Publicado em 11/06/2016 às 13h00.

Povo se despede de Muhammad Ali como ele desejava

O tricampeão dos pesos pesados, ativista político e líder negro e islâmico foi sepultado em sua cidade natal

Rebeca Bastos
Foto: Reprodução BBC
Foto: Reprodução BBC

 

Milhares de pessoas aguardaram até três horas nas calçadas, passarelas e guardrails das avenidas de Louisville para jogar uma rosa no carro fúnebre de Muhammad Ali. Encostar a mão na traseira do veículo preto, tirar uma foto, socar o ar como o punho fechado ou só para gritar “Ali”. O tricampeão dos pesos pesados, ativista político e líder negro e islâmico se despediu de sua cidade natal e do mundo do jeito que queria, como um campeão do povo.

O cortejo formado por 21 limusines, com familiares, amigos e convidados, demorou cerca de duas horas para percorrer os lugares mais importantes da vida do pugilista que morreu na última sexta-feira por causa de complicações respiratórias decorrentes do Mal de Parkinson. Amparados por cadeiras de praia, garrafas de água e guarda-sóis, brancos, negros, ricos e pobres não reclamaram. Os organizadores e a prefeitura não arriscaram previsão de público e disseram apenas que eram milhares e milhares.

O momento mais emocionante foi a passagem pela Grand Avenue, 3302, endereço onde Ali morou na infância e que agora se tornou museu. Os moradores quase fecharam a rua estreita (apesar do nome) e a polícia teve de escoltar o caixão. Foi a única hora de tensão em todo o trajeto. Não houve incidentes.

Parte da histeria coletiva deveu-se também às celebridades da comitiva. O ator Will Smith, os campeões mundiais de boxe Lennox Lewis, George Foreman e Mike Tyson, alguns dos responsáveis por carregar o caixão de Ali, foram alvos de inúmeros flashes.

Brancos e negros celebraram o ídolo lado a lado, mas o local está longe de ser uma democracia racial. Há segregação, cada um no seu lado do bairro. O desafio da igualdade ainda está para ser superado.

A cremação no cemitério Cave Hill, destino final do trajeto, foi uma cerimônia particular, sem a presença da imprensa. A história, no entanto, já estava escrita. Um cartaz de um morador da periferia, que se identificou apenas como Darryl, resumiu a importância do ídolo: “Ali, você é meu alimento”.

A estatura de Ali pode ser medida na lista de presença do memorial service, evento formal de elogios sem a presença do homenageado e que aconteceu ontem à tarde após a cremação. Entre as 15 mil pessoas no KFC Kum Center estavam o ator Arnold Schwarzenegger e ex-presidente Bill Clinton, um dos oradores. O presidente da Turquia Tayyp Erdogan teria se sentido ofendido por não ter colocado sobre o caixão uma peça com versos do Alcorão, de acordo com a imprensa turca. Por isso, não foi à cerimônia. “Ele amava o povo, e o povo o amava”, discursou a viúva Lonnie Ali.

O evento, planejado pelo próprio boxeador, foi marcado pela diversidade cultural e étnica, com a presença de líderes diversos. Em um discurso tão aplaudido quanto o de Lonnie, o rabino Michael Lerner disse que a melhor maneira de homenagear Ali é agir como Ali.

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