costa (PT) para as eleições deste ano. Ele acredita que vai “prevalecer o bom senso” de Rui na hora de bater o martelo.

Muniz avalia ainda o peso de Lula e de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial e o impacto da decisão de ACM Neto (DEM) de não ser candidato a governador neste ano.

Sobre seu mandato, o senador destaca dois projetos de sua autoria: um que prevê ‘redução da desigualdade’ nas transações comerciais no setor da agropecuária e um que limita a três a quantidade diária de ligações pelas empresas de telemarketing para os clientes.

Roberto Muniz defende mandatos de quatro anos sem direito à reeleição para cargos do Executivo e eleições gerais para todos os cargos eletivos. Confira abaixo:

Chapa de Rui – lealdade de Lídice ou a força do PSD?

Eu acho que vai prevalecer sempre o bom senso. Eu sou muito otimista em relação a isso. Eu acho que é bom, que essa disputa seja feita, é importante que as pessoas reflitam o novo momento que a Bahia ganhou. Você poder dentro de um campo político ter diversas lideranças convivendo, com todas as diferenças, até com diferenças ideológicas, mas que convergem em um projeto. E nesse ponto nós tivemos sorte de termos de um lado Jaques Wagner e Rui, e do outro lado, somando a isso, João Leão (PP) e Otto Alencar (PSD).

Quem é que tem mais força? Depende do olhar. Eles conseguem conviver com as forças e com as fraquezas de todos esses líderes, que convergem em um bom diálogo. Eu acho que é esse equilíbrio que eu acho que foi muito positivo. Você não tem ninguém que seja um líder de todos. Essa foi a grande equação que o grupo criou. Por isso que eu acho que nesse ponto, Neto precisa ampliar o seu diálogo para atrair pessoas que estejam ao lado dele com um tamanho que possa fazer esse jogo não desequilibrar.

Decisão de ACM Neto e relação com o governo Rui

Eu vejo várias questões. A oposição não se move simplesmente pelo nome. Você tem uma parte que é realizada pela oposição, que é fruto do crescimento vegetativo, natural, de desgaste de qualquer governo. Todo governo traz em si os benefícios do que ele está fazendo, e ele traz também o sentimento para algumas pessoas, de não ter entrega. Então qualquer oposição traz para si esse debate, ela ganha essa parte da sociedade que não está satisfeita.

Eu acho que a atitude de Neto é uma atitude natural. Eu acho que muito mais o erro foi na forma, do que no conteúdo. Porque alguém que queira se manter no mandato para terminar algo que o povo lhe conferiu é natural. Agora, acho que ele não preparou em tempo hábil alguém que pudesse estar com ele.

Chapa única da oposição

Eu acho que há uma tendência de unidade sempre aqui na Bahia. Não temos um histórico de muitos candidatos. Mas o fato que a gente não pode perder de vista é que muito desse movimento político se dá também através de um bom resultado que o governador Rui Costa tem na sua gestão.

Ritmo do governo Rui

Eu acho que esse bom resultado, independentemente das questões que levaram Neto a tomar a decisão, porque Neto tem 39 anos, tem um futuro político… Mas o fato de Rui estar fazendo as entregas… Ele hoje é o governador não só dito pela Bahia não, ele é pela Globo, pelo G1, pela Folha de São Paulo, é o governador que mais entregou os compromissos que assumiu na campanha.

Isso é um resultado positivíssimo, é uma avaliação nacional que é até muito interessante. Porque é a primeira vez que eu estou vendo que a política está tentando fazer uma convergência, e a imprensa usando isso. Não pelo sentimento. ‘O que é que você acha, se ele é bom ou se ele é ruim?’. Não. Ele tem um plano de governo entregue durante a campanha, e no caso de Rui foi feito um plano de governo ouvindo todo interior, toda a Bahia, e agora está se avaliando o que ele prometeu.

Eu acho que nesse ponto, mostra uma maturidade política que a gente está avançando, porque se isso acontecer, a gente vai começar a dar valor ao plano de governo, ao planejamento e à entrega. A gente vai fazer convergir a figurar do político com a do gestor. Que lá atrás foi apartada.

