Publicado em 30/10/2025 às 15h15.

Tubarão completa 50 anos: relembre como clássico do terror revolucionou o cinema

O filme de Steven Spielberg, sendo relançado nos cinemas a partir desta quinta-feira (30), criou a era de blockbusters em 1975

João Lucas Dantas
Pôster oficial de Tubarão

 

O clássico filme Tubarão (Jaws), de Steven Spielberg, completa 50 anos em 2025, com toda a pompa e circunstância, com um grande circuito de relançamento nos cinemas brasileiros, a partir desta quinta-feira (30), nas vésperas da noite de Halloween, que acontece nesta sexta-feira (31).

O marco do cinema de horror foi escrito por Peter Benchley e Carl Gottlieb, adaptado do livro homônimo do próprio Benchley, lançado em 1974. Em uma produção da Universal Pictures, à época, custou a bagatela de cerca de US$ 9 milhões, um valor modesto para o impacto cultural tremendo que viria a ter nas cinco décadas seguintes.

Bastidores e Curiosidades

Tubarão foi um dos primeiros longas filmados em alto-mar, o que gerou grandes dificuldades técnicas. A primeira, e mais comentada dos bastidores da produção, foram os tubarões-animatrônicos construídos para o filme, que apresentaram problemas constantes de mau funcionamento, forçando Spielberg a sugerir mais do que mostrar a criatura.

O tubarão-animatrônico apelidado de “Bruce” foi criado pelo cenógrafo Joe Alves e construído pelo especialista em efeitos Bob Mattey. O diretor batizou o monstro assim em homenagem ao seu advogado (Bruce Ramer). Se tratava de uma estrutura metálica com sistema hidráulico e mecânico complexo, mas sofreu com a corrosão da água salgada e outros defeitos.

Dessa forma, passou a aparecer bem menos no filme, o que causou um efeito de constante tensão e surpresa, para que, quando finalmente fosse revelado, surgisse no grande clímax ao fim do longa.

Spielberg optou por reduzir a aparição explícita do tubarão, usando o ponto de vista da vítima e cortinas de água para sugeri-lo, acompanhado do tema musical minimalista de John Williams. Esse estilo, reminiscente do suspense herdado do cinema de Alfred Hitchcock, intensificou o terror.

 

Spielberg na boca de “Bruce”
Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Veleiros indesejados apareciam constantemente no enquadramento das cenas. O barco Orca, que também foi um grande personagem da imaginação fértil de Spielberg, chegou a afundar parcialmente com os atores a bordo e câmeras foram encharcadas pelas ondas.

O cronograma, que inicialmente previa 55 dias de filmagens, acabou-se estendendo para mais de 150 dias de gravações. O elenco principal, Roy Scheider (interpretando Martin Brody), Robert Shaw (Quint) e Richard Dreyfuss (Matt Hooper), viveram intensamente a “maratona” no mar, como confessou Dreyfuss: “Começamos o filme sem roteiro, sem elenco e sem tubarão”.

Apesar dos problemas, o filme recuperou seus custos rapidamente com o sucesso nas bilheterias.

Um improviso durante uma cena viria a marcar o cinema para sempre. A frase “You’re gonna need a bigger boat” (no Brasil, “Vai precisar de um barco maior”) foi dita por Roy Scheider em cena, mas nasceu como piada nos bastidores.

Os técnicos reclamavam com os produtores do tamanho apertado de um barco auxiliar, dizendo “Nós vamos precisar de um barco maior” sempre que algo dava errado. Scheider gostou da frase e a colocou no diálogo, criando um dos bordões mais famosos do cinema.

A edição também fez história. A montadora Verna Fields inseriu gritos dos personagens numa tomada para aumentar o suspense (ajustando falas após testes de platéia). No final das filmagens, Spielberg – por superstição – não estava presente quando gravou-se a explosão final do Orca, prática que ele viria a repetir em outros filmes.

