Publicado em 05/01/2016 às 06h00.

‘Se BRT não sair é por perseguição política’, dispara ACM Neto

Favorito nas pesquisas de pré-campanha, em entrevista exclusiva ao bahia.ba, prefeito de Salvador diz que ainda não sabe se disputará reeleição

Levi Vasconcelos
Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

O prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) garante que ainda não definiu se será candidato à reeleição este ano. Favorito nas pesquisas de pré-campanha, em entrevista exclusiva ao bahia.ba, o democrata diz que “sempre há” possibilidade de ficar de fora do pleito e descarta a hipótese de, caso confirme o nome na disputa, ter o atual secretário municipal de Educação Guilherme Bellintani em sua chapa. “Não tenho desejo nenhum. Primeiro, eu tenho tido muito cuidado, porque eu tenho uma vice (Célia Sacramento) que é minha parceira, minha amiga e que tem que ser considerada no processo e não deixa de ser uma alternativa. Não colocam ela, mas ela continua sendo e será uma alternativa sempre. (…) Primeiro eu tenho que decidir ser candidato. Depois que decidir que sou candidato, a gente vai discutir coletivamente quem será o vice”, afirmou. O prefeito também negou ter a meta de tentar o Palácio de Ondina daqui a dois anos. “Olha, é um grande engano imaginarem que eu vou entrar em 2016 olhando para 2018. Eu não vou fazer isso. Dois mil e dezesseis é eleição municipal, seja eu candidato, seja um candidato apoiado por mim. Dois mil e dezoito é outra história. E é outro equívoco também imaginar – e que isso fique registrado – que uma vez reeleito, quem sabe muito bem votado, que necessariamente eu vá ser candidato a governador”, alertou. Apesar do ano eleitoral, Neto admite que os últimos 12 meses da gestão serão de dificuldades, por causa da crise econômica, e cogita a possibilidade de, assim como aconteceu no plano estadual, o funcionalismo municipal ficar sem reajuste. “O que a gente precisa é aguardar os quatro, cinco primeiros meses do ano, para ver como se comporta a arrecadação, principalmente o IPTU. Aí nós vamos saber se o que nós vamos dar de reajuste aos servidores em 2016 é o que está na lei, que são 2%; se será menos – pode não ser nada, se a gente tiver uma surpresa muito negativa –; ou quem sabe até, se a gente tiver uma surpresa positiva, ter condições de dar mais do que 2%”, ponderou. Sobre os projetos pendentes, ele acusa o governo federal de atrasar o ritmo de obras na cidade, por falta de liberação de recursos, e elucubra um suposto boicote no travamento de R$ 300 milhões que seriam aplicados no BRT. “Salvador sabe, isso acho que está muito claro para todo mundo, que se esse projeto não sair é por perseguição política. Aí o governo e o PT assumam o discurso de terem perseguido, não o prefeito ACM Neto, mas o cidadão de Salvador”, disparou. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

 

‘Eu não estou nem um pouco preocupado (com os adversários)’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘Eu não estou nem um pouco preocupado (com os adversários)’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

bahia.ba – Tudo pronto para a campanha de 2016?

ACM Neto – Não. Nada pronto. Nada de campanha. Aqui a gente proíbe de falar em eleição e em campanha. Eu tenho dito, e vou repetir, que o Congresso aprovou no ano passado mudanças na Lei Eleitoral e uma das coisas boas foi diminuir o tempo de campanha. Então, isso nos dá muito mais espaço para fazer o nosso trabalho, tocar a vida, governar a cidade e deixar a eleição realmente para quando ela tiver que acontecer.

.ba – Mas os adversários já começaram a se articular. Fala-se em Juca Ferreira, no lado do PT, Alice Portugal, no PCdoB… O cenário já começa a ser montado. Como é que o prefeito avalia a pré-campanha?

