Publicado em 29/12/2015 às 21h36.

Diretora da ONU lamenta pouca participação política das mulheres no Brasil

Phumzile lamentou que o Brasil, apesar de ter uma mulher na presidência, tenha poucas mulheres nos espaços políticos

Agência Brasil

O aumento da participação das mulheres nos espaços de decisão política podem acelerar a redução da desigualdade entre homens e mulheres, defendeu a subsecretária Geral das Nações Unidas e diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka.

Criada em 2010, a organização é o “braço” da Organização das Nações Unidas (ONU) para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Phumzile participou do programa Espaço Público, que vai ao ar nesta terça-feira (29), às 23h na TV Brasil, e, ao ser questionada sobre a presença e mulheres como chefes de Estado na América Latina, lamentou que, dos cerca de 200 países que existem atualmente, somente 20 mulheres ocupem as funções de chefes de Estado e governo. “Precisamos de mais mulheres chefes de Estado, dentro e fora da América Latina”, disse.

Ao defender mais espaço para a mulher na política, Phumzile disse que a sociedade precisa mudar para reverter a situação de desigualdade enfrentada pelas mulheres. “O que se exige do líder de um país? Honestidade, integridade, amor ao seu povo e dedicação ao serviço. Esses atributos são tão fortes na mulher quanto no homem. O homem não tem o monopólio desses atributos” disse. “Não digo que todos os homens são maus e todas as mulheres são boas [no poder], mas como tivemos poucas mulheres no governo ainda não descobrimos a força da mulher”.

Mulher votar em mulher
Phumzile  lamentou que o Brasil, apesar de ter uma mulher na presidência, tenha poucas mulheres nos espaços políticos. Segundo Phumzile, a América Latina tem cinco dos dez países que mais se aproximam da igualdade de representação entre homens e mulheres nos espaços de poder. “O Brasil não é um deles. Ele é um dos quatro países no final da lista, que tem cerca de 10% de representatividade feminina [na política]. É ainda menor que a média global de 22%”, lamentou. “A brasileira tem que ir a urna e votar em mulheres”.

A diretora-executiva da ONU Mulheres destacou que somente com o esforço conjunto de líderes políticos e da sociedade vai ser possível alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas, prevista nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que substituem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, vigentes até o fim deste ano.

Avanços
Segundo Phumzile, nos últimos 20 anos houve uma série de avanços, em decorrência dos acordos multilaterais que contribuíram para a redução da desigualdade entre homens e mulheres. “Na África, a educação das meninas muda a qualidade de vida delas, reduz casos de HIV e melhora a saúde das mães”, disse.

No caso do Brasil, ela destacou que as ações para diminuir a pobreza, com programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, focados nas mulheres, tiveram um impacto positivo no empoderamento das mulheres. “Sabemos que se a mulher tiver oportunidades e empoderamento econômico ela poderá se afastar de homens e parceiros abusivos”.

Filhos
Phumzile disse que a desigualdade de gênero, com a divisão desproporcional de tarefas entre homens e mulheres, como a responsabilidade de ter que ficar em casa para cuidar dos filhos, é um dos principais obstáculos para a independência econômica feminina e tem que ser combatido. “A maternidade as confina em casa e não as deixa sair para fazer o que podem enquanto cidadãs.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) usa o termo “maternidade penalizada” para definir a desigualdade entre homens e mulheres e a perda de oportunidades em razão da não divisão dessas tarefas. “Na plenitude da vida, em países de renda média, mulheres perdem de 30% a 70% da renda só porque tiveram filhos, seja só por oportunidades que não podem aproveitar, seja por baixa remuneração”, argumentou.

Segundo a diretora da ONU Mulheres, os governos devem promover ações voltadas para aumentar a participação dos homens nos cuidados com os filhos, especialmente a licença paternidade, além de trabalhar pela redução na diferença de renda entre homens e mulheres. Na média global as mulheres ganham 24% menos.

“Quem é homem nasce com privilégios e quando se fala contra a inclusão das mulheres, vê-se que o privilégio não está claro para quem tem… você não entende, porque não passou por isso” disse. “Por isso tentamos colocar todos no lugar das mulheres, para que vejam como é estar do outro lado”.

A ativista defendeu também o direto das mulheres de decidir sobre o seu corpo e se posicionou favorável à legalização do aborto. “Os governos e a sociedade devem oferecer um ambiente saudável e seguro para que as mulheres tomem essa decisão. Se os governos não fornecerem as leis certas e o ambiente certo vai acontecer de qualquer forma”, disse.

Primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da África do Sul de 2005 a 2008, Phumzile, também integrou o parlamento de seu país e foi vice-ministra do Departamento de Comércio e Indústria (1996-1999) no governo de Nelson Mandela, que, segundo ela, foi um grande defensor do empoderamento das mulheres, agindo durante o seu governo para efetivar políticas nesse sentido.

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