Publicado em 12/11/2016 às 12h00.

Hélio Ferreira diz que Rui exclui rodoviários de debate do metrô

Representante da categoria, vereador eleito se diz preocupado com possível redução nos postos de trabalho com o novo modal

Luís Filipe Veloso
Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

Eleito com 8.419 votos, grande parte deles dos rodoviários, por ser presidente do sindicato da categoria, o futuro vereador Hélio Ferreira (PCdoB), apelou ao governador Rui Costa (PT), em entrevista ao bahia.ba, uma cadeira no grupo de discussão da mobilidade em Salvador. “Nós estamos excluídos das discussões do metrô e somos uma categoria importante para a cidade. Não podemos ficar excluídos, é um prejuízo”, afirmou o comunista.

O sindicalista, que exercia a profissão de cobrador, também disse que se dividirá nas funções de líder sindical e vereador sem dificuldades e que trabalhará para impedir que a conclusão do sistema metroviário da capital provoque redução nos postos de trabalho no setor do transporte por ônibus.

Hélio afirmou que possui uma relação cordial com o ex-presidente do sindicato e ex-deputado J.Carlos, ex-petista e atualmente assessor especial do prefeito ACM Neto, mas assegurou que marcham em rumos diferentes e só se aliam em nome da governabilidade no sindicato.

O vereador eleito disse ainda enxergar de forma positiva a eleição de representantes sindicais para a Câmara Municipal em 2017, a exemplo dele, Aladilce Souza e Suíca, mas afirmou que é preciso trabalhar em prol de toda a cidade devido à quantidade de carências identificadas ao longo da campanha. Confira este e outros assuntos tratados em entrevista ao bahia.ba.

 

bahia.ba – Qual a sua história como rodoviário; você é motorista ou cobrador?

Hélio Ferreira – Sempre fui cobrador. Eu vim da indústria, nos anos 90, quando lideramos uma greve no setor naquela época de período inflacionário muito alto, quando houve uma perda superior a 84%, que não foram repassados aos salários. Então, ali eu comecei a organizar os trabalhadores, fizemos uma greve de mais de 20 dias e de lá conseguimos, no julgamento, os 84% de aumento. Depois, eu fui demitido e ingressei na categoria dos rodoviários como cobrador, função em que permaneço até hoje por causa da minha militância política, porque acabou existindo esta perseguição de não deixarem eu avançar para a função de motorista. Mas sou cobrador com muito orgulho e também com muito orgulho tenho a honra de representar esta categoria maravilhosa, que é a dos rodoviários da Bahia.

 

Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

.ba – Quando você passou a se dedicar só à vida sindical?

HF – Logo em seguida. Continuei minha militância como oposição, fazendo o trabalho de cipeiros nas empresas, me elegendo sempre em destaque como cipista [integrante de Cipa – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes] e de lá fui fazendo o trabalho de saúde e segurança do trabalhador, e daí fui me destacando até me tornar presidente do sindicato em 2013.

.ba – Está licenciado do cargo agora, né?

HF – Não, já retornei [após a eleição].

.ba – E vai continuar como presidente e vereador? Uma coisa não vai atrapalhar a outra?

HF – Sim. Vou ter esta tarefa. Mais um pouco de trabalho, mas dá para conciliar bem. Acredito que não vai atrapalhar.

.ba – Qual a sua relação, atualmente, com os empresários do setor e com o prefeito ACM Neto?

