Pioneira no combate à tuberculose, Fundação José Silveira completa 80 anos
Salvador é a quarta cidade do país na incidência da doença, com mais de dois mil novos casos por ano; bactérias super-resistentes preocupam
Vanguardista no combate à tuberculose na Bahia, a Fundação José Silveira completa nesta segunda-feira (6) 80 anos de existência. Para celebrar as conquistas das últimas oito décadas, a instituição organizou uma cerimônia com a presença de autoridades da saúde baiana. Apesar do árduo trabalho da instituição, Salvador ainda figura entre as cidades com alto índice de contágio, cenário que se repete no Brasil e no mundo. A tuberculose é responsável pela infecção de 10 milhões de pessoas por ano, das quais 1,8 milhão morrem pela falta ou abandono do tratamento, que dura seis meses com uso de antibióticos fortes que não são atualizados há anos.
O enfrentamento ao abandono do tratamento é um dos principais desafios que o sistema de saúde tem que enfrentar, alerta Afrânio Kritski, presidente da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (Rede TB) e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O Brasil está abaixo da meta de cura determinada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 85%, e só consegue curar 72% dos pacientes. O índice de abandono do tratamento, porém, é de 14%, quando deveria ser no máximo de 5%”, enumera. Ainda conforme o especialista, o dado provoca uma situação grave, que só faz ampliar o número de mortes, devido à “proliferação de pacientes com bacilos de Koch resistentes e super-resistentes às drogas existentes”.
A doença está intimamente ligada à pobreza e às más condições sanitárias e de acesso à saúde. Não por coincidência é uma patologia que afeta apenas países pobres e emergentes. Com alta densidade demográfica e dificuldades em garantir pleno acesso à saúde da população mais pobre, a capital baiana é um cinturão de tuberculose e registra mais dois mil casos por ano, a quarta colocada no ranking brasileiro.
Lugar certo – O atendimento fornecido pela Fundação José Silveira é um referencial de qualidade para os pacientes e para os institutos de pesquisa. Foi lá que o motorista aposentado Jorge Lins Gonçalves dos Santos, de 60 anos, achou a cura. “Depois de paciência para completar o tratamento, me alimentando bem e sem cigarro, consegui me livrar da tuberculose no Ibit [Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose]”, relatou. Seu Jorge diz que não sabe como pegou a doença, mas conhece algumas pessoas do seu bairro, Cosme de Farias, que já enfrentaram o problema, um caso na família, inclusive. “Tenho um enteado que teve a doença antes e também está curado hoje”, completou.
No Ibit os pacientes não recebem apenas os antibióticos que combatem o bacilo, mas também recebem orientações sobre prevenção e a importância de não interromper o tratamento no meio, além de uma cesta básica mensal para auxiliar a alimentação, fundamental para o êxito da terapia. O sucesso do instituto, que foi criado pelo infectologista José Silveira, se deve justamente ao cuidado integral dos pacientes. “Acolhemos 10% dos infectados em Salvador e a nossa taxa de cura é de 88% e a de abandono de apenas 3%. Isso porque entendemos que a recuperação depende de uma melhoria do contexto social e não apenas de remédios”, disse ao bahia.ba, o coordenador científico do Ibit, João Carlos Coelho Filho.
Ainda com problemas para combater a incidência de novos registros, que gira em torno de 1,5 ao ano, os gestores de saúde pública prometem soluções de médio e longo prazo. Presente na coletiva de imprensa, o secretário estadual (Sesab), Fábio Villas Boas, não soube dizer qual é a taxa de cura dos que se tratam pela rede pública baiana, que recebe cinco mil novos doentes por ano, mas disse que o Estado corre atrás de melhorias e que “em breve” vai reformar o Hospital Octavio Mangabeira, que deve se transformar em um centro de tratamento para doenças respiratórias. Já o titular municipal (SMS), José Antônio Rodrigues Alves, reconheceu as deficiências na rede de Salvador, que demorou para conseguir preparar toda a equipe no atendimento aos doentes, mas que vai adotar formas mais rápidas de detecção da enfermidade.
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