E isso é uma dor que eu tenho na política. Muitas pessoas querem avaliar você pelo que você é como político, e não como gestor. É claro que você não pode ser gestor sem ser político. Agora, não tem como você ter pessoas bem avaliadas com um governo mal avaliado. É o que acontece. Você tem políticos de expressão que não têm nenhuma entrega.

Eu acho que esse ponto de avaliação que a imprensa traz vai fazer a política modificar para o futuro, se bater nisso. Então tem um ganho intrínseco de Rui. Ele criou um ambiente que fez com que as pessoas vissem que ele estava indo bem e que é natural a vitória dele. Claro que na politica, a naturalidade nem sempre acontece, como também no futebol que tem um time que é mais forte que o outro, e às vezes o resultado no final não é o esperado. Mas na lógica, nas avaliações, é claro que a sociedade tem visto o esforço que o governador Rui Costa tem feito.

Peso de Lula nas eleições presidenciais

Eu acho que Lula é peça fundamental. O jogo se deu em torno dele. A gente tem uma cultura de violência tão grande como um todo na sociedade. Não sei se foi a política que fez isso na sociedade ou o inverso, porque hoje você tem três terços. Não é? Um terço das pessoas quer Lula, o outro terço quer alguém que mate Lula e o outro terço quer matar os dois terços.

E ai na pesquisa do ‘Instituto Roberto Muniz’, tem uma margem de erro de mais ou menos 5%, que vê virtudes e defeitos em quem quer Lula e quem não quer Lula. Só que esses 5% são sem lente, ela está se escondendo no voto nulo e no voto branco. Então eu acho que a figura de Lula, ela é o divisor realmente da disputa política. Acho que Lula conseguiu estabelecer um projeto, mas ele ficou maior do que o projeto, ele é maior do que o PT e do que o projeto, porque a gente só se movimenta através de pessoas, e não de projetos.

O que a gente deveria estar discutindo era: o FIES fica ou não fica? O Bolsa Família fica? Mas fica de que forma? Claro que fica, pra mim. Mas essas políticas públicas e sociais, como é que serão encaminhadas para o próximo governo, quais são as futuras reformas. A gente vai ficar para sempre reformando o Estado? Eu acho que sim.

Candidatos de esquerda

Eu não gosto de falar em nome dele, mas a minha percepção é de que vai haver convergências. A princípio vai ser um pouco fragmentado o processo político, talvez se chegue a um primeiro turno ainda com certa fragmentação, mas na verdade você terá basicamente dois ou três nomes que vão suprir esse campo da esquerda, que são o Ciro Gomes (PDT), o (Guilherme) Boulos (PSOL), a Manuela (D’Ávila – PCdoB) e o PT. Aí algum desses quatro nomes vai convergir em dois, não sei como e quem será.

Candidatos de direita e Bolsonaro

Nós temos o centro, que a gente coloca a figura do Geraldo Alckmin (PSDB), do próprio Henrique Meireles (MDB), que eu acho que não vai avançar. Aí tem o campo do centro-direita. Eu acho que o Rodrigo Maia (DEM) ainda está insistindo porque há um espaço vazio, porque o Alckmin não decola. Enquanto ele não decola, isso cria possibilidades dentro desse campo, e tem o Bolsonaro (PSL), que é uma realidade mesmo. A gente vai ter que conviver, porque assim está sendo. Não só dentro do Brasil, esse é um movimento que é internacional.

A falta de política em que a sociedade se vê faz com que esses extremos apareçam com uma força muito grande. Então não é a toa que o Donald Trump ganhou nos Estados Unidos. Há um movimento internacional de um cansaço de parte da sociedade, e aí nesse ponto a gente pode dizer que é uma nova parte da classe média, que viu uma melhoria da sua qualidade de vida, dentro da sua casa, mas que viu também a deterioração de alguns serviços públicos nas ruas.

Então esse movimento chega ao Brasil, e parte da sociedade quer um nome que crie uma possibilidade de um Estado forte, para resolver problemas estruturais que infelizmente o Estado brasileiro não pode resolver. Dentro dessas questões, a segurança pública é sem sombra de duvidas o pilar dessa extrema-direita. Ele (Bolsonaro) quer combater a violência com a violência, e eu acho que esse é o grande enigma. Como é que a sociedade vai entender se isso realmente é uma solução?