HF – A relação com os empresários é de conflito de interesses. Eles têm interesse no capital, no negócio deles. O meu é defender os interesses dos trabalhadores. Então, estes interesses se conflitam. Por isso, a gente está dia a dia tendo estes conflitos tanto na questão macro, que são as conquistas sociais, os salários, quanto nas questões do cotidiano, de correção das injustiças, que é o papel do sindicalista. Quanto à relação com a prefeitura, não temos proximidade. Nossa relação só se dá mais no nível da discussão, geralmente quando há o envolvimento da prefeitura no período das campanhas salariais, de ano em ano. Aí qualquer poder concedente tem de se envolver, neste momento, porque são os interesses da cidade, como um todo. E aí entram os interesses dos trabalhadores, os quais eu represento, onde nós tentamos avançar o máximo possível para a categoria. Neste conflito entre empresários e trabalhadores, termina sendo necessária a intervenção dos poderes concedentes. Aí não é só a prefeitura. Às vezes a intervenção cai no Ministério Público, o sindicato é obrigado a provocar o MP para pedir o apoio do órgão nos momentos em que o impasse está muito grande. Também pedimos, muitas vezes, a intervenção da Superintendência Regional do Trabalho para tentar mediar estes conflitos. Assim, geralmente, se termina construindo uma proposta que é levada aos trabalhadores para que uma decisão sobre greve seja tomada, ou não. E a gente tem conseguido propostas aceitáveis pelos rodoviários, como a última, que foi destaque em nível nacional e serviu de referência até para outras categorias no país. Chegamos a ficar à frente de São Paulo, que é a maior cidade da América Latina.

.ba – Então a situação do rodoviário aqui é boa…

HF – A situação não é boa (risos)… em comparação de aumento de salário a situação [na relação com as demais capitais] ficou boa…

 

Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

ba – Ano que vem está descartada a greve?

HF – Não. Em nenhuma hipótese (risos). Isso aí é passado, né? Ano que vem é uma nova construção, de novas reivindicações, de novas conquistas para a categoria. Então, isso aí passou. Ano que vem serão novas correções porque o trabalhador está perdendo mês a mês com a inflação. Hoje, o que nós podemos dizer é que tivemos o maior aumento do Brasil em nossa categoria, no mês em que a negociação foi fechada.

.ba – Como anda sua relação com o ex-presidente do Sindicato dos Rodoviários, ex-vereador e ex-deputado J.Carlos, que construiu a identidade política militando na esquerda e, atualmente, é assessor especial do prefeito ACM Neto?

HF – Olha, J. Carlos se afastou do sindicato. Minha relação com ele é de aliança política, semelhante às alianças no parlamento: você se alia a partidos políticos para manter a governabilidade e aqui [no sindicato] não é diferente. Dentro do sindicato, atualmente, são cinco grupos políticos. Nós temos o de J.Carlos, temos um grupo de Tiago Ferreira, que também foi candidato a vereador; temos o grupo do companheiro Valter, temos o do companheiro Ubirajara e tem o meu grupo, que atualmente é o maior, que é vinculado à CTB [Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil] e ao PCdoB. Então, é uma aliança de governabilidade. É como, por exemplo, um governador que faz alianças para ganhar a eleição, é mais ou menos isso.

.ba – Então vocês, hoje, tem uma relação cordial?

HF – Isso, mas somos de agrupamentos diferentes.

.ba – Como vereador, Hélio está mais para a categoria ou para o PCdoB?

HF – Eu acho que estou mais para a categoria e para a comunidade e tenho que respeitar os princípios éticos do partido que me deu a legenda e onde estou há mais de 20 anos. Eu sou militante ideológico do PCdoB.

.ba – Se fosse necessário, o senhor se desligaria do PCdoB em nome da categoria, conforme justificou J.Carlos em relação ao PT?

HF – Acho que não é isso. Primeiro, acho que o PCdoB não vai me colocar isso, nem a categoria. Porque eu fui eleito nesse objetivo, nesses princípios. É diferente, são coisas diferentes, entendeu? Estou no partido, fui eleito pelo partido e a categoria ajudou a me eleger no PCdoB.

 

Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

.ba – E se em algum momento os interesses da categoria confrontassem com o partido, com quem Hélio ficaria?

HF – Isso não acontece porque, primeiro, os interesses da categoria, para o partido, estão acima de qualquer coisa. Eles não iriam me colocar na parede nunca por eu defender os interesses dos rodoviários. Então, isso não vai acontecer. Eu tenho mais de 20 anos de partido e sei que isso está descartado.

