Targino exalta a cultura forrozeira: ‘Minhas músicas têm o cheiro do Nordeste’
Ao bahia.ba, artista fala sobre os 30 anos de carreira e adianta parte de sua agenda para o São João

“A música Esperando na Janela eu posso dizer que é a mesma coisa pra mim como ‘Asa Branca’ é pra Luiz Gonzaga”. Dessa forma, o cantor, compositor e sanfoneiro consagrado na música nacional, Targino Gondim, de 52 anos, opinou sobre a canção que projetou o artista ao mundo e proporcionou o Grammy em 2001, como melhor canção brasileira. O pernambucano, nascido em Salgueiro, abraçou a sanfona como instrumento de trabalho e de vida, e segue firme com suas raízes. Ele tem Luiz Gonzaga como a sua maior referência. Para o forrozeiro, o artista mudou totalmente a história da música brasileira.
Em entrevista ao bahia.ba, Targino repassou a carreira de mais de 30 anos, exaltou parcerias que fez ao longo da trajetória artística e discorreu sobre a grandeza da cultura forrozeira e nordestina —característica sempre presente em suas músicas. “A grande maioria tem uma conotação, tem o cheiro do Nordeste”, definiu.
Targino também abordou projetos pessoais, como o desafio atual de atuar como secretário de Cultura, Turismo e Esporte de Juazeiro da Bahia e, por fim, adiantou seus preparativos para o São João 2025.
1) Targino, o que significa para você ser um dos responsáveis a levar o forró para todo o país e um dos nomes que lutam pela preservação da sanfona no Brasil?
“Só tenho que ser grato ao povo pela forma como meu trabalho foi acolhido, desde o meu início. Até aqui foram tantas vitórias, parcerias, premiações e momentos maravilhosos que me colocaram hoje em um posto de um dos maiores representantes da nossa sanfona, do forró e da música brasileira.”
2) Quando a safona entrou em sua vida? Conta como é a sua relação com esse instrumento musical tão importante.
“A sanfona entrou na minha vida desde guri porque meu pai já tocava. Ele comprou uma sanfona no Rio de Janeiro sem saber tocar, mas comprou porque era fã do Luiz Gonzaga. Levou pra Salgueiro, Pernambuco, onde ele morava e conheceu o irmão adotivo de Luiz Gonzaga. Os dois fizeram amizade e moraram juntos por muito tempo. Ele ensinou ao meu pai a tocar sanfona e meu pai o ensinou a dirigir caminhão. Aos 12 anos, vi meu pai tocar ‘Asa Branca’. Me empolguei com a sanfona e abracei como instrumento de trabalho e de vida”.
3) Quais os artistas da antiga geração que mais te inspiram?
“Os artistas que mais me influenciaram, com certeza, foram os do forró, como: Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Túlio Nordestino, Jackson do Pandeiro e Marinês. Eu acredito que sou influenciado e também influencio. Dominguinhos, que é meu irmão, meu parceiro maravilhoso, o melhor sanfoneiro do mundo, de certa forma, eu também o influenciei. Ele gravou música comigo e temos músicas juntos. Flávio José, por exemplo, regravou muita coisa que eu gravei. Ele via no disco, gostava e queria gravar”.
4) A cultura nordestina é protagonista de várias composições suas. De que forma elas te inspiram para compor tantos sucessos?
“Nas minhas composições, principalmente as que ficam fora do âmbito romântico, elas são composições ligadas à cultura nordestina. Vivo tudo isso desde a infância. Sou um defensor da cultura nordestina. Então, a grande maioria tem uma conotação, tem o cheiro do Nordeste”.
5) Você é um dos compositores do sucesso ”Esperando na Janela”. Como ela foi idealizada?