ACM – Eu acho que é natural. Os adversários naturalmente vão ter que montar a estratégia deles. Agora, eu não estou nem um pouco preocupado. Primeiro porque eu não vou escolher concorrente – são eles que vão se definir. Segundo porque, independentemente de quem venha, de quem seja o nome, eu tenho que fazer o meu trabalho. Tocar a minha administração com toda a tranquilidade, fazer as entregas que estão acertadas, ter um volume importante de inaugurações esse ano, tocar os serviços, estar preparado para enfrentar um ano difícil em termos econômicos e seguir a vida. Quando tiver que tratar de eleição, eu vou tratar.

.ba – A propósito do flagelo que está a situação federal, muita gente da oposição questiona a reeleição. O senhor é contra ou a favor?

ACM – Eu sempre defendi que o ideal no Brasil é que nós tivéssemos um mandato de cinco anos, sem reeleição. O primeiro ano é sempre para arrumar a casa, colocar as coisas em ordem, tomar pé de uma maneira completa do funcionamento da máquina e começar a fazer os projetos. Aí você vai perguntar: ‘em quatro anos dá para fazer tudo?’. Não dá. É pouco. Mas eu acho que no Brasil, por conta da fragilidade do nosso sistema político-partidário, o sujeito que não tem o espírito público ganha a eleição e, no dia seguinte, mal sentou na cadeira, já está pensando na reeleição. E aí vai tomando decisões só olhando a pretensa reeleição. No meu caso, uma coisa superacertada que eu fiz no começo do trabalho foi reunir toda a equipe e dizer: ‘olha, aqui ninguém vai se preocupar com o calendário eleitoral. Ele vai chegar na hora certa e nós teremos, ou não, maior viabilidade na medida em que o governo funcione e as coisas aconteçam’. Ponto. Mas nem todo mundo faz isso. Eu tive coragem de tomar medidas difíceis, mas que eram necessárias, como, por exemplo, fazer um ajuste fiscal severo no começo da administração. E era fundamental. Talvez esse seja um dos grandes legados hoje de Salvador. Imagine se eu não tivesse feito isso, com a crise que nós estamos vivendo hoje? Se eu estivesse apenas pensando na reeleição, talvez eu não tivesse atualizado a planta de valores do IPTU, que estava 19 anos desatualizada, e talvez eu não tivesse tido a coragem de enfrentar certas corporações para melhorar a qualidade do gasto público.

‘(reajuste dos servidores) pode não ser nada, se a gente tiver uma surpresa muito negativa’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘(reajuste dos servidores) pode não ser nada, se a gente tiver uma surpresa muito negativa’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

.ba – Um levantamento da Folha de S. Paulo mostra que Salvador foi a capital com a maior perda de receita do país, com diminuição de 17,7%. Pelo outro lado, na mesma pesquisa, a cidade não está entre as que mais deixaram de fazer investimento e nem aparece na lista. Qual é a mágica?

ACM – O ano de 2015, de julho em diante, foi muito difícil. Agora, os números da Folha, se fossem em dezembro, não seriam aqueles. Por quê? Outras capitais fizeram antes os seus refinanciamentos. O PPI que a gente faz aqui, que é o Refis, a gente deixou para fazer no final do ano e essas receitas só entraram em novembro e dezembro. Da mesma forma que os depósitos judiciais só entraram no fim do ano. Então, a gente não vai encerrar o ano com uma queda tão grande como aquela que foi apontada pela Folha, mas é uma queda expressiva. Em julho, quando eu vi que o negócio começou a pegar, eu aí parei tudo e apertei o cinto. Agora, por exemplo, nos últimos dias do ano de 2015, eu fechei o orçamento de 2016 e estou contingenciando um bilhão e meio, sendo que R$ 500 milhões são de receita tributária. Nós vamos ter agora um teste, que é o IPTU. Eu estou bastante preocupado com o que pode vir em termos de arrecadação do IPTU, porque a gente não sabe qual é o tamanho do buraco da crise e eu tenho, como filosofia, não gastar um centavo a mais do que eu arrecado. Como é que eu faço para manter as obras, para manter os serviços etc.? Gasto menos com a prefeitura e mais com a cidade. Menos com a máquina e mais com o cidadão. Essa é a nossa lógica. O trabalho que foi feito em 2013 e 2014 nos deu uma folga de caixa. De 2014 para 2015, nós viramos com uma reserva R$ 1,2 bilhão. Uma parte já foi queimada no ano de 2015, por conta das entregas de obras, e por outro lado, com a queda de arrecadação, eu tive que comprometer uma parte da reserva, mas nós vamos fechar, de 2015 para 2016, ainda com dinheiro em caixa para garantir o cumprimento desses outros compromissos que nós temos com a cidade. Agora, eu estou muito preocupado com a situação econômica do país, que se reflete diretamente na arrecadação do Município.