.ba – E sobre deslocamento de lado do J.Carlos, como o senhor, integrante da categoria, enxerga a relação dele com os rodoviários após essa mudança?

HF – Eu não queria opinar sobre esta questão, mesmo como integrante. Acho que ele é quem deveria fazer essa análise, entendeu? Eu não deveria me envolver nesta parte.

.ba – O senhor foi o segundo vereador mais votado de sua coligação este ano, atrás apenas de Suíca. Além disso, Aladilce foi reeleita e também representa a causa sindical. Como explicar esse fenômeno no atual desenho da Câmara a partir de 2017?

HF – Eu preciso parabenizar Aladilce, que é uma grande vereadora, e o vereador Suíca também. É um momento de muitos desafios porque temos muitas demandas, teremos muitas cobranças porque identificamos muitas carências, sobretudo no setor dos transportes. Não somos os engenheiros de diploma, mas somos os engenheiros do dia a dia. A gente sabe quais são os gargalos do transporte. Dentro disso, uma das coisas principais são a categoria e a população; duas coisas que tem de andar de mãos dadas nesta nova realidade para que consigamos o melhor para as duas partes. Porque se a categoria estiver bem remunerada, com conquistas sociais, e a população tiver um ônibus com ar-condicionado, bons terminais, mais coletivos nos bairros, tudo isso será bom para todos. Eu acredito que, no campo da esquerda, ter um seguimento é muito importante, porque é o setor que você representa. Quando você está bem com ele, você tem respaldo. Durante o mandato, cabe ao vereador fazer a política para a categoria, mas também para a população como um todo, porque existem muitas carências. Na Câmara, agora, o transporte tem um representante oriundo da categoria.

.ba – Quem está melhor atualmente: os rodoviários enquanto categoria ou o transporte público de Salvador?

HF – Olha! (risos) Claro que eu vou dizer que são os rodoviários. Se a categoria não fosse assim tão dedicada, tão preparada, o transporte virava um caos na cidade. Mas eu costumo dizer que nós somos os heróis anônimos desta cidade, nós, rodoviários. A gente move esta cidade, a gente acorda e dorme com esta cidade, pegamos o primeiro e o último passageiro, praticamente. Então, nós temos um valor muito grande no anonimato e às vezes divulgam a opinião de apenas uma ou outra pessoa, mas se a gente olhar a opinião do geral, é algo muito positivo quanto à categoria. Acho que os rodoviários merecem um pouco mais.

 

Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

.ba – Existe, de fato, a “bancada do buzu” na Câmara de Salvador, que representa os empresários?

HF – Se existe, vou poder identificar isso a partir de agora nesta nova gestão. A gente não pode afirmar o que não tem certeza, mas, se existir, pode ter certeza que vai ter um contraponto de Hélio Ferreira para defender os interesses do rodoviário e da população do transporte público de Salvador.

.ba – Como integrante do grupo de discussão, qual balanço o senhor faz das ações do Comitê Integrado de Defesa do Transporte Rodoviário?

HF – Primeiro, eu quero parabenizar o secretário [de Segurança Pública, Maurício Telles Barbosa] pela iniciativa. Nós temos uma participação anônima na criação deste comitê. No nosso dia a dia de cobranças ao Comando-geral [da Polícia Militar], acabou levando o secretário a criá-lo. Ele teve essa ideia. Essa cobrança refletia o sofrimento dos colegas e da população com a insegurança no transporte público. Meu balanço é positivo, mas precisa melhorar muito mais. Se comparar a situação em que estava, melhorou muito. As ações [da polícia] têm sido mais rápidas, mais objetivas. Para nós, os rodoviários, ainda não é essencial, mas deu uma melhorada significativa. Temos nos reunido periodicamente para levar sugestões, porque também não vai melhorar assim da noite para o dia, né?