Eleições gerais e fim da reeleição

Para uniformizar as eleições, você tem que colocar uma data mais à frente, porque você não pode estabelecer agora a mudança do tamanho do mandato de quem está hoje. Então na época que eu apresentei meu projeto, que foi em 2016, a gente não iria mexer no mandato de ninguém, mas os benefícios, independente de ser 2022, 2026 ou 2030.

Você não consegue fazer o rompimento na política com esse tempo muito curto. Você não faz uma convergência. Ou teria que ampliar o mandato de quem está ai ou reduzir. É difícil você explicar à sociedade que tem que ampliar o mandato, e é difícil você dizer a alguém que tem o direito, porque ele ganhou esse direito na urna, que vai diminuir. Então tem que levar lá para frente.

Agora, os benefícios, independentemente de ser 2022, 2026 ou 2030, a ideia de você fazer uma eleição única é você diminuir os custos. Segundo, você criaria uma coisa fundamental para a gestão do Estado, que é fazer com que o mapeamento e os orçamentos dos municípios conversem e convirjam com o do governo do Estado e o federal.

O que é que acontece hoje? Nós temos instrumentos interessantes na gestão. Nós temos o orçamento, temos o Plano Plurianual, que é de quatro em quatro anos, só que quando o município faz o planejamento dele para quatro anos, no meio dos quatro anos você muda o orçamento e o planejamento do Estado e do governo federal. Então, tudo que ele planejou não converge, porque mudam os governos, mudam-se as prioridades.

Então a possibilidade de se ter eleições gerais, ela cria também a verticalização no processo de planejamento do Estado brasileiro. Então, se o governo federal vai implantar UPAS ou vai implantar escolas do ensino fundamental, ou qualquer política pública, o governo municipal vai ter o mesmo tempo para adaptar os seus planos, a sua estratégia de planejamento, para o que os governos federal e estadual desejam. Então você tem uma convergência de planejamento.

E no campo político, que é o grande ganho, nós vamos fazer uma verticalização dentro das decisões partidárias, porque o que é que acontece hoje. Você tem partidos que tomam uma posição partidária em uma eleição estadual e federal, e outra completamente diferente nas municipais.

O que eu acho é que se você tiver uma data única, essa convergência vai fazer com que os partidos tenham uma verticalização na decisão. Ou seja, o vereador vai ter que estar em consonância com a decisão do presidente do partido, dos deputados federais, dos senadores e dos governadores. Você vai fazer um alinhamento ideológico, que há muito tempo é fragmentado no País. Nós não temos um alinhamento ideológico por quê? Porque as eleições são fragmentadas. Então você pode ter olhares distintos no ambiente político, porque são eleições diferentes.

Existem pessoas que acreditam nisso, mas acreditam que teria que ser um mandato de cinco anos. Num mandato de quatro anos sem eleições no meio, o que acontece é que você trabalha no primeiro ano e já tem que estar em campanha, e quando ele sai em campanha ele quebra o planejamento dele por causa de um esforço de entrega, só que esse esforço de entrega muitas vezes é eleitoreiro. Aí já entra no terceiro ano com as eleições municipais já sendo trabalhada. O esquema ‘campanha e pré-campanha’, isso tem tornado a capacidade de planejamento muito baixa.

O que eu acho é que essa convergência estabelece um ganho estratégico, sem essa campanha no meio é o suficiente para que você possa arrumar no primeiro ano, planejar no segundo, realizar no segundo e terceiro, e entregar a população no quarto. Cinco anos fica muito tempo para que você volte à sociedade para fazer uma avaliação se você fica ou não fica. Cinco anos de um governo ruim é muito ruim. E quatro anos sem eleições no meio é suficiente para você fazer o planejamento.

Aí você discute outra coisa, se você quer reeleição. É outro debate. Tem gente que quer cinco anos sem reeleição. Eu acho que não deve ter reeleição. O que deve se reeleger é o projeto e não as pessoas. E no Brasil, hoje em dia o problema é muito sério. A gente não discute o projeto, a gente discute as pessoas.

Você deveria ter alinhado uns dez temas prioritários, as reformas econômica, política, institucional da gestão, segurança pública, educação, saúde, e em cima desses temas dizer: ‘Olha eu não sei se você vai ser candidato, mas o que o senhor pensa sobre esse tema, qual é a proposta?’.