.ba – A equipe econômica da prefeitura já avaliou o impacto do novo salário mínimo nas contas municipais?

ACM – Nós já temos toda a projeção de gastos com pessoal para esse ano. De fato, essa é a maior pressão que acontece sempre – despesa com pessoal. Nós temos duas áreas que estão pesando fortemente, que são Saúde e Educação. Na Saúde, nós saímos de 15% de comprometimento do orçamento para 19%. Então, nós aumentamos significativamente o gasto com Saúde. E na Educação saímos… quer dizer, nem saímos. João Henrique, no último ano dele, não conseguiu cumprir o índice constitucional, que são 25%, e nós chegamos a 28%. Quer dizer, somente com Saúde e Educação, eu coloquei a mais do que seria a minha obrigação R$ 260 milhões em 2015. Salvador nunca investiu esse volume de recursos que está investindo agora e é exatamente o investimento social mais importante para a cidade. O impacto da folha já está – todo ele – enquadrado no orçamento. O que a gente precisa é aguardar os quatro, cinco primeiros meses do ano, para ver como se comporta a arrecadação, principalmente o IPTU. Aí nós vamos saber se o que nós vamos dar de reajuste aos servidores em 2016 é o que está na lei, que são 2%; se será menos – pode não ser nada, se a gente tiver uma surpresa muito negativa –; ou quem sabe até, se a gente tiver uma surpresa positiva, ter condições de dar mais do que 2%.

.ba – Mas corre o risco de ser zero, como o governo do Estado já anunciou?

ACM – Eu não quero desanimar o servidor nesse momento, então eu prefiro não especular. Prefiro acreditar que, pelo menos, os 2% a gente vai ter condições de dar. É o meu desejo. Se eu não tiver condições, eu vou conversar, com toda a transparência. A arrecadação é publicada, os números são transparentes, então nós vamos ter que sentar para ajustar, de acordo com o comportamento da arrecadação do Município.

.ba – Correção inflacionária está fora de cogitação?

ACM – Não, não. Aí, não há hipótese.

‘O governo e o PT assumam o discurso de terem perseguido, não o prefeito ACM Neto, mas o cidadão de Salvador’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘O governo e o PT assumam o discurso de terem perseguido, não o prefeito ACM Neto, mas o cidadão de Salvador’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

.ba – Fora aquele dinheiro das encostas, se é que chegou, o senhor recebeu algum outro tipo de ajuda do governo federal?

ACM – (pausa) Não quero ser injusto, então estou aqui tentando puxar a memória… Nós temos um projeto de macrodrenagem da Bacia do Trobogy com o Ministério das Cidades que a obra está em um ritmo muito lento, porque o governo não está liberando os recursos na velocidade que precisa. Ela começou bem rápida, aí os empresários que venceram a licitação me perguntaram se eu iria pagar o que o governo federal não ia pagar, e eu disse: ‘não. Vocês esperem o governo federal liberar os recursos porque eu não tenho condições. Não está no meu plano’. Então, tem lá essa obra, mas que, de fato, o ritmo de liberação dos recursos é lento… Para não dizer que não ajudou, o Mercado de Itapuã teve mais ou menos R$ 1,2 milhão, na época em que Fábio Mota (atual secretário municipal de Mobilidade) ainda era secretário nacional de Turismo. Temos aqui nessa obra da Praça Cayru, também da época de Fábio Mota, também cerca de 5 ou 6 milhões de reais do governo federal. Como está tudo atrasado e eu não posso atrasar a obra, porque é o centro nervoso do Comércio da cidade, eu estou colocando dinheiro da prefeitura. E é só.