.ba – Vale ressaltar que, após a criação do Comitê, os bairros de Águas Claras, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Valéria ficaram sem ônibus após queima de coletivos. O sindicato acusa, inclusive, que estes veículos não são repostos pelas empresas e isso gera demissões…

HF – Se recolocam [os ônibus], demora muito para recolocar. Porque, na realidade, um ônibus desses para encomendar e comprar leva um bom tempo para ser reposto. Então, além de ser um veículo a menos, termina diminuindo postos de trabalho. É lamentável queimar um ônibus, entendeu? A gente lamenta muito mesmo. Hoje está se virando uma situação que, qualquer coisa está se queimando ônibus. Quem perde com isso é a população. Perde o ônibus e perde por alguns dias pelo deslocamento do terminal, que precisa ser mudado de local por segurança. É um transtorno geral a queima de ônibus.

.ba – O que o senhor pretende fazer, como vereador, para impedir as possíveis demissões de rodoviários com a chegada da linha 2 do metrô e a suposta redução dos ônibus na capital, já iniciadas pela Secretaria de Mobilidade (Semob) em algumas linhas?

HF – Olha só, eu quero aproveitar aqui para fazer um apelo ao governador para envolver o Sindicato dos Rodoviários nas discussões do transporte. Nós estamos excluídos das discussões do metrô e somos uma categoria importante para a cidade. Não podemos ficar excluídos, é um prejuízo. Nós achamos o seguinte: se o metrô ou qualquer outro modal vem para melhorar a mobilidade da cidade, parabéns. Mas a gente precisa entender como isso chegará de modo a não provocar desemprego. A gente tem alternativas. Eu acho que, como existe carência de transporte dos bairros para o Centro, esses coletivos que serão retirados do Centro podem ser deslocados para os bairros. Melhorar o transporte dos bairros e, assim, oferecer mais veículos para a população, que vai chegar mais rápido à integração com o metrô, e evitar a redução dos postos de trabalho. Mas nós precisamos estar inseridos nas discussões para poder colocar nossas posições em defesa dos trabalhadores e da população.

.ba – Mas este recado já foi dado ao governador?

HF – Estamos tentando através do partido, dos interlocutores e parlamentares. Já tivemos reuniões, mas a gente quer ser inserido de uma forma direta. Precisamos participar do grupo de discussão e decisões. A gente não está inserido ainda. Então, eu estou fazendo um apelo. Eu sou da base do governo, mas nós precisamos estar inseridos diretamente nas decisões do transporte.

 

Foto: James Martins/ bahia.ba
Foto: James Martins/ bahia.ba

 

.ba – Quem é o candidato de Hélio Ferreira à presidência da Câmara de Salvador em 2017?

HF – Eu ainda não tenho candidato. Nós estamos reunindo o bloco da oposição para definir o candidato com os líderes, mas já conversamos com todo mundo. O bloco está reunido para conversar com todo mundo. Eu sei que o grupo já conversou com Léo Prates e Paulo Câmara, mas não sei mais detalhes porque estava viajando por conta de um evento de discussão do transporte nacional. Assim, a gente vai avaliar as propostas para ver qual é a melhor proposta e candidatura, quem vai apresentar a melhor proposta para a Câmara de Vereadores.

.ba – O que a população pode esperar do vereador eleito Hélio Ferreira na Câmara?

HF – Primeiro, eu queria agradecer a cada um dos 8.419 votos. Meu desafio é defender projetos para a cidade de Salvador que beneficiem a todos. Uma das coisas que eu pretendo discutir é a mobilidade, é o transporte. A gente precisa construir um transporte com mais fluidez, com melhor qualidade, e um transporte de inserção das pessoas. Acreditem, existem inúmeras pessoas que estão excluídas do transporte de massa em Salvador. Estamos realizando estudos para inserir estas pessoas. Este é o nosso desafio com a cidade, com as políticas públicas que beneficiem toda a população da capital, incentivar o esporte, a cultura, a arte, o lazer, tudo que envolve o trabalho do vereador.

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