“Esperando na janela’ foi composta, na verdade, em 1998. Eu estava cantando no chuveiro na casa de minha mãe. Cantava uma música de Luiz Gonzaga, que eu gosto muito: ’Daquele Jeito’, e no refrão ele tinha uma coisa muito parecida e isso foi o que me inspirou. A música diz: Quando ela olhar pra gente, olhar daquele jeito, quando ela rir pra gente, rir daquele jeito, quando pega em minha mão, pega daquele jeito, quando eu vou pra casa dela. Então nesse momento aí, quando eu vou pra casa dela, quando encosto na janela, aí me veio a inspiração do refrão inteiro: “por isso eu vou na casa dela, falar do meu amor pra ela vai, tá me esperando na janela…” Então eu cantei para Manuca Almeida o refrão que eu tinha feito. Em seguida ele trouxe algumas outras letras de música dele com Raimundinho do Arcodeon e eu peguei as letras deles fiz umas misturas com outras melodias que eu tinha composto, finalizei e gravei”.
6) A música “Esperando na Janela” te rendeu um Grammy em 2001 e foi a mais executada no Brasil em 2004. O que isso representa até hoje em sua carreira nacionalmente?
“Ganhamos o Grammy em 2001, como melhor canção brasileira. O Grammy nos trouxe muitas coisas boas, inclusive ‘Esperando na Janela’ ficou até o ano retrasado entre as dez músicas mais tocadas desse nosso século. Então isso é muita coisa, né? Isso representa tudo em minha carreira. ‘Esperando na Janela’ eu posso dizer que é a mesma coisa pra mim como ‘Asa Branca’ é pra Luiz Gonzaga”.
7) Como o Ícone da MPB, Gilberto Gil entrou em contato contigo demonstrando interesse em interpretar essa música de tanto sucesso?
“Através de Regina Casé. Ela estava terminando o filme ‘Eu, Tu, Eles’ quando eu gravei ‘Esperando na Janela’. O Gil já estava terminando a trilha sonora do filme e a Regina ligou pra ele dizendo que ele tinha que gravar ela, pois era a canção ideal para o filme. Gil gravou e a música aconteceu. Acredito que a música impulsionou o filme e o filme também impulsionou a música”.
8) O que significa para você ser um artista que segue firme com as suas raízes?
“Eu já recebi muitas propostas ao longo da minha carreira para cantar isso, cantar aquilo… Sugestões para mudar para outro estilo, mas eu não tenho interesse, porque foge da minha vontade, do meu desejo, entendeu? Então nada do que você faz contra a sua vontade é uma coisa boa, não vale para trazer conforto, não vale para trazer felicidade para a vida”.
9) Mais de 30 anos de carreira. Qual o balanço que você faz da sua trajetória?
“O balanço que eu faço é que eu compus muitas músicas e boa parte delas ainda é desconhecida, mas com certeza, em algum momento, elas vão acontecer. Quem descobre essas músicas adora
e eu fico feliz com isso. Vez ou outra estão me relembrando de algumas coisas assim, especialmente dos meus encontros com artistas que conheci desde o início, como: Dominguinhos, Elba Ramalho e outros que chegaram perto de mim e do meu trabalho, como por exemplo, Fagner e Alceu Valença. Já na Bahia, tenho os amigos queridos que preciso citar, como: Bell Marques, Durval Lelys, Timbalada, Carlinhos Brown, que hoje é meu parceiro querido, Ivete Sangalo, Zeca Baleiro e o saudoso Moraes Moreira”
10) Alguma novidade ou projeto futuro para apresentar para o seu público?
“A novidade talvez maior que eu tenha é que hoje eu sou secretário de Cultura, Turismo e Esporte de Juazeiro da Bahia, pois eu sinto a necessidade de contribuir com a cidade que me abraçou desde os meus dois anos de idade e onde também me tornei artista e sanfoneiro.
Fora isso, tem uns festivais que eu faço, como por exemplo, o Festival de Forró da Chapada, o Festival de Forró de Itacaré, além da novidade de músicas novas, que são minhas com Alexandre Peixe e Carlinhos Brown”.
11) O que o público pode esperar de seus shows no São João 2025?
“Eles podem esperar a mesma felicidade de sempre, mesma empolgação, vontade minha de cantar, de fazer o público dançar, sorrir e causar momentos maravilhosos na época junina. Já me sinto feliz, quando lembro que São João é logo ali”.
12) Quais as cidades que serão contempladas com as apresentações de Targino Godim?
“Em breve, vou passar a minha agenda de shows do São João 2025, mas com certeza, eu vou tocar em Caruaru, Aracaju, Jaguaquara, Itagibá, dentre outros municípios”.
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