.ba – O senhor ainda tem alguma esperança de receber os recursos para a implantação do BRT?

ACM – Muito pouca. Não vou dizer que não tenho nenhuma, mas é muito pouca. Nós fizemos agora uma proposta para que o governo fracionasse o projeto. Então, faz-se uma licitação do todo, porém em etapas, de maneira que a gente pegasse os R$ 300 milhões de financiamento que estão na Caixa Econômica e tocasse o primeiro ano da obra. Daria perfeitamente para, pelo menos, um ano a gente tocar com esses R$ 300 milhões e o restante viria para o próximo ano. Eu estou muito tranquilo, porque eu fiz tudo o que precisava ter feito. Primeiro, o acordo do metrô. Isso fez parte do acordo do metrô, com Jaques Wagner (na época governador da Bahia e hoje ministro da Casa Civil) e Dilma (Rousseff). Com os dois. Depois, ela veio aqui e anunciou, exatamente por conta do acordo. Vem a crise e eu, com a responsabilidade que tenho com o país, de quem governa, apoio – como apoiei em Brasília – as medidas do ajuste fiscal. Naquele momento, eles sinalizaram que com o governo indo bem, com o governo tendo condições de não sofrer tanto, por causa das medidas, que naturalmente as coisas para o Município poderiam sair. Então, fiz a minha parte. Mais uma vez eles não fizeram a deles. Dilma esteve aqui, na inauguração da Estação Pirajá do metrô, e não deu uma palavra, mesmo publicamente perguntada por mim. Salvador sabe, isso acho que está muito claro para todo mundo, que se esse projeto não sair é por perseguição política. Aí o governo e o PT assumam o discurso de terem perseguido, não o prefeito ACM Neto, mas o cidadão de Salvador.

.ba – O que é esse parcelamento do projeto?

ACM – O parcelamento permitiria a você executar toda a intervenção da altura do Parque da Cidade até a integração com o metrô, no Iguatemi. Todo esse conjunto se enquadra dentro dos R$ 300 milhões.

.ba – E esse trecho vai sair esse ano, ou não?

ACM – Depende deles.

.ba – O senhor acha que a mudança do ministro da Fazenda cria essa expectativa?

ACM – Com o Nelson Barbosa?

.ba – Sim…

ACM – Isso, em si, não. Vamos ver aí como é que vai ser…

.ba – Porque o Joaquim Levy tinha a fama de arrochar demais e o Nelson Barbosa parece ser mais flexível…

ACM – É verdade. Agora, se for perseguição política, não vai sair com ele nem com ninguém. Se não for perseguição política, a gente pode ter uma esperança. O que é que eu tenho dito lá em Brasília? Eu tinha conversado isso com o próprio Joaquim Levy: não tem sentido o governo não liberar os recursos que são de empréstimo. Menor sentido ainda, como eles fizeram agora, travar as operações de crédito externo. Nós estamos com um Prodetur (Programa Regional de Desenvolvimento do Turismo) na boca, para pegar US$ 110 milhões. Isso foi exaustivamente negociado com o banco, no entanto a Secretaria do Tesouro Nacional foi lá e travou. Mas tudo isso está documentado e vai ser mostrado na hora certa.

.ba – Pessoalmente, o prefeito ACM Neto acredita que há perseguição política?

ACM – Estou começando a achar que sim. Estou começando a achar que sim, porque nada acontece. Fizeram um acordo comigo para liberação de recursos para a Saúde e não saiu um centavo. Então… Os meus acordos eu cumpro.

.ba – O vice-presidente Michel Temer, na carta que escreveu a Dilma, se queixou do não cumprimento de acordos e o senhor está naquele pacote…

ACM – Estou no pacote porque os acordos foram feitos com ele e o próprio Joaquim Levy em troca do apoio às medidas de ajuste fiscal. Não foi assim ‘toma-lá-dá-cá’, mas Salvador tem uma pauta, todos sabem qual é, e o governo sabia a pauta. Qual era o argumento do governo? ‘Nós precisamos do ajuste fiscal para ter menos crise e assim ter mais facilidade de ajudar’. Tá bom? Tá bom! Fomos lá, apoiamos e, depois, zero. Zero!

