Publicado em 27/03/2020 às 10h11.

‘Duas Tribos’ em tempos de Covid-19

Artigo de Jeffiton Ramos

Redação
Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

 

E eis que o COVID-19 chega ao Brasil.

E como não bastasse os estragos ocasionados por este vírus no campo da saúde pública e na vida de inúmeras famílias, assistimos atônitos os embates políticos que dizem respeito às ações adotadas por este ou aquele governante, quer seja em nível federal, estadual ou municipal.

No centro das discussões, por que não dizer em evidente contramão as diretrizes já adotadas por governadores, prefeitos, secretários de Saúde e até mesmo (pelo menos durante um período curto) do próprio ministro da Saúde, Luiz Mandetta, temos as manifestações do presidente Jair Messias Bolsonaro.

Entre uma “gripezinha” e um “resfriadinho”, insere o excelentíssimo senhor presidente da República, na dinâmica das discussões sobre o COVID-19, a tese de que os efeitos do remédio poderiam ser piores do que a própria doença. Referia-se, pois, em franca crítica, ao suposto exagero do isolamento social horizontal (com determinação de fechamento de toda atividade comercial não essencial) adotado pelos governadores dos estados (reproduzidos por prefeitos municipais) atingidos pelo flagelo da pandemia. Defende o chefe maior do Executivo o isolamento social vertical, onde somente os grupos de risco deveriam ficar em isolamento, devendo o resto da população manter sua rotina diária.

Quem está certo ou quem está errado nessa discussão somente o tempo e os seus resultados irão dizer.

Não é nosso objetivo aqui tomar partido nesse embate, objetivamos, noutra vertente, chamar à atenção para um movimento que, em tempos outros, poderia até não significar absolutamente nada. Contudo, hoje, onde temos uma Presidência da República com quantidade de integrantes das Forças Armadas nunca vista em tempos de pós-ditadura, não seria demais um olhar mais cauteloso e com reservas a esses ditos movimentos.

Alie-se a esse dito olhar cauteloso, e com reservas, o fato de estar sendo publicamente questionado, até mesmo por aliados históricos, a capacidade de liderança do presidente Jair Bolsonaro, ao ponto de alas políticas ideologicamente divergentes, em uma coincidência não premeditada, falarem em impeachment.

Assim, o aparente estado de isolamento e fragilidade política em que se encontra o presidente da República justificaria uma manobra mais estratégica, como a que aqui se anuncia, e que se reflete na movimentação de nada mais nada menos do que 30 generais em seu governo (DOU 26.03.2020 – pag.1, seção 2).

Fato atípico ou mera rotina administrativa, um busca de proteção na caserna, são temáticas que certamente ficarão a cargo das conclusões individuais de cada leitor, o qual menos ou mais apaixonado pela dita “arte da guerra” concluirá por sua própria teoria.

Dessas conclusões, ensaio a minha, a qual traduzida nas palavras de Tancredo Neves, filio-me ao entendimento de “as manhãs de liberdade se fazem com a vigília corajosa dos homens que exorcizam com sua fé os fantasmas da tirania”.

Que fiquemos vigilantes então.

Jeffiton Ramos é mestre em direito público, advogado publicista e consultor jurídico.

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