Projetos no Senado

O projeto de defesa agropecuária é importantíssimo. Para você ter uma ideia, passou pelo crivo da classe política mais orientada para o debate sobre a agropecuária no Brasil. Na época que eu cheguei ao Senado, onde estava se discutindo a importância da defesa sanitária no Brasil, e essa defesa sempre foi discutida que não havia um projeto para isso. Uma dificuldade grande essa questão da sanidade animal e vegetal. Isso é usado para criar barreiras para os produtos.

Então quando a gente vê aquele problema que teve da ‘Operação Carne Fraca’, aquilo tudo tem um desdobramento enorme no setor da agropecuária, que representa hoje quase 24% do PIB nacional, e a gente não tem uma política pública de defesa agropecuária.

Quando eu cheguei lá no Senado eu pedi licença a Ana Amélia, Caiado, Moca, que são pessoas que vêm da bancada ruralista. Aí eu disse: eu posso fazer um projeto que distribua melhor esses recursos? Eu já tinha essa ideia lá atrás. Quando fui secretário da Agricultura (da Bahia), criei uma equação matemática onde tinham 10 indicadores que estabeleceriam pesos para cada estado. Então a distribuição dos recursos deixava de ser simplesmente o desejo do ministro de repassar os recursos.

Eu consegui conversar com os fóruns e secretários de agricultura de todos os estados, apresentei no Fonema, mobilizei, fizemos audiência pública, fomos para dentro do Ministério da Agricultura, conversamos com todos os técnicos. Esse é um projeto de uma dimensão enorme. Esse projeto é tão inovador que eu recebi meia página no jornal Valor Econômico.

Tem outro projeto, que eu tive a oportunidade de ter um editorial do Estadão, sobre um projeto pelo qual que eu crio uma coisa fantástica que é contra o abuso comercial. Eu crio uma nova figura jurídica que é aquela coisa da insistência do telemarketing. É para estabelecer que haja um critério para que eles possam fazer a abordagem do telemarketing.

Eu criei horário, criei uma tecla interruptiva, criei a possibilidade de limitar a três o número de chamadas. O projeto também veda a prática de chamadas aleatórias. Nós aprovamos, e essa matéria já está na Câmara Federal.

Então em pouco tempo eu consegui aprovar uma quantidade de projetos razoáveis.

De prefeito de Lauro de Freitas ao Senado

Eu posso dividir em duas coisas. Na política o que me deu maior prazer e capacidade de realizar foi o cargo de prefeito. Eu tive a oportunidade de estar nos três níveis, no município, no Estado e no governo federal. O prefeito tem o poder de mexer com o humor das pessoas. O prefeito para mim é como se fosse uma dona de casa, ou um dono de casa. É alguém que cuida do cotidiano, alguém que se preocupa com que a criança chegue à escola, que tem alimento para aquelas pessoas, que se preocupa com o transporte. Tudo isso é o cotidiano de uma cidade que faz uma diferença enorme na vida da gente.

Se você sai de manhã de sua casa e encontra os serviços públicos funcionando, o seu dia tem uma chance enorme de ser bom. É uma transformação violenta em uma cidade, não só para você, para todos.

Eu acho que é essa ideia que me encanta no município. Você poder transformar um ambiente que vai além do físico. A questão não é tapar o buraco, é que o buraco não exista. A questão não é ter o transporte público, é ter ele acessível e no horário correto.

Quando você inverte essas lógicas e começa a dar conforto à vida do cidadão, eu acho que o prefeito é sem sombra de dúvidas a figura com quem você pode construir essa relação direta com o cidadão. O resto é indireto. Então, para mim, foi no Executivo como um todo e no município.

E posso dizer que tive também uma oportunidade no Senado de ter uma visão muito abrangente do País, e encontrar também uma coisa que me causa um pouco de perplexidade. Como eu sou engenheiro, eu tenho uma capacidade de raciocínio lógico muito grande, então eu chegava às reuniões e ficava na política ‘poxa isso é fácil de resolver’ e quando eu comecei a perceber que não era tão fácil eu comecei a me questionar. ‘É tão óbvio’, mas eu achava que 2+2 na matemática é igual a 4. Na política só não é quatro.

Eu aprendi uma coisa. Na matemática 2+2 é 4. Na política só não é quatro, e no jurídico é inclusive 4. Na contabilidade depende do que você quiser, e na engenharia ela tende.

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