‘Sempre há (possibilidade de não ser candidato)’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘Sempre há (possibilidade de não ser candidato)’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

.ba – O senhor falava das obras do metrô, que já avançam pela Avenida Paralela, onde está o monumento de Luís Eduardo Magalhães. Já foi sinalizado pelo governo do Estado onde será a nova localização?

ACM – Já. Na verdade, a família dele – no caso, os filhos – prefere colocar na Assembleia Legislativa. Então será feito algum ajuste naquela região para colocar o monumento no Centro Administrativo. Se não for ali, tem a própria Avenida Luís Eduardo Magalhães, que foi uma sugestão que eu dei também como alternativa. É uma avenida que já tem o nome dele. Poderia colocar no canteiro central. Mas aí é uma decisão que a CCR (operadora do metrô) vai ter que validar com os filhos, principalmente com Luís Eduardo Magalhães Filho.

.ba – O senhor se tornou um líder estadual e é prefeito de Salvador. Na campanha desse ano, vai ser requisitado para ir muito ao interior e também tem que se preocupar com a sua campanha. Como pretende articular isso aí?

ACM – Primeiro, são coisas absolutamente inconciliáveis. Se eu decidir ser candidato à reeleição, eu vou focar exclusivamente em Salvador e o que eu posso fazer para o interior é gravar mensagens de vídeo e rádio. Isso eu posso fazer, mas a minha agenda é municipal.

.ba – Se decidir, por quê? Ainda há possibilidade de não ser candidato?

ACM – (risos) Sempre há.

.ba – O que o senhor aconselharia aos seus colegas do interior baiano, que são candidatos esse ano, com as restrições de gastos de campanha, proibição de financiamento privado, a enfrentar a corrida eleitoral de forma competitiva sem cometer dolo?

ACM – Não tem jeito. Vai ter que mudar a lógica que sempre dominou. Os políticos vão ter que ter a consciência de que a campanha agora vai custar muito menos. Por outro lado, têm que ter a capacidade de enfrentar os prestadores de serviços. O pessoal que sempre trabalhou comigo na área de comunicação, de produção de vídeo, por exemplo, eu disse: ‘se eu decidir ser candidato a prefeito, vocês se preparem para cobrar muito menos do que vocês me cobravam, senão não vou fazer’. A gente vive, nesse momento, uma crise moral e ética sem precedentes no país. O maior escândalo que já aconteceu no Brasil está aí: é a Lava Jato. Eu acho que o eleitor, em certa medida, depois de tanto bombardeio de prisões, disso, daquilo, dos escândalos todos na televisão, está consciente de que alguma coisa vai ter que mudar na política. Agora é botar na cabeça que a política é gastar sola de sapato, andar mais do que sempre se andou, controlar o prestador de serviço… porque, quando todo mundo mudar o patamar, o sujeito que vende o santinho, a gráfica que produz o santinho, o cara que faz o jingle, vão ter que mudar também. Não tem jeito. Outra coisa, que nós aqui estamos nos preparando, é mobilizar a doação de pessoa física, o que nunca aconteceu – eu até conseguia fazer com os meus jantares de adesão. E eu vou ter que fazer isso. Nós temos aqui uma rede de amigos, de colaboradores, de pessoas que gostam do projeto, e cada um vai ter que ser multiplicador. Eu acho, já disse e vou repetir, que foi um grande erro que o Congresso e o Supremo – os dois – cometeram, porque tudo isso que eu estou falando é para a pessoa séria, mas infelizmente a maioria dos políticos ainda não é de pessoas sérias e esses caras vão trabalhar com caixa 2. É um estímulo ao caixa 2. É um estímulo à campanha paralela e isso vai descompensar a eleição e pode produzir um efeito muito maior. A depender do que aconteça na eleição desse ano, aí o Congresso volta atrás porque eu quero ver os senadores que são candidatos a governador e candidatos à reeleição, os deputados que são candidatos à reeleição, ou candidatos à majoritária, como é que eles vão fazer a campanha.

‘Não colocam ela (Célia Sacramento), mas ela continua sendo e será uma alternativa sempre’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘Não colocam ela (Célia Sacramento), mas ela continua sendo e será uma alternativa sempre’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

.ba – O senhor disse que ainda não decidiu se vai ser candidato, mas enquanto líder do Democratas, uma das principais lideranças nacionais do partido, a questão da Lava Jato vai ser um dos motes da campanha para tentar, estrategicamente, enfraquecer o PT?

ACM – Eu acho que o ambiente político para eles nunca esteve tão ruim e isso é claro que influencia diretamente. Agora, se você perguntar ‘Neto, a sua pauta passa por Lava Jato?’, eu digo: ‘em momento nenhum’. Minha pauta vai ser discutir a cidade. Eleição municipal é a maior prova de que essa coisa de verticalização na eleição municipal não existe. O PT nunca ganhou uma eleição aqui, com governador do Estado e presidente da República. No entanto, se você for ver, Lula ganhou todas em Salvador. Mesmo as que ele perdeu para Fernando Henrique, ele ganhou em Salvador. Então, na eleição municipal o debate é outro. O que se debate é a vida cotidiana. É o buraco na rua, o posto de saúde que funciona ou não, o campo, a quadra, o trânsito, o transporte… é isso que se debate. Tanto que eu sou contra a coincidência de mandatos e de eleições – e confesso que quem me convenceu disso foi o deputado Jutahy Magalhães (PSDB) – porque não se pode comprometer o debate municipal, que é fundamental. Pelo contrário, tem que se fortalecer o municipalismo no Brasil nesse desequilíbrio federativo que existe, de uma grande concentração de poder no governo central.

.ba – Mas eleição de dois em dois anos também não fica muito sufocante?

ACM – É ruim, mas eu acho que agora, com o encurtamento da eleição, isso diminui um pouco. É ruim? É ruim. Mas é melhor para a democracia que a eleição aconteça de dois em dois anos e se preserve o debate municipal, do que o prejuízo que se tem com o contrário.

.ba – O senhor disse que proibiu os secretários de anteciparem o calendário eleitoral, mas a gente sabe que alguns são cogitados como prováveis candidatos. Algum já foi ao senhor falar sobre uma possível substituição?

ACM – Não. Nós temos duas candidaturas que são naturais, dos dois vereadores que estão no governo: Tiago Correa, presidente da Limpurb, e Héber Santana, secretário de Relações Institucionais. Não há nenhum outro secretário que tenha me comunicado que vai ser candidato, nem a secretária Rosemma (Maluf, de Ordem Pública, do PSDB), que muitas vezes é especulada. Ela não tomou essa decisão ainda. Nós temos os prazos legais, que vão ser cumpridos. Para candidato a vereador, o prazo é 2 de abril. Para quem quer disputar uma eleição majoritária, o prazo é junho. Pode se especular que pode existir um vice que é secretário e tal…

.ba – Diz-se que seria desejo do prefeito ACM Neto que o vice fosse Guilherme Bellintani…

ACM – Não tenho desejo nenhum. Primeiro, eu tenho tido muito cuidado, porque eu tenho uma vice (Célia Sacramento) que é minha parceira, minha amiga e que tem que ser considerada no processo e não deixa de ser uma alternativa. Não colocam ela, mas ela continua sendo e será uma alternativa sempre. E existem outros nomes que estão aí especulados. Primeiro eu tenho que decidir ser candidato. Depois que decidir que sou candidato, a gente vai discutir coletivamente quem será o vice. Essa não é uma decisão minha, apenas de uma preferência pessoal por A, B ou C, e quem me conhece sabe que eu vou usar critérios. Eu não pegar alguém ‘ah, é porque é meu melhor amigo’. Não. Eu vou usar critérios para que essa escolha seja feita da melhor forma.