Trilha Sonora

A trilha sonora de Tubarão é um capítulo à parte. Composta por John Williams, se tornou icônica. Ele criou um motivo simples de duas notas alternadas (“mi” e “fá”) para evocar o aproximar do tubarão. Esse ostinato hipnótico simboliza o perigo iminente e é repetido nos ataques do monstro.

Spielberg disse que, sem a partitura de Williams, o filme não funcionaria tão bem. O impacto foi imediato. Williams venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora no ano seguinte, além de ganhar o Grammy, o BAFTA e o Globo de Ouro na mesma categoria.

Hoje, o tema principal é considerado um clássico do suspense. Como disse Spielberg, a música é “mais aterrorizante que o próprio tubarão”, capturando o medo visceral do público.

 

Cena do filme

 

Lançamento e Sucesso de Bilheteria

Tubarão estreou em 20 de junho de 1975 nos Estados Unidos, com lançamento internacional subsequente (no Brasil chegou em 25 de dezembro de 1975). A Universal lançou o filme em mais de 450 salas, uma distribuição extraordinariamente ampla para a época.

No fim de semana de estreia, quebrou recordes ao arrecadar US$ 7 milhões em apenas 409 cinemas. Em dez dias somou US$ 21 milhões e, em 59 dias, ultrapassou a marca de US$ 100 milhões nos EUA – feito inédito até então. Em 78 dias ultrapassou O Poderoso Chefão como maior bilheteria da América do Norte.

O filme ficou 14 semanas consecutivas em primeiro lugar nas bilheterias dos EUA. No total de todos os lançamentos chegou a cerca de US$ 476 milhões mundialmente (considerando os relançamentos), inaugurando de vez a era dos blockbusters, os grandes filmes de verão que arrecadam grande bilheteria. Manteve-se no topo até ser ultrapassado por Star Wars dois anos depois.

A recepção da crítica na época foi em sua maioria favorável. O crítico Roger Ebert deu 4 estrelas, chamando-o de “um filme de ação sensacionalmente eficaz” e comparando-o favoravelmente a O Exorcista pela capacidade de assustar sem recorrer a violência gráfica.

A revista Variety elogiou a direção habilidosa de Spielberg e a performance de Robert Shaw como Quint, definindo-o como “absolutamente magnífica”. Pauline Kael, do The New Yorker, chamou Tubarão de “o filme de terror mais alegremente perverso já feito”. Em síntese, o suspense bem construído e o carisma do elenco garantiram aclamação crítica imediata.

 

Grande fila para assistir Tubarão nos cinemas, em 1975

 

 Impacto Cultural e Legado

Tubarão é considerado um divisor de águas na indústria cinematográfica. Graças a ele, Hollywood passou a reservar o verão (antes considerado época fraca) para lançamentos de peso.

O modelo de negócio, premissas simples, efeitos espetaculares e divulgação massiva na TV, tornou-se padrão. Spielberg, até então um jovem promissor da TV, viu sua carreira decolar. O filme o transformou em um dos principais diretores de Hollywood, abrindo caminho para sucessos subsequentes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau.

Cinco décadas após sua estreia, Tubarão é reconhecido como clássico absoluto do cinema de suspense. Em 2001 foi selecionado para preservação pelo National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos EUA, por ser “cultural, histórica ou esteticamente significativo”.

O filme aparece em diversas listas de melhores filmes de terror/suspense e suas técnicas de direção e edição são estudadas em escolas de cinema. A popularidade do tema musical de John Williams se mantém forte em trilhas e memes, e as frases e cenas do filme são frequentemente homenageadas em outras obras.

Para comemorar os 50 anos, ocorreram eventos especiais em 2025, além dos relançamentos nos cinemas e na TV, documentários como “Jaws 50: The Definitive Inside Story” ressuscitaram entrevistas inéditas de Spielberg e especialistas, ressaltando a influência contínua da obra.

Em 1976, Tubarão venceu três Oscars: Melhor Edição (Verna Fields), Melhor Som e Melhor Trilha Sonora Original (John Williams). Foi indicado a Melhor Filme (perdendo para Um Estranho no Ninho) e Spielberg ficou ressentido por não ter sido indicado em direção.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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