.ba – As vagas que vão ser deixadas pelos dois vereadores vão ser preenchidas pelos mesmos partidos deles?

ACM – Não necessariamente…

.ba – O prazo é março…

ACM – tem tempo (risos).

.ba – Ainda sobre secretariado, Severiano Alves vai mesmo substituir Andréa Mendonça na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Emprego?

ACM – Isso não está resolvido ainda. Felinho (deputado federal Félix Júnior, presidente estadual do PDT) viajou com a família, para passar Ano Novo fora, combinamos de, na chegada dele, ainda essa semana, fazermos uma coversa, eu ele e (Carlos) Lupi (presidente nacional do PDT). Eu quero discutir isso com Lupi também. Não descarto a hipótese, mas também ainda não está sacramentado. O martelo ainda não foi batido.

‘É um grande engano imaginarem que eu vou entrar em 2016 olhando para 2018’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
‘É um grande engano imaginarem que eu vou entrar em 2016 olhando para 2018’ | Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba

 

.ba – O senhor de vez em quando dá umas trombadas com o governador Rui Costa. Como está o relacionamento seu com ele?

ACM – Um relacionamento profissional. Foi o que ele colocou desde o começo e é o que eu procuro seguir, da mesma forma. Cada um tem o seu estilo, cada um tem a sua forma de atuar e a gente não deve pretender que o outro tenha o seu estilo. Nunca houve nenhum prejuízo à cidade por causa das nossas divergências político-partidárias. Pelo contrário.

.ba – O pessoal diz por aí que vocês fazem a disputa do bem. O senhor concorda com isso?

ACM – Não. Eu não estou disputando nada com ele…

.ba – Ainda, né? Talvez em 2018…

ACM – Olha, é um grande engano imaginarem que eu vou entrar em 2016 olhando para 2018. Eu não vou fazer isso. Dois mil e dezesseis é eleição municipal, seja eu candidato, seja um candidato apoiado por mim. Dois mil e dezoito é outra história. E é outro equívoco também imaginar – e que isso fique registrado – que uma vez reeleito, quem sabe muito bem votado, que necessariamente eu vá ser candidato a governador. Esse assunto eu não converso e nem penso.

.ba – Dois anos atrás, quando havia uma indefinição na candidatura da oposição ao governo, entre Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, o senhor, como principal articulador do processo, dizia que não poderia deixar a definição para muito depois do carnaval. Agora fala em prazo regimental…

ACM – Porque agora a situação é bem diferente. Eu estou no poder, né?

.ba – Qual é o prazo para definir se ACM Neto será mesmo candidato à reeleição e quem será o vice?

ACM – (longa pausa) Olha, eu não quero responder se vai ser abril, maio ou junho porque eu não comecei a conversar sobre isso com os meus aliados. Eu não posso me autoproclamar candidato. Não é isso. Eu não trabalho desta maneira. Nesse aspecto há uma pequena diferença do meu estilo para o do meu avô. Eu tenho muita coisa para amarrar, muita coisa para ajustar com os partidos, com os aliados. Então, vai ser na hora que tiver que ser. Não será antes, nem depois.

.ba – Em 2012, o senhor contou com a aliança de apenas cinco partidos no primeiro turno e teve o acréscimo somente do PMDB no segundo. Sendo o senhor candidato ou um aliado seu, trabalha com a hipótese de ter um arco de quantos partidos para ganhar a eleição este ano?

ACM – Eu espero manter comigo os partidos que hoje integram a minha base de apoio na Câmara Municipal. Caso eu decida ser candidato, é com esses partidos que eu vou dialogar o projeto em 2016. Se a gente puder, por uma questão de surpresa até, trazer mais alguém, ótimo. Não vou deixar de conversar. Vou conversar com todo mundo. Claro que tem aqueles partidos que a gente sabe que tem candidatos anunciados ou naturalmente vão com o PT. Fora isso, vou conversar com todo mundo.

Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
Foto: Foto: Max Haack/ Agecom/ bahia.